Pesquisa: Faculdade de Odontologia de Bauru testa creme dental antimicrobiano

Substância química usada em bochechos pode ser inserida em cremes dentais

ter, 22/11/2005 - 15h00 | Do Portal do Governo

A clorexidina, substância antimicrobiana utilizada no Brasil principalmente na forma de solução aquosa para bochechos, pode vir a ser usada em cremes dentais para o tratamento de gengivite (infecção das gengivas), sangramento gengival e controle de placa dentária. Os testes estão sendo realizados na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP. Segundo a dentista Priscila Bardal, esse tipo de dentifrício terapêutico já existe nos EUA e na Europa.

Durante três meses, a pesquisadora realizou um estudo clínico com 83 pacientes, de 13 a 32 anos, sob tratamento ortodôntico. Eles foram divididos em três grupos que usaram diferentes cremes dentais, na mesma quantidade, realizando o mesmo número de escovações diariamente, todos com orientação sobre higiene bucal.

O grupo A usou um pasta dental comercialmente disponível; o grupo B, um dentifrício experimental com flúor e clorexidina 0,95% (digluconato de clorexidina); e o grupo C utilizou um creme experimental com clorexidina 0,95%. Os dentrifícios experimentais foram desenvolvidos por uma empresa catarinense com exclusividade para a pesquisa.

O que se percebeu, segundo Priscila, foi uma diminuição de 71,58% de gengivite no grupo que usou o dentifrício com clorexidina, contra 60,36% do grupo B e 44,71% do grupo A. Outra vantagem: 85,32% no grupo C tiveram diminuição de sangramento da gengiva, um pouco a mais que os 79,21% do grupo que usava uma associação de clorexidina e flúor, e 63,53% no grupo A.

Tanto em relação à gengivite como ao sangramento gengival, os grupos B e C apresentaram reduções estatisticamente maiores do que a notada entre as pessoas que utilizavam o creme comercial. Quanto à redução de placa, não houve grande diferença de resultados ao final do experimento: 36,69% do grupo A, 46,38% do grupo B e 41,46% do C. No entanto, na sexta semana de estudo, os grupos B e C apresentaram diminuições no índice de placa maiores que o grupo controle.

Os experimentos, que fazem parte da dissertação de mestrado de Piscila, comprovam que ‘o uso terapêutico de dentifrícios com clorexidina (adicionados ou não de flúor) pode ser visto como uma forma simples e eficaz de administração do agente químico às pessoas com dificuldades na manutenção de uma higiene bucal satisfatória, como os pacientes ortodônticos’. No entanto, ela ressalta que seu uso não deve ser rotineiro, mas com indicação do dentista e por tempo determinado. ‘A cloredixina pode favorecer o aparecimento de manchas (externas e reversíveis) nos dentes’, alerta.

Priscila explica que a escolha por pessoas que usavam aparelho ortodôntico deveu-se ao fato de estarem mais propensas a desenvolver complicações bucais, ‘apresentarem fatores indicativos de maior risco ao desenvolvimento de cárie e sangramento gengival, pois os próprios aparelhos retém mais placa’. Ela lembra que apenas a orientação sobre a maneira correta de se fazer higienização bucal já surtiu uma melhora no quadro de gengivite, na redução de placa dentária e no sangramento gengival dos pacientes que continuaram utilizando dentifrício comercial.

Novo creme dental

Mas se já existem outros produtos à base de clorexidina, por que introduzi-la nos cremes dentais? A dentista diz que seria mais prático e eficaz, visto que a escovação é o hábito de higienização mais rotineiro. Outra explicação é que as instruções de uso desses outros produtos são sempre muito minuciosas, podendo confundir o paciente. ‘Como a clorexidina perde o efeito se entrar em contato com os detergentes e outros compostos usados nas pastas comerciais, o uso para bochecho, por exemplo, deve ser feito 30 minutos depois da escovação’, comenta. Em função dessas reações químicas, Priscila diz que toda a formulação da pasta com clorexidina seria diferente.

A pasta, que seria de uso terapêutico, entre R$8,00 e R$10,00, devendo ser usada por, no máximo, seis semanas (comprovado na pesquisa como o ápice da atuação do composto). Priscila enfatiza que substâncias químicas são coadjuvantes. O principal para uma boa saúde bucal são os cuidados, os hábitos e a disciplina.

Renata Moraes – da Agência USP

J.C.