Pesquisa: Percepção do amargo e do ácido em crianças varia com idade e sexo

Estudo testou a sensibilidade de 376 crianças

qui, 01/09/2005 - 14h12 | Do Portal do Governo

A probabilidade de uma criança entre 7 e 10 anos perceber o gosto amargo é de 0,4 vezes menor que nos quatro anos anteriores. Neste intervalo, a sensibilidade ao ácido aumenta em até seis vezes. ‘Se ela for menina, a possibilidade de percepção ao estímulo cresce em 1,8 vezes’, afirma a nutricionista Hellen Daniela de Souza Coelho.

A pesquisadora conta que, no caso das crianças com alto Índice de Massa Corpórea (IMC), não foi detectada nenhuma variação de sensibilidade, assim como para os paladares doce e salgado.

Uma das aplicações das informações obtidas por esta pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, segundo Hellen, deve ser no desenvolvimento de remédios voltados a esta faixa etária. ‘Algumas formulações deixam um gosto residual na boca das crianças que as incomoda. Por exemplo, um remédio um pouco amargo pode ser aceito por um escolar, mas provavelmente não por um pré-escolar.’ Além disso, muitos produtos alimentares poderão levar em conta dados como estes. ‘É um mercado muito grande. É importante reconhecer que não podemos agrupar todas as crianças. A idade e o sexo delas interferem no paladar, e possivelmente em seus hábitos alimentares’

Pesquisa

Cada um dos testes foi realizado com três copos de água. Num copo grande e em um dos médios, a água utilizada era pura. No terceiro copo, também médio, a água continha um pouco de sacarose, sal, ácido cítrico ou cafeína. A criança precisava então descobrir em qual deles estava a mistura, que tinha sua concentração aumentada a cada uma das seis repetições. ‘A idéia era saber qual a menor quantidade para ela perceber a solução.’

O estudo, que teve a orientação da professora Maria Elisabeth Machado Pinto e Silva, testou a sensibilidade de 376 crianças, entre escolares e pré, e pode ser considerado o maior já realizado no Brasil com esta temática. ‘A maior parte dos estudos desta natureza são realizadas com adultos’, conta Hellen. A pesquisadora revela que os próximos passos serão no sentido de descobrir o quanto esta sensibilidade interfere nas preferências alimentares das crianças.

Glub-glubs

Como todo tipo de estudo com crianças tem suas peculiaridades, neste caso Hellen Daniela precisou inventar uma história para convencê-las a ajudar. No distante País dos Glubs não havia mais sabor e por isso foi feita uma missão à Saborlândia, para resgatar os quatros paladares básicos. Na volta, a nave dos glub-glubs sofre um acidente por causa da chuva e os sabores todos ficam misturados com a água. E só as crianças conseguirão ajudar os cientistas a separá-los.

A odisséia dos viajantes inclusive foi composta na forma de um gibi, que eram levados em painéis para ajudar na persuasão das crianças. De maneira didática a história também explica o que são os sabores, associando-os com alguns alimentos. Inclusive há a intenção de publicar o gibi educativo.

André Benevides / Agência USP