Nutrição: Educação melhora alimentação de estudantes em Piracicaba

Segundo estudos da USP, 100% das crianças de escolas públicas se alimentam com merenda escolar

qui, 06/11/2003 - 11h04 | Do Portal do Governo

Da Agência de Notícias da USP
Por Maurício Kanno

Mesmo numa época em que a alimentação é regida por ‘fast-foods’, com refrigerantes e hambúrgeres, inclusive nas escolas, em Piracicaba, no interior de São Paulo, a situação está mudando. Lá, praticamente 100% das crianças das escolas públicas, se alimentam com a merenda escolar.

Nas escolas públicas do município, a merenda escolar agora é composta por verduras, frutas, sucos, leite, lanches naturais, além de arroz, feijão, macarrão e carne. Somente 30% dos alunos costumavam se alimentar com a merenda, aqueles que não tinham outra coisa para comer.

‘A sopa, que era servida praticamente sempre, pela facilidade, acabava sendo recusada pelos alunos’, conta a professora Jocelem Mastrodi Salgado, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba. ‘Foi um trabalho árduo de conscientização’.

Ela trabalha voluntariamente há três anos como presidente do Conselho de Alimentação Escolar (CAE) da Prefeitura de Piracicaba. ‘Quero tirar da gaveta o conhecimento da universidade, levando hábitos saudáveis para as crianças’, diz. ‘Saí do laboratório para a cozinha’.

Foram usadas palestras e cartazes, mostrando as conseqüências de uma alimentação inadequada e desequilibrada. A pesquisadora diz: ‘Educação alimentar é a solução para resolver isso; e tem que envolver os pais também, que cuidam da alimentação da criança fora da escola.’

Com um recurso de R$ 0,19 por criança, aumento de R$ 0,04, foi extendida a merenda para os periodos noturnos e até a oitava série – antes era até a quarta. ‘Além de conseguirmos alimentar bem as crianças.’

A desinformação está à mesa

O trabalho do CAE foi amplo, identificando inclusive problemas na infra-estrutura da cozinha e dos refeitórios. ‘Faltavam pratos adequados e cuidar do armazenamento adequado dos alimentos. Havia o hábito de se guardar óleo usado por três dias, nós acabamos com isso’, conta a professora. ‘Faltavam até bancos para se sentar, as crianças tinham que se sentar no chão.’ Foi providenciado tudo o que faltava para a cozinha.

Também seria preciso valorizar as merendeiras, que preparam a comida. Desse modo, foram passadas para elas novas receitas e cursos, para que pudessem melhorar a alimentação das crianças. ‘Muitas não sabiam como preparar alimentos mais saudáveis, enquanto outras não tinham conhecimentos básicos de higiene, como lavar as mãos, cortar as unhas, lavar verduras’, diz Jocelem. Cuidar da saúde das funcionárias também se mostrou vital, uma vez que das 300 que havia, 220 estavam afastadas por licença médica.

‘Enfim, a desinformação está à mesa’, diz a professora. Segundo ela, é preciso conscientizar a todos de que o Estado não terá condições de cuidar de tanta gente depois, se as pessoas não se alimentarem bem agora. ‘E a má alimentação tem dois lados: tanto a falta de informação como a pobreza, mesmo. Até por isso, muitas crianças vão à escola pela merenda.’

O CAE ainda planeja atuar nas escolas particulares, onde as crianças têm condições de comprar lanches. ‘O objetivo é estabelecer um serviço padronizado nas cantinas, envolvendo mudanças no cardápio e educação nutricional através de cartazes que serão afixados em todas as unidades’, resume Jocelem, professora do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq.

Mais informações podem ser obitdas pelo telefone: (0XX19) 3429-4118

V.C.