Pesquisa: Ipen produzirá sementes de iodo 125

Material radioativo é utilizado no tratamento do câncer de próstata

sex, 13/09/2002 - 12h12 | Do Portal do Governo

Cientistas do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) da Universidade de São Paulo (USP) estão construindo os equipamentos do primeiro laboratório do hemisfério Sul produtor de sementes de iodo 125 – material radioativo utilizado no tratamento do câncer de próstata.

As instalações básicas já foram concluídas. O objetivo é fornecer, em escala comercial e com tecnologia nacional, oito mil unidades às clínicas e hospitais de todo o País. A demanda atual é de três mil. O financiamento do projeto, de um milhão de reais, ficou por conta da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O preço de cada semente hoje é de US$ 36. Numa cirurgia, são utilizadas de 80 a 120 unidades. ‘Estimamos que em dois anos o laboratório deva estar implementado e produzindo cada semente a US$ 20, pelo menos’, conta a chefe do Laboratório de Produção de Fontes Radioativas para uso em Radioterapia e da Divisão de Projetos do Centro das Tecnologias das Radiações, ambos do Ipen. Maria Elisa Rostelato. Ela ainda explica que atualmente apenas multinacionais detêm a tecnologia. ‘Mas agora será produzida dentro de um instituto que não visa lucros.’

Em 1998, a classe médica propôs ao Ipen que desenvolvesse um similar nacional. Em abril de 2000, o primeiro protótipo era lançado. O País se tornava o terceiro do mundo a ter a semente. Antes, apenas EUA e Inglaterra possuíam a técnica. Atualmente, somente oito companhias no mundo têm a tecnologia.

As inovações brasileiras foram duas: a adsorção do iodo na prata e a metodologia de soldagem da cápsula. A semente tem uma capa de titânio, com um núcleo de prata onde é colocado o iodo 125. Em seguida, a cápsula é soldada nas duas pontas. Ela mede 0,8 mm de diâmetro e 4,5 mm de cumprimento. ‘É menor do que um grão de arroz’, compara Maria Elisa.

O tratamento médico que se vale das unidades de iodo é a braquiterapia. Trata-se de um método diferente da radioterapia porque, ou é feita no local do tumor, ou próximo dele. O implante é feito com o auxílio de agulhas específicas, na região entre o reto e o escroto. ‘Elas ficam definitivamente no organismo humano, mas a radiação emitida pelo iodo 125 dura cerca de dez meses’, explica a cientista do Ipen. Segunda ela, 48 horas após a cirurgia o paciente já desenvolve suas atividades normalmente.

A equipe responsável pelo laboratório é formada por cinco profissionais. Maria Elisa acredita que esse número irá dobrar quando o laboratório estiver em pleno funcionamento. Futuramente, ela espera também patentear a versão brasileira.

Marcelo Gutierres
Da Agência USP