Pesquisa: Tecnologia desenvolvida na USP aperfeiçoa e barateia materiais de construção

Injeção de fibras vegetais reforçam estrutura de telhas e caixas d'água

qui, 08/01/2004 - 13h42 | Do Portal do Governo

Telhas e caixas d’água produzidas com resíduos de fibras vegetais. Esses são os primeiros materiais já presentes no mercado brasileiro e que utilizam a tecnologia do fibrocimento, desenvolvida desde 2001 no Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) de Pirassununga, em parceria com o Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica, ambos da USP.

Os estudos, que vêm sendo coordenados pelo professor da FZEA, Holmer Savastano Júnior, visam oferecer soluções alternativas aos materiais de construção produzidos com amianto, produto suspeito de ser cancerígeno, e também oferecer às populações de baixa renda materiais com preços acessíveis.

São usadas fibras vegetais de madeiras, como pinho e eucalipto, e de não-madeiras, como sisal, bananeira e coco, empregadas principalmente no reforço dos materiais cimentícios. ‘As fibras são ideais para isso, principalmente nas chamadas primeiras idades, em que esses materiais estão mais sujeitos a quebras’, explica Holmer, para quem o fato de vivermos em um país tropical ajuda na abundância da matéria-prima.

Outros tipos de biomassa também estão sendo estudados para futuro uso como substitutos do cimento Portland convencional, como a escória de alto-forno e cinzas de casca de arroz e de bagaço de cana-de-açúcar.

O bom desempenho do fibrocimento superou um problema verificado nos primeiros testes. Com o passar do tempo, observou-se que as fibras vegetais passam a sofrer ataque da própria matriz de cimento (meio alcalino) em presença de água, fazendo com que o material fosse perdendo a sua capacidade de reforço gradativamente. Para isso, foi feita uma combinação de fibras vegetais com fibras plásticas, que se mostrou ‘muito interessante’, nas palavras do pesquisador. Holmer explica que o reforço das fibras representou uma melhoria significativa do desempenho mecânico e da durabilidade destes materiais. ‘As telhas suportam melhor cargas dinâmicas, como uma chuva de granizo, por exemplo’, explica.

Produto versátil

Duas empresas, a Imbralit, de Criciúma (SC) e a Permatex / Infibra, de Leme (SP), se interessaram pelo projeto e firmaram uma parceria com a FZEA e a Poli. Desde então vêm desenvolvendo e adaptando uma tecnologia européia de produção de telhas onduladas sem amianto. ‘A tarefa é complexa, porque não é somente mudar o equipamento, e sim toda a infra-estrutura da fábrica’, diz. Embora os novos produtos sejam em média 20% mais caros que os similares já existentes, a idéia é de que a otimização do material para os usos já existentes (telhas e caixas d’água) e sua melhor adaptação ao mercado e ao clima, resulte no conseqüente barateamento dos preços ao consumidor final.

Ainda segundo Holmer, o trabalho com as firmas também exige respostas em curto prazo. ‘A empresa se preocupa em expandir o material para outros produtos, que dê certo e se solidifique no mercado’. O professor crê que isso seja questão de tempo, já que o fibrocimento tem se mostrado um produto extremamente versátil, com diferenciado número de aplicações. ‘Com o tempo, a intenção é utilizar as formulações sem amianto em outros tipos de componentes construtivos, como divisórias, painéis, forros e pisos.’

Por Francisco Angelo, da Agência USP de Notícias

C.C.