Pesquisa: Livro registra peixes desconhecidos da costa sudeste e sul do Brasil

Obra inédita, que teve pesquisa realizada longe da costa, em águas profundas, inventaria as espécies

seg, 17/03/2003 - 17h55 | Do Portal do Governo

Pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo detectaram 185 espécies de peixes pequenos, alguns minúsculos, nos seis cruzeiros que fizeram pela costa brasileira. O resultado do trabalho está no livro, Peixes da Zona Economicamente Exclusiva da Região Sudeste-Sul do Brasil, co-publicado pela Edusp e Imprensa Oficial do Estado.

Os professores José Lima de Figueiredo, Andressa Pinter dos Santos, Noriyoshi Yamaguti, Roberto Ávila Bernardes e Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski iniciaram as pesquisas em 1996, a bordo do navio Atlântico Sul, da Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Valor inédito

‘O objetivo do trabalho foi fazer inventário das espécies que habitam a área da Zona Economicamente Exclusiva, conhecer a abundância dos tipos e como variam no espaço e no tempo’, ressalta Roberto Ávila Bernardes.

A obra tem valor inédito. Nunca foi realizada pesquisa tão longe da costa em águas brasileiras tão profundas.
‘É um estudo superoriginal e único. Seu grande valor é que as informações estão sendo passadas por meio de registros, que nunca teve antes. O limite máximo era de até 200 metros de profundidade. Neste trabalho temos espécies encontradas a até 1,5 mil metros de profundidade. O livro mostra coisas ainda desconhecidas e futuramente vai ajudar quem trabalhar com algumas espécies e auxiliar na identificação dos peixes’, diz Roberto.

Seis cruzeiros

Os pesquisadores ficaram 220 dias no mar, cobrindo aproximadamente 15 mil milhas náuticas. A área abrangida pela pesquisa vai da região do Arroio Chuí ao Cabo de São Tomé. Inicialmente, foram realizados três cruzeiros e coletados peixes com equipamentos em profundidades de 100 m a 1,5 mil metros. O material recolhido foi armazenado para análise em laboratório.

As três viagens que se seguiram foram para locais selecionados. ‘Estávamos procurando espécies de profundidade e os cruzeiros tinham outro objetivo desenvolvido em parceria com o Departamento de Pesca e Agricultura. Escolhemos áreas onde haviam sido detectadas anteriormente concentrações de peixes de fundo. Coletamos nesses locais, também incluídos na grande região Sudeste/Sul’, lembra Roberto.

Espécies mais encontradas

Os dois tipos mais abundantes encontrados nas três primeiras viagens, que englobou toda a área de estudo, foram Maurolicus stehmanni, correspondente a 25,2% da captura, e Trichiurus lepturus, 10,4%. As espécies estavam distribuídas ao longo da área de estudo, presentes em aproximadamente 50% dos lances efetuados.
Nos três cruzeiros seguintes, em que pesquisaram da costa de Santa Catarina até o Rio Grande do Sul, as mais abundantes foram Diaphus dumerilli, 27,8% e Lepidophanes guentheri, 19,3%. Para capturar os peixes, utilizaram redes de meia-água, equipamento de pesca para espécies entre superfície e fundo. O professor Roberto diz que são aquelas que vivem associadas e nadam na coluna da água. A rede possibilita a captura dos peixes que estão longe do fundo. ‘Tem algumas bóias que permitem que a rede flutue na profundidade que a gente deseja.’

Algumas qualidades encontradas são próprias para consumo humano. Mas a maioria tem importância ecológica porque serve de alimentos a peixes maiores como atuns, mecas e outros de fundo, como cherne, batata e namorado.

Além de parte integrante do livro, as espécies estão depositadas no Museu de Zoologia, do Museu Paulista, da USP, registradas e disponíveis para quem quiser estudar e trabalhar com peixes.