Depois da tuberculose no século XIX, o centenário seguinte e provavelmente os anos futuros já têm o seu ‘mal-do-século’. Há mais de 50 anos os problemas do sistema circulatório são a principal causa de morte do ser humano. Esse fato poderia ser justificado pelo aumento considerável da expectativa de vida da população no período, mas o que se observa é que esse problema tem afetado cada vez mais adultos de até 50 anos.
Essa mudança no quadro clínico da sociedade reflete as transformações causadas pela sua própria evolução. O mundo moderno tornou o homem mais sedentário, popularizou o stress, mudou hábitos alimentares. Entretanto, o maior inimigo do coração é o cigarro, que aumenta em cinco vezes as chances de um infarto, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Depois do tabaco vêm, na ordem, os altos índices de colesterol, o diabetes e a hipertensão.
Segundo o cardiologista Roberto Rocha Giraldez, do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da USP, dentre as doenças do sistema circulatório, o maior dos males é o infarto, na maioria das vezes causado pelo tabagismo. ‘O infarto é um problema de saúde pública. Perspectivas mostram que, mesmo com um grande avanço na medicina e no tratamento de outras doenças, ele vai manter seu posto por pelo menos 20 anos. Não apenas como causa de morte, mas também como fator debilitante’, alerta. ‘Se a pessoa tem um infarto aos 40 anos e tem que fazer um transplante, vai precisar ser internada com freqüência, não pode trabalhar direito, não pode ter uma vida saudável com a família’, completa.
O que falta à medicina, para Giraldez, é entender melhor o processo de formação das doenças coronárias e as razões de sua manifestação. ‘Na verdade, doenças do coração são parte do envelhecimento, como cabelo branco. Indivíduos que apresentam fatores de risco, como fumantes e obesos, antecipam o seu aparecimento em 20, 30 anos; é como se acelerassem o processo de envelhecimento vascular. A doença é inevitável, mas você pode fazer ela aparecer mais tarde e de uma forma mais benigna. O indivíduo que se cuida adia o aparecimento da doença e ainda a torna menos maligna’.
Para o médico do Incor, a maior dificuldade no combate às doenças do sistema circulatório é o enraizamento de hábitos nocivos, como dietas desequilibradas e o cigarro. ‘É muito difícil impôr de repente uma mudança de hábito. Essas mudanças implicam restrições a costumes, e acabam reduzindo a expectativa de resultados. No dia em que eu conseguir fazer uma dieta saudável tão boa quanto uma dieta não-saudável, vai ficar tudo mais fácil. E nosso principal desafio é fazer as pessoas deixarem de fumar’, conclui.
Da Agência de Notícias da USP
C.A.