Pesquisa: Unesp de Bauru constata que o município tem 25 espécies de bambu

'Planta dos mil usos' é utilizada para produzir alimentos, utensílios, artesanato, papel, corda, entre outros itens

sex, 11/04/2003 - 11h45 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da Unesp

Originário do final do Cretáceo, um pouco antes do início da era Terciária, quando surgiu o homem, o bambu é conhecido como a ‘planta dos mil usos’, pois propicia a produção de alimentos, abrigo, calor, armas, utensílios domésticos, ferramentas agrícolas, artesanato, papel, tecido, cordas, jangadas e uma infinidade de itens. Ele também esteve presente na cúpula do imponente Taj Mahal, construído no século XVII, na Índia; no primeiro filamento utilizado em uma lâmpada por Thomas Edson, no século XIX; e na construção dos primeiros aviões por Santos Dumont, já no início do século XX.

‘Material ecológico leve, resistente, versátil e com excelentes características físicas, químicas e mecânicas, é utilizado em reflorestamentos e pode até substituir a madeira ou mesmo plástico e metais’, informa o coordenador do Projeto Bambu, Marco Antonio dos Reis Pereira, docente do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia (FE) da UNESP, campus de Bauru.

Desenvolvido desde 1992, no Laboratório de Processamento de Madeira da FE, o projeto conta com uma coleção de 25 espécies de bambu, 12 delas prioritárias, segundo classificação do International Network for Bamboo and Rattan (INBAR). ‘Elas são cultivadas e utilizadas para pesquisas na área de irrigação e laminados’, informa Pereira.

O primeiro trabalho desenvolvido foi a utilização do bambu como condutor de água para irrigação de baixa pressão. ‘Devido aos baixos custos envolvidos, é uma alternativa para os pequenos produtores rurais, que normalmente não têm acesso à tecnologia de irrigação’, conta o docente da FE. ‘Mesmo sem tratamento de preservação, a tubulação enterrada de bambus tem uma vida útil de um ano a um ano e meio. Em seguida, apodrecem, mas podem ser substituídos, numa operação fácil e rápida, por outros tubos de bambu.’

Conhecido como ‘madeira dos pobres’, na Índia, e ‘irmão’, no Vietnã, o bambu tem a China como seu maior produtor mundial, que possui área plantada da ordem de sete milhões de hectares e o utiliza em aplicações industriais como broto comestível, celulose e papel, material para engenharia, construção, química, móveis, produtos à base de bambu processado e laminado colado. ‘Por isso ele é chamado pelos chineses de ‘amigo das pessoas’, conta Pereira.

Embora seja mais utilizado na Ásia, países latino-americanos como Colômbia, Chile, Equador e Peru também têm o bambu como elemento constante de sua cultura. ‘Entre nós, apesar de conhecido e relativamente comum, ele é pouco utilizado’, aponta o docente. ‘Isso ocorre pelo desconhecimento de suas milhares de espécies, características e aplicações e pela falta de pesquisas e informações especiais.’

No Brasil, infelizmente, o uso do bambu ainda se limita à produção de papel e a aplicações tradicionais como artesanato, vara de pescar, móveis e o broto comestível. ‘Atualmente, o Projeto Bambu acompanha o desenvolvimento das espécies cultivadas no campus e desenvolve pesquisas na área de processamento e produtos à base de Bambu Laminado Colado (BLC), como pisos, painéis e cabos de ferramentas, utilizando, para isto, matéria-prima advinda de plantio próprio’, conclui Pereira.

Mais informações podem ser encontradas no site: www.unesp.br

V.C.