Pesquisa: Qualidade de vida de mulheres, negros e pobres é mais comprometida pelo HIV/Aids

Pesquisa foi apresentada à Faculdade de Sáude Pública da USP

ter, 03/02/2004 - 21h13 | Do Portal do Governo

Mulheres com HIV/aids têm pior qualidade de vida quando comparadas aos homens. É o que revela uma pesquisa apresentada à Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP pela professora de Educação Física Elisabete Morandi dos Santos. ‘Possivelmente a mulher sofra mais por ser dependente economicamente e por vincular-se mais ao lar’, acredita a pesquisadora. ‘Nesse contexto, a aids pode ser mais um fator que age contra sua qualidade de vida. ‘

Segundo Elisabete, a doença também interfere no desejo de ter filhos, o que seria mais próprio da mulher. Outros fatores de ordem afetiva acabam pesando, como poder sentir raiva e decepção pela contaminação por um parceiro em quem confiava e, por outro lado, o temor de revelar a ele o diagnóstico.

Negros e pobres com HIV/aids também apresentam piores índices de qualidade de vida. ‘Para estas pessoas em geral, as desvantagens persistem’, garante a pesquisadora.

O estudo foi baseado em entrevistas e prontuários de 365 pacientes tratados na Casa da Aids, órgão ligado ao Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP. A instituição, segundo a pesquisadora, dá o mesmo acesso aos remédios e tratamento a todos os pacientes, independentemente da renda, por exemplo. ‘De todo modo, os resultados sugerem que deveria ser dada maior atenção para os grupos apontados, na tentativa de atenuar as diferenças encontradas’, aponta a pesquisadora.

Resultados por item analisado
No aspecto meio ambiente, mulheres, negros, pardos, pessoas de menor escolaridade e as de menor renda tiveram piores pontuações. ‘Isso significa que estão mais insatisfeitos em relação ao ambiente do lar, poluição, ruído, clima, lazer e segurança, entre outros’, conta a professora.

Ainda segundo ela, há estigmas e preconceitos envolvidos com o HIV/aids, que ligam a doença com drogas e homossexualismo. ‘Essas seriam algumas razões que fariam pessoas sofrerem mais fortemente por sentimentos negativos, baixa auto-estima e menor satisfação em relação à imagem corporal.’ Este último fator seria mais sentido pelas mulheres, devido a alterações na distribuição da gordura corporal causadas por certos medicamentos. Além das mulheres, estes chamados aspectos psicológicos afetam mais as pessoas de menor renda.

Os mais pobres também tiveram piores resultados no domínio físico, o que indica piores capacidades funcionais, como de realizar as atividades diárias, dores e sintomas da doença, dependência de medicamentos, entre outros. ‘O fato é que, com a progressão da doença, a pessoa acaba sendo prejudicada na vida financeira, quando diminui a capacidade para a realização das atividades diárias, incluindo a energia para o trabalho’, conta.

Aspectos funcionais

Segundo Elisabete, muitas pesquisas têm sido feitas sobre portadores de HIV/aids, mas elas só levam em consideração aspectos relativos à própria doença, o que seria injusto.

‘Novos tratamentos surgidos em 1996 já tornaram essas pessoas melhores e mais capazes, diminuindo infecções oportunistas e mortes.’ Desse modo, a pesquisadora diz inovar na temática de seu estudo, que abrangeria como um todo a vida do portador de HIV/aids.

Mais informações: (011) 6518-5868 ou e-mail morandi@usp.br.

Maurício Kanno da Agência USP de Notícias
C.A.