Pesquisa: Paulistano só deixa de usar carro mediante pressões econômicas

Consciência ambiental não é suficiente para modificar o comportamento dos usuários em São Paulo

seg, 05/04/2004 - 13h36 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Simone Harnik

Um estudo revelou que os usuários de automóvel da capital paulista têm dificuldades para mudar seus comportamentos e só deixariam de usar o veículo se sofressem pressões econômicas, como pedágio urbano ou multas. Além disso, 58,5% das pessoas que circulam sozinhas em seus carros não se consideram responsáveis pela poluição do ar da cidade. Apenas 29% dos entrevistados assumiram que o veículo individual causa problemas ambientais, e 12,5% não se posicionaram.

A pesquisa, desenvolvida no Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica (Poli) da USP com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), avaliou o comportamento de 176 usuários de carros da cidade de São Paulo, principalmente empregados e estudantes universitários maiores de 18 anos. O objetivo era identificar quais são os fatores comportamentais dos usuários de automóveis que ajudariam na elaboração de políticas públicas que reduzam a demanda por transporte individual.

O pesquisador Luis Alberto Noriega Vera chegou à conclusão de que o usuário de automóvel avalia que o transporte coletivo não serve para suas necessidades. ‘Dificilmente, as pessoas que andam de carro abririam mão do veículo, pois elas acreditam ter mais conforto e rapidez, mesmo que isso implique em demora para chegar ao destino por causa dos congestionamentos diários. A alternativa seria um meio de transporte que estivesse entre o carro e o metrô’, comenta.

Estratégias

Os entrevistados também expuseram na pesquisa suas estratégias para driblar congestionamentos. A mais comum é aquela que o mantém no automóvel com ar condicionado e rádio, procurando conforto e não necessariamente economia de tempo na viagem. Apenas como segunda alternativa foi cogitada a hipótese de uso do metrô e, em terceiro lugar, foi mencionada a possibilidade de alterar os horários de saída de casa para o trabalho ou escola.

Noriega verificou ainda que a consciência ambiental dos entrevistados, em geral, não se aplica para a questão do transporte e, por isso, não é suficiente para provocar a mudança de comportamento.

‘É preciso criar políticas mais abrangentes e não tão pontuais como o rodízio de veículos. As pessoas tendem a desrespeitar políticas que restrinjam a sua liberdade. Também não bastam campanhas educativas isoladas para resolver a questão. Tudo indica que as pessoas mudam seu comportamento no curto prazo quando são adotadas medidas de caráter econômico, como as multas ou o pedágio urbano. O dinheiro captado poderia ser usado para criar alternativas de transporte mais atrativas para o usuário de automóvel. Esse tipo de políticas, em conjunto com campanhas educativas, possibilitariam a mudança de comportamento no médio ou longo prazos’, conclui.

Mais informações podem ser encontradas no site www.usp.br/agen

V.C.