Pesquisa: Genes de tumores medem efeitos das células do câncer de pulmão

Durante a pesquisa, foram medidas por processos imunohistoquímicos as concentrações de quatro proteínas associadas a oncogênse e a difusão do câncer d

qua, 19/11/2003 - 19h49 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa da Faculdade de Medicina (FM) da USP com pacientes que extraíram tumores primários do pulmão mediu a concentração de quatro proteínas (p53, AgNOR, MMP 9 e CD 34) usadas como marcadores gênicos da origem das células cancerígenas (oncogênse) e sua difusão pelo corpo humano. O uso dos marcadores para indicar a agressividade e a capacidade de expansão dos tumores poderá antecipar a previsão da ocorrência de metástases (cânceres em estado avançado) e aperfeiçoar o tratamento do câncer de pulmão.

O médico Hélio Minamoto, orientado pelos professores Fábio Biscelgi Jatene e Vera Capelozzi, acompanhou a evolução de 80 pacientes submetidos a cirurgias de extração de tumores em estágio inicial do pulmão, operados em hospitais de São Paulo, Mogi das Cruzes e Marília, entre 1988 e 2001. Dos pacientes operados, 63 apresentaram metástases durante o acompanhamento pós-operatório. Em 31 dos pacientes com metátases foi detectado câncer fora do pulmão.

Minamoto explica que o câncer de pulmão, associado ao uso do cigarro, apresenta elevadas taxas de incidência e mortalidade, o que reforça a necessidade de um diagnóstico mais preciso da doença. ‘Para aumentar a sobrevida do paciente após a extração de tumores primários, seria preciso aperfeiçoar os métodos de previsão da ocorrência de metátases’, afirma.

Diagnóstico

Durante a pesquisa, foram medidas por processos imunohistoquímicos as concentrações de quatro proteínas associadas a oncogênse e a difusão do câncer de pulmão. Duas delas, a p53 e a AgNOR, são conhecidas como ‘marcadores nucleares’ por medirem a agressividade do núcleo da célula tumoral no organsimo. Os outros marcadores indicam a capacidade de as células cancerígenas sobreviverem em tecidos normais (‘extra-celulares’): a MMP 9, gelatinase que mede a penetração nos tecidos e a CD 34, que aponta capacidade do tumor de produzir vasos para trazer nutrientes.

O médico explica que os pacientes que apresentaram metástases tinham elevados níveis das quatro proteínas usadas como marcadores. ‘Se a medição fosse feita antes da operação seria possível dizer que os pacientes com níveis mais elevados têm maiores chances de apresentar metástases mais agressivas’, diz Hélio Minamoto. O pesquisador relata que apesar do nível dos marcadores ‘extra-celulares’ nas células da metástase ser baixo, um processo de seleção natural asseguraria a sobrevivência das células mais agressivas, aumentando sua capacidade de desenvolvimento em tecidos fora do pulmão operado.

Segundo o Minamoto, a classificação dos tumores a partir da obervação por microscopia ótica (estadiamento) não consegue diagnosticar a metástase em seu início. ‘Em muitos casos, tumores semelhantes tem comportamentos biológicos diferentes, o que muda a sobrevida estimada dos pacientes’, observa. De acordo com o médico, a tendência é o uso de vários marcadores para diagnosticar o câncer de pulmão (atualmente são conhecidos cerca de 30), numa técnica conhecida como painel de marcadores.

O pesquisador afirma que as pesquisas sobre os marcadores gênicos deverão levar no futuro ao desenvolvimento de medicamentos que inibam a produção das proteínas associadas à origem e à disseminação do câncer de pulmão. ‘Um paciente cujos tumores apresentem grande capacidade de multiplicação de células cancerígenas poderia tomar remédios antiangiogênicos, que seriam capazes de impedir o crescimento do tumor’, explica MInamoto. ‘Para evitar o aparecimento de metástases no resto do corpo após a extração de tumores, seria possível o uso de antigelatinases como tratamento pós-operatório’, calcula o médico.

Mais informações: (011) 3069-7145, com Hélio Minamoto

Júlio Bernardes – Agência USP