Pediatria: Pesquisa da USP aponta melhora nos índices de aleitamento com profissional especializado

Estudo foi feito com 101 crianças

qua, 02/07/2003 - 10h52 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP

Por Lucas Telles

Os índices de aleitamento materno podem ser sensivelmente melhorados quando o médico pediatra tem uma boa formação em amamentação, indica uma tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. No estudo, foram analisados os fatores que influenciam na manutenção do aleitamento materno nos primeiros quatro meses de vida.

O trabalho foi desenvolvido pelo médico Luciano Borges Santiago com um total de 101 crianças atendidas no Hospital Escola da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, em Uberaba (MG). Os recém nascidos foram divididos aleatoriamente em três grupos distintos. O primeiro grupo foi acompanhado por uma equipe com assistente social, psicólogo, enfermeiro, odontólogo e um pediatra treinado em aleitamento. O segundo contava apenas com o pediatra, também com formação específica, e as outras crianças foram acompanhadas por um pediatra sem treinamento especial.

Até o quarto mês, os índices de aleitamento exclusivo obtidos nos dois grupos com pediatras treinados foram semelhantes e se mostraram superiores aos do terceiro grupo. ‘A participação da equipe multiprofissional é mais importante em outras questões, principalmente quando as crianças têm algum problema de saúde. Quanto à amamentação, o médico pode responder por todo o trabalho, quando as crianças nascem saudáveis’, diz Santiago. Segundo o pesquisador, o pediatra é o profissional mais ouvido pelas mães, porque é quem examina, receita e tem o maior envolvimento com os atendidos.

‘Existem muitos fatores que influenciam no aleitamento e na manutenção dele. Entre os que tiveram significado estatístico, encontramos a escolaridade da mãe, que se reflete positivamente, e o uso da chupeta, que geralmente é um sinal de que há dificuldades para o aleitamento materno exclusivo’, diz o médico Luciano Borges Santiago. ‘Mas vemos que o acompanhamento de um pediatra bem formado é insubstituível, tão útil quanto toda uma equipe de saúde, em relação à amamentação.’

Presença fundamental

A tese indica a necessidade da presença de pediatras no Programa de Saúde da Família, com formação mais profunda e continuada em aleitamento. ‘Nos últimos 20 anos, conseguimos alguns avanços nesta questão, mas as campanhas atingiram principalmente os outros profissionais de saúde, estimularam a criação de bancos de leite e instruíram as próprias mães, através da televisão. Pretendemos fazer um alerta, para o governo e para os pediatras, que em geral têm pouco conhecimento de amamentação.’

A Organização Mundial de Saúde recomenda que as crianças sejam alimentadas exclusivamente com o leite materno até o sexto mês de vida, diretamente do seio da mãe. ‘Muitos estudos indicam que estes bebês têm mais saúde e melhor desenvolvimento. O leite materno é nutricionalmente completo, tem a melhor digestibilidade e é o único com os anticorpos e outras células que as crianças precisam’, diz Santiago. No Brasil, apenas 18% dos lactentes chegam aos quatro meses se alimentando nestas condições. O estudo ainda indica que equipes de saúde de universidades e de bancos de leite poderiam dar formação a grupos de pediatras a custo quase zero.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen/
V.C.