Campos do Jordão recebe milhares de turistas no mês de julho, época de férias escolares e baixas temperaturas. O Festival Internacional de Música impulsiona ainda mais o comércio e a economia local. A maioria dos jovens da cidade consegue trabalho em hotéis, pousadas, restaurantes e outros serviços oferecidos aos turistas, que chegam de todas as partes do mundo. Mas a movimentação da cidade não é capaz de afastar os 145 alunos matriculados no pólo do Projeto Guri de Campos do Jordão. Com a presença de dezenas de músicos internacionais na cidade parece que a dedicação aumenta ainda mais.
Assim é o pequeno Benedito Leonardo Amaro, 10 anos, que mora numa das regiões mais carentes do município. Os olhos verdes brilham enquanto toca a bateria, orientado pelo professor Quintino Bento.
Benedito freqüenta o Guri há dois anos e não perde uma aula. “Aqui é muito legal, o aprendizado mudou minha vida”, diz. Mas mudou o quê? “Mudou a alegria”, responde o tímido menino. Quintino Bento, que dá aulas de percussão e bateria no Guri há três anos, comemora o sucesso do projeto: “É fantástico! Uma criança como o Benedito, por exemplo, jamais teria acesso a uma bateria”.
Assim também é com os alunos que tocam outros instrumentos, como o violoncelo. Além de ser um projeto de inclusão social que tira os jovens da rua, é um curso profissionalizante. Muitos deles podem trabalhar como músicos”. O professor produz instrumentos musicais de bambu e de outros produtos da natureza para utilizar em suas aulas. Ele acredita que é uma forma de aliar o conhecimento teórico da música com o folclore indígena da região serrana e do Vale do Paraíba.
Profissão: músico – Para o professor de trompete e trombone, Daniel Caetano da Costa, o Guri ajuda no crescimento cultural da cidade, além de proporcionar educação musical para as crianças e adolescentes. “É importante para o desenvolvimento da cultura e da música os alunos saírem daqui com uma profissão. Está sendo um grande projeto que o governo do Estado se empenha para manter, oferecendo oportunidade para que muitos alunos possam aprender”, concorda o professor de saxofone e clarinete, Antônio Carlos Teixeira Braga, há três anos no Guri.
Nadilane Fernanda, 19 anos, estuda clarinete há dois. “Foi bom porque a gente não teria oportunidade e nem condições de pagar aulas de música. Agora eu posso tocar na orquestra e na minha igreja”. Ela e outros 44 alunos participam da Orquestra do Projeto Guri de Campos do Jordão. Além das aulas e ensaios, costumam se apresentar em eventos da cidade. A última exibição foi no Palácio da Boa Vista, no dia 12. O coral, que reúne 30 alunos, também se apresentou na ocasião.
Jackson Luid, 18, pensa mais longe. Estuda saxofone há seis meses e pretende cursar a faculdade de música de Pindamonhangaba. “O projeto faz com que um número maior de pessoas conheçam o meu trabalho.” A orientadora do pólo de Campos, Cláudia Cristina Rodrigues Koike, garante que as crianças só precisam procurar o Guri para começar a assistir às aulas. “O Guri não deixa os jovens na rua. Elevar a auto-estima dos aprendizes com música é uma excelente forma de ajudar”, comemora.
Socializando pela música
Criado pela Secretaria de Estado da Cultura em 1995 para ensinar música para crianças e jovens de 8 a 19 anos, o Projeto Guri é um empreendimento sociocultural que visa à formação de orquestras-escola, corais e grupos musicais. Em junho de 2000 recebeu o Prêmio Multicultural Estadão, na categoria Fomento. Em setembro, participou, com mais 21 países, do Encontro Internacional da Rede Global de Educação para a Paz, na Universidade de Genebra, na Suíça. Há três anos, esteve no Simpósio Internacional Ruídos e Palavras (iniciativa direcionada para adolescentes no contexto urbano), em Nápoles. Representou o Brasil, em 2002, na Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
São 110 pólos dos quais 35 estão na capital e o restante no interior do Estado. Mais de 60 mil crianças e adolescentes foram beneficiadas pelo projeto, que oferece aulas de violino, viola, violoncelo, baixo acústico, violão, cavaquinho, percussão, saxofone, clarinete, flauta, trompete, trombone e canto coral. Agora será inserido em todas as unidades da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem).
A Associação Amigos do Projeto Guri, instituída em 1997, é uma entidade sem fins lucrativos que estabelece a parceria entre o Estado e a iniciativa privada, que pode contribuir técnica e financeiramente para o desenvolvimento do Guri. Colaboradores são favorecidos com a Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, que permite descontar, do imposto de renda a pagar, o valor do incentivo.
Serviço
Mais informações a respeito do Projeto Guri estão na Internet pelo site www.projetoguri.sp.gov.br
