Pesquisa: Construção de presídios não aumenta a criminalidade no Interior do Estado

Estudo foi feito por pesquisadores da Unesp

ter, 02/03/2004 - 12h12 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unesp


Grande parte da população do interior do Estado alimenta a idéia de que a instalação de presídios nos municípios colabora para o aumento dos índices de criminalidade. No entanto, estudos demonstram que não existe uma relação direta entre esses dois fatores. Dois pesquisadores da UNESP realizaram trabalhos sobre esse tema e ambos concluíram que só o preconceito pode explicar essa visão.

O psicólogo Luiz Carlos Rocha, do Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), campus de Assis, realizou um trabalho a fim de verificar se existe relação entre o crescimento da violência naquela cidade e a construção do presídio. Coordenador da pesquisa, Rocha conta que houve muita resistência por parte da comunidade na época em que o presídio foi construído. ‘As pessoas tinham medo de que isso fizesse aumentar a violência, mas como um presídio traria mais crimes para a cidade?’, indaga.

Segundo Rocha, no imaginário dos moradores as visitas aos detentos seriam responsáveis pelos acontecimentos violentos na cidade. ‘Eles acreditam que os visitantes colaboram com os presos’, explica Rocha. Um perfil dos visitantes e dos suspeitos de crimes registrados em boletins de ocorrência foi realizado, com base em dados da imprensa local, sobre os índices criminais antes e depois da construção do presídio.

Para o pesquisador, não foi encontrado nenhum dado que justificasse a relação entre o aumento da violência e a construção da penitenciária. ‘Os perfis levantados, por exemplo, são totalmente diferentes, ou seja, enquanto os suspeitos são em sua maioria homens adultos, os visitantes são mulheres adultas e crianças’, explica o docente.

Outra pesquisa sobre o mesmo tema obteve resultados semelhantes. A historiadora Eda Góes, do Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da UNESP, campus de Presidente Prudente, vem estudando a questão penitenciária no estado de São Paulo desde 1986. ‘O objetivo geral é verificar o que mudou no Oeste Paulista após a construção de 14 penitenciárias e mostrar a influência da imprensa na opinião pública, sobre a presença dos presídios na região’, explica.

Eda percebeu que nas últimas décadas, tiros, agressões e mortes têm merecido atenção crescente da mídia, adquirindo visibilidade antes inexistente. ‘Quase nada se fala dos presídios no seu dia-a-dia, mas acontecimentos extraordinários, como motins, são enfatizados e explorados até a exaustão e de forma sensacionalista’, relata a docente. ‘Assim se produz a imagem das penitenciárias, que passam a ser representadas como locais violentos e ameaçadores.’

Recentemente a pesquisadora observou uma radicalização da imprensa da região de Presidente Prudente. De acordo com Eda, a imprensa regional insiste em uma suposta relação entre a presença de presídios e o aumento da criminalidade, mas sem nunca apresentar dados estatísticos que a comprovem, mesmo quando cita como fonte a polícia. ‘Exceto o preconceito, nada explica essa relação que a população faz entre presídio e violência’, conclui.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unesp.br

V.C.