Pesquisa: Estudo da USP associa evolução das aves às transformações do planeta

Os pesquisadores avaliaram as populações de aves por meio do grau de variação das características genéticas de cada espécie

seg, 14/10/2002 - 19h23 | Do Portal do Governo

As aves tipicamente brasileiras começaram a surgir há 76 milhões de anos. Nessa época, quando a separação entre os blocos continentais que formariam a América do Sul, a África, a Austrália e a Antártica estava praticamente concluída, as espécies que antes compartilhavam o mesmo território primitivo isolaram-se.

E então se intensificou o processo de diferenciação que levou, na América do Sul, aos atuais papagaios, periquitos e araras. Além de contar a história das aves brasileiras por meio da análise da molécula de ácido desoxirribonucléico, o DNA, um grupo de biólogos coordenados por Anita Wajntal, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), analisou as possibilidades de sobrevivência das atuais populações de aves, em especial as ameaçadas pelo comércio ilegal e o desmatamento, e indica quais correm realmente risco de extinção.

Para chegar a esses resultados, os pesquisadores avaliaram as populações de aves por meio do grau de variação das características genéticas de cada espécie, a chamada variabilidade genética – quanto mais elevada, maior a chance de manutenção de um grupo, pois maior a capacidade de adaptação às mudanças do ambiente.

Às vezes, uma espécie de distribuição ampla, mas formada por populações de pouca variabilidade genética, pode correr o mesmo risco de extinção que espécies de distribuição mais restrita. É o caso da arara-canindé ( Ara ararauna ), com um índice de similaridade genética tão alto (0,31) quanto o das espécies mais ameaçadas, como a arara-azul ( Anodorhynchus hyacinthinus ).

Esse índice compara o grau de semelhança entre indivíduos de uma mesma espécie e varia de zero (sem similaridade) a um (idênticos). Papagaios, periquitos e araras ameaçados de extinção têm uma taxa de similaridade igual ou superior a 0,25, enquanto as espécies fora de risco ficam abaixo desse valor. ‘Quanto maior a variabilidade genética’, explica Cristina Miyaki, do IB-USP, e colaboradora próxima de Anita, ‘mais aumenta a probabilidade de alguns representantes sobreviverem e passarem as características para as gerações seguintes.’

Uma das espécies que se mostraram mais ameaçadas, com similaridade de 0,27, é o papagaio-da-cara-roxa ( Amazona brasiliensis), da qual restam cerca de 3 mil indivíduos, em trechos litorâneos da Mata Atlântica. Com o papagaio-da-ilha-de-marajó (Amazona ochrocephala xantholaema), a surpresa foi inversa: esperava-se encontrar uma população pequena, com alto índice de similaridade e isolada na ilha. Mas ele também vive no continente, há intercâmbio entre as populações e a similaridade é baixa (0,17).

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