Pesquisa: Fapesp e Central Bela Vista lançam Projeto Genoma Funcional do Boi

Estudo visa o desenvolvimento de produtos e tecnologias para aumentar a produção bovina

qua, 07/05/2003 - 14h30 | Do Portal do Governo

São Paulo está iniciando estudos para o aumento da produção e da qualidade bovina brasileira. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em parceria com a Central Bela Vista Genética Bovina, lançou, nesta quarta-feira, dia 7, o projeto Genoma Funcional do Boi. O objetivo é identificar genes para o desenvolvimento de produtos e tecnologias voltados ao aumento da produção bovina, a melhoria da qualidade da carne, a eficiência reprodutiva dos animais e a resistência do rebanho. O projeto está inserido no Programa Parceria para Inovação Tecnológica (Pite).

Os estudos serão realizados com animais da raça Nelore, a mais importante da bovinocultura brasileira. Cerca de 80% do rebanho nacional é composto por Nelore ou cruzamentos com animais da raça.

“Estamos dando um passo promissor. Embora São Paulo não tenha o maior rebanho do País, é responsável por dois terços das exportações, ou seja, a carne passa por aqui para ser processada”, afirmou o governador Geraldo Alckmin, durante a cerimônia.

O projeto deverá consumir R$ 1 milhão, valor que será custeado 50% pela Fapesp e 50% pela Central Bela Vista. O prazo previsto para a conclusão dos estudos é de 18 meses. O Genoma Funcional do Boi será coordenado pelo professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Luiz Lehmann Coutinho.

A primeira etapa do projeto prevê o seqüenciamento dos genes de tecidos da hipófise e do hipotálamo, e dos sistemas reprodutivo, imunológico e digestivo, além de tecidos musculares adiposos (gordura) para a produção de 100 mil seqüências expressas. Nessa fase, que deverá ser realizada em seis ou sete meses, serão formadas bibliotecas de clones dos genes.

Ao mesmo tempo, serão desenvolvidos projetos de garimpo dos genes que serão objeto do estudo (datamining) e expressão gênica para a identificação de genes envolvidos em funções específicas, relacionadas a características de interesse econômico. Esse estudo deverá permitir a criação de tecnologias e acelerar pedidos de patentes.

Uma das principais características do Genoma Funcional do Boi é a capacidade de transformar conhecimento científico em novos negócios. “Em 18 meses teremos informações suficientes para pedidos de patentes para a geração de produtos para a melhoria da qualidade e aumento da produção bovina”, afirmou o coordenador do projeto, Luiz Lehmann Coutinho.

A cadeia produtiva da carne bovina, incluindo insumos, produção animal, indústria, comércio e serviços, é responsável por cerca de 7 milhões de empregos no País. Estima-se que aproximadamente 2 milhões de fazendas dediquem-se à bovinocultura de corte e que o rebanho nacional conte com 170 milhões de cabeças de boi. É o maior rebanho comercial do mundo.

Atualmente, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de exportação mundial de carne bovina, atrás apenas da Austrália e dos Estados Unidos. O produto nacional ganhou prestígio fora do País como alimento natural e saudável, dada a criação dos animais em pasto.

Desde a crise da ‘vaca louca’ na Europa e na Ásia, em 1999, as vendas brasileiras para o mercado externo subiram de 291 mil toneladas para 635 mil toneladas. A tendência é que as vendas aumentem ainda mais, já que a produção nacional conta com custos baixos e preços competitivos.

Este ano, o País deverá abater cerca de 35,5 milhões de cabeças e produzir 7,4 milhões de toneladas de carne. O consumo interno per capta de carne bovina previsto para este ano é de 36,2 quilos. “O Brasil deverá, este ano, ultrapassar a Austrália e os Estados Unidos e passará a ser o maior exportador de carne. O rigor do mercado internacional é com as certificações. São Paulo está se antecipando em áreas onde a certificação ainda não é exigida”, explicou o secretário estadual da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, João Carlos de Souza Meirelles.

Fapesp iniciou pesquisa genômica em 1997

A pesquisa genômica no Brasil começou em 1997, quando a Fapesp organizou a ONSA, Instituto Virtual de Genômica, formado inicialmente por 30 laboratórios ligados a instituições de pesquisa do Estado de São Paulo.

De acordo com o diretor científico da Fapesp, José Fernando Perez, em cinco anos de atividade genômicas em São Paulo, foram concluídos os projetos do seqüenciamento genético do Xylella fastidiosa (bactéria que causadora da chamada ‘praga do amarelinho’, que ataca os laranjais paulistas); da Cana-de-Açúcar; Humano do Câncer (identificou 1 milhão de seqüências de genes de tumores mais freqüentes no Brasil); do Xanthomonas (comparou o genoma que causa o cancro cítrico com o da Xanthomonas campestri, que ataca outros vegetais); e do Schistosoma mansoni (causador da esquistossomose). Estão em estudos os Genôma Clínico (estudos iniciais com tumores de cérebro, cólon, cabeça e pescoço); do Eucalipto; da Leifsonia xyli (que ataca a cana-de-açúcar); e da Xylella da Uva. “A geração de competência está permitindo hoje que a biotecnologia vire negócio”, afirmou Perez.

Cíntia Cury