Pesquisa: Diversidade de espécies próprias desfaz preconceito sobre a caatinga

Estudo foi publicado na Revista Pesquisa Fapesp

ter, 11/11/2003 - 17h52 | Do Portal do Governo

Nos anos 1960, Nelson Pereira dos Santos, em ‘Vidas Secas’, e Glauber Rocha, em ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’ apresentaram o sertão nordestino como um ambiente inóspito, seco e quase sem vida, perseguido por um Sol ofuscante. Agora, o mesmo espaço reaparece em ‘Abril Despedaçado’, de Walter Salles, e em ‘Baile Perfumado’, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira. Coincidentemente, emerge também nos domínios da ciência um novo olhar sobre a Caatinga, único ecossistema inteiramente brasileiro – e o menos estudado.

Cenário de intricados processos ecológicos, esse ambiente conhecido como sertão – uma área de 800 mil quilômetros quadrados, correspondente a quase metade dos nove Estados do Nordeste – revela-se muito mais rico em espécies exclusivas de plantas e animais, como peixes, lagartos, aves e mamíferos, do que se imaginava. Nas 800 páginas do livro ‘Ecologia e Conservação da Caatinga’, lançado este mês, um grupo de 35 especialistas do próprio Nordeste e do Sudeste sintetiza os últimos 200 anos de pesquisas, acrescenta as descobertas mais recentes e desfaze de uma vez por todas a noção de que esse ecossistema, onde vivem 20 milhões de pessoas, é homogêneo e desinteressante.

No fundo da lagoa

Como na região mais seca da Caatinga há anos em que chove apenas cerca de 300 milímetros por ano – seis vezes menos que na Mata Atlântica ou na Amazônia -, as plantas e animais adaptaram-se de modo a sobreviver com o mínimo de água, sem por isso perder em beleza ou diversidade. As plantas têm folhas pequenas e cascas grossas, que reduzem a perda de água. Nos exemplos extremos, cactos como o mandacaru ( Cereus jamacaru ) e o xique-xique ( Pilosocereus gounellei ) vivem com folhas reduzidas a espinhos. Entre os peixes, pelo menos 25 das 240 espécies identificadas conseguem adiar o nascimento à espera das chuvas: passam a maior parte do tempo na forma de ovos, que só eclodem quando as águas chegam, em algum momento entre fevereiro e maio. Esses peixes – chamados anuais – têm de 5 a 15 centímetros de comprimento e vivem em lagoas ou poças d’água de até 1 metro de diâmetro, que secam durante a estiagem.Mas há tempo para criar uma nova geração.

Coordenado pelos ecólogos Inara Leal e Marcelo Tabarelli, ambos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e pelo ornitólogo José Maria Cardoso da Silva, professor licenciado da UFPE e vice-presidente da Conservation International (CI) do Brasil, o Ecologia e Conservação da Caatinga contou com apoio financeiro do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), da própria CI, da The Nature Conservancy do Brasil e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Verônica Falcão, do Recife – Fapesp

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