Padaria Artesanal muda a vida dos moradores da periferia paulistana

Programa do Fundo Social de Solidariedade, que gera emprego e renda, está sendo ampliado para 400 escolas da rede estadual

seg, 29/09/2003 - 11h45 | Do Portal do Governo

Programa do Fundo Social de Solidariedade, que gera emprego e renda, está sendo ampliado para 400 escolas da rede estadual

Uma oportunidade. É isso que muitos moradores da periferia da Capital aguardam durante anos na expectativa de uma vida melhor. Na Brasilândia, Zona Oeste da Capital, a realidade não é diferente. Moradora do bairro desde 1999, a empregada doméstica Maria José de Andrade, 42, conta que ela e o marido estavam desempregados há dois anos e quase desiludidos, quando surgiu uma chance de dar a volta por cima.

O casal se inscreveu, em fevereiro de 2002, em um treinamento para padeiro, que estava sendo oferecido pela Creche Imaculada Coração de Maria, credenciada pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado (Fussesp). Era a esperada oportunidade. O curso durou duas semanas e, poucos dias depois, Maria José e o marido comercializavam pães de vários sabores pela região. “Estávamos sem condições de sobreviver e eu pedia todo dia a Deus por uma oportunidade”, conta Maria José.

O comércio foi crescendo. Na medida em que as vendas aumentaram, a recém comerciante aprendeu a fazer salgadinhos e diversificou a produção. Hoje, ela vende 140 coxinhas, quibes ou empadinhas por dia, além de trabalhar com encomendas de pães. “Eu faço os alimentos e meu marido sai pelas ruas com um isopor batendo de casa em casa”, disse. Segundo ela, já há uma clientela fixa. “Ele começa a andar às 16 horas e até às 20 horas já acabou tudo”, comemora.

Maria José explica que com a nova profissão sua família está recuperando o respeito. “Hoje em dia, pessoas desempregadas não têm o menor valor. Eu, meu marido e meus dois filhos não conseguíamos mais entrar em nenhum lugar para comprar, porque todos sabiam que não tínhamos dinheiro para pagar. Agora, recuperamos a dignidade e o respeito da vizinhança”, observa.

O novo trabalho deu tão certo, que o casal adquiriu recentemente um carrinho para vender espetos de churrasco. A renda deles foi subindo e atualmente é de aproximadamente R$ 800 ao mês. “É bem maior do que quando eu trabalhava de empregada doméstica”, compara.

Três mil padarias no Estado

Assim como mudou a vida da família de Maria José, no bairro da Brasilândia, as padarias artesanais estão melhorando o dia a dia de muitas pessoas em todo o Estado de São Paulo. Atualmente, há três mil unidades já implantadas no Estado. Na Capital, as padarias são instaladas nas sedes das entidades cadastradas no Fussesp. Já no Interior, o convênio é firmado com os Fundos Sociais Municipais.

No Fussesp, as presidentes de entidades passam por um curso de um mês para aprender a fazer os pães e as técnicas de comercialização. Depois de concluírem o treinamento, elas ficam comprometidas em repassar o conhecimento e recebem um diploma que lhes habilitam a orientar outras pessoas. Além do curso, o Fussesp repassa às entidades e aos municípios um “kit padaria”, que conta com um forno, uma batedeira, um liqüidificador, um botijão de gás, quatro assadeiras e farinha.

A presidente da creche Imaculada Coração de Maria, Maria de Lourdes dos Santos Silva, conhecida como Lourdes pelos moradores da Brasilândia, já capacitou 400 pessoas. Proprietária da creche há 18 anos, ela disse que as padarias artesanais estão resgatando a importância das entidades sociais. “Eu precisava do pão para alimentar as 360 crianças da creche e, ao mesmo tempo, tive a oportunidade de retribuir este conhecimento e melhorar a vida de quem estava sem emprego”, analisa.

Lourdes explica que o bairro da Brasilândia é cercado por oito favelas e quase todas as famílias possuem renda muito pequena. Neste cenário, ela destaca o baixo custo na produção de pão. “Cada quilo de farinha faz cerca de 30 filões de pães e cada filão alimenta até seis pessoas. É muito barato, pois utilizamos apenas farinha, sal, ovo e fermento”, enumerou. A creche serve os pães para as crianças e funcionários todas as terças, quitas e sextas-feiras.

Movimento tenta instalar padarias nas favelas

Todo mundo come pão. A conclusão é do educador Eduardo Santos, 32, que é coordenador do Movimento em Defesa do Favelado (MDF) – uma entidade não governamental que dá aulas de formação, cidadania e cursos de qualificação profissional. Santos participou do treinamento para padeiros, oferecido pelo Fussesp, e se tornou um entusiasta do Programa. Ele acredita que a padaria artesanal é fundamental para melhorar a vida dos menos favorecidos, pois além de ter custo baixo, é de fácil aprendizagem e atinge a todos os públicos.

Sua luta atual é levar os fornos para dentro das favelas. “São nestes locais que estão as pessoas mais excluídas da sociedade. E a maioria está lá porque perdeu o emprego”, disse. O coordenador explica que está buscando parcerias com ONGs e iniciativa privada para levar o projeto às favelas. “Precisamos de espaços adequados e de um selo, que reconheça a qualidade dos pães”, afirma.

Padarias nas escolas

A partir do mês de agosto deste ano as padarias artesanais começaram a ser implantadas em 400 escolas da rede estadual, tanto na Capital como no Interior. As escolas estão sendo abertas nos fins de semana para que os pais dos alunos e toda a comunidade possam utilizá-las como centros de cultura, lazer, esporte e qualificação profissional.

Os interessados podem se inscrever para fazer os cursos de padeiros dentro das unidades de ensino. A comerciante da Brasilândia Maria José considera esta uma boa novidade. “Aqui na periferia a criminalidade é alta por falta de opção. Então, é importante abrir as escolas para a realização dessas atividades”, concluiu.

Rogério Vaquero