Moradores do Rio de Janeiro e Minas Gerais vêm a São Paulo para aprender a fazer pães

Técnica desenvolvida pelo Fussesp já mudou a vida de centenas de paulistas e desperta interesse em outros Estados

seg, 19/01/2004 - 11h34 | Do Portal do Governo


Técnica desenvolvida pelo Fussesp já mudou a vida de centenas de paulistas e, agora, começa a despertar interesse em outros Estados

Após oferecer uma profissão e mudar a vida de centenas de famílias paulistas, o Programa Padaria Artesanal, desenvolvido pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (Fussesp), começa a despertar o interesse de pessoas de outras partes do Brasil. Grupos de moradores de municípios do Rio de Janeiro e Minas Gerais já estão enfrentando horas de viagem até São Paulo em busca do curso de panificação artesanal. A idéia é adquirir o conhecimento e implantar mini padarias nas suas cidades.

Os primeiros “estrangeiros” a desembarcar por aqui foram indicados por empresas de outros Estados. No caso dos mineiros, o presidente da empresa Siag do Brasil S/A – multinacional italiana, fabricante de cabines para tratores – Hélio Bisconcine Júnior, soube pela imprensa do Programa Padarias Artesanais em São Paulo e se interessou. Entrou em contato com o Fussesp, comprou um Kit Padaria (composto por um forno, batedeira, liqüidificador, botijão de gás, quatro assadeiras e farinha) e doou os equipamentos para o Centro Educativo e Social de Guaranésia (Cesg), em Minas, que atende crianças carentes de 7 a 14 anos.

A Siag do Brasil é parceira do Cesg e o objetivo agora é comprar os pães que forem fabricados na entidade, pois os 300 funcionários da empresa consomem cerca de 600 pães por dia. Ao mesmo tempo, a Siag irá colaborar para que a entidade alimente as crianças, além de capacitar mais pessoas na fabricação de pães. Para o vice-presidente do Cesg, que também acumula o cargo de diretor de recursos humanos da Siag, Paulo Vieira, trata-se de uma atitude de responsabilidade social. “A empresa irá absorver parte da mão-de-obra treinada e oferecerá para o mercado um profissional especializado”, disse.

Já os cariocas vieram do município de Parati enviados pela ONG Instituto Escolar Laranjeiras, que atua na área da Educação. Em parceria com a Prefeitura de Parati, a ONG adquiriu os kits para implantá-los em cinco escolas localizadas na área de proteção ambiental de Cairuçu. De acordo com a diretora da ONG, Raquel Sanches, o Programa irá atender as comunidades de bairros que vivem à base de farinha de trigo e peixe.

Curso prático

Carmem Costa, 38 anos, trabalha como caseira em Parati. No mês de dezembro, ela viajou oito horas de ônibus até São Paulo para participar do curso do Fussesp. No início da manhã, Carmem assistiu às palestras sobre ética, cidadania, composição dos ingredientes e higiene e quando eram 10h30 já estava com a mão na massa.

O professor Adilson de Oliveira, um dos orientadores do Fussesp, explicou que muita gente chega para assistir ao curso com o rosto fechado, cansados pelas horas de viagem. Mas ao longo do dia as expressões faciais vão mudando entre os participantes. “Eles vêm pensando que vão ter de ouvir o professor falar várias horas, depois irão assistir a um vídeo, ganharão uma cartilha com explicações técnicas e no fim vão embora… Quando elas percebem que não será nada disso e começam a fazer os pães, ficam felizes e saem gratificados”, disse.

No curso do Fussesp tudo é gratuito. Desde o momento em que chegam à sede da entidade, localizada no Parque da Água Branca, os alunos participam de um café da manhã onde comem os pãezinhos produzidos pela turma que participou do curso anterior. Às 12 horas, eles ganham um almoço no refeitório, pago pelos parceiros do Fussesp, e no fim da tarde podem degustar os 10 tipos de pães que eles mesmo fizeram. “Gostei muito do curso. Aprendi a técnica, que é bem simples, e pretendo ensinar outras pessoas da minha cidade”, informou Carmem.

Multiplicadores

O objetivo do Programa Padaria Artesanal é justamente formar multiplicadores, que possam transmitir o conhecimento a outras pessoas. Para o professor Adilson de Oliveira, foi o conceito de multiplicação que levou a idéia para fora das fronteiras de São Paulo. “Os moradores destas cidades do Rio e de Minas já sabem que aqui em São Paulo centenas de pessoas começaram a fazer pães, depois passaram a vender e hoje tiram seu sustento da comercialização”, disse.

A presidente do Fundo Social, Lu Alckmin, acredita na importância de que as boas idéias sejam difundidas para todo o País. Segundo ela, a Padaria Artesanal é um grande programa social que está gerando emprego e renda em São Paulo, além de beneficiar a população carente, creches, asilos, presídios, Febem e assentamentos. “E hoje estamos repassando este programa para outros Estados, da mesma forma que estamos abertos para receber novos aprendizados”, destacou.

A cabeleireira Nilza Maria de Andrade, 41 anos, trabalha no Asilo São Vicente de Paula no município de Guaranésia, em Minas Gerais. Há dois meses ela precisou substituir uma companheira, cozinheira do Asilo, que estava em férias. “Fui cobrir as férias dela na cozinha e lá fiquei sabendo deste curso em São Paulo. Como eles estão pensando em instalar uma mini padaria no Asilo, tive a oportunidade de vir até aqui adquirir o conhecimento”, afirmou. Segundo ela, seria bom se este tipo de curso fosse implantado em Minas. “Há muito mais gente interessada em aprender e é bem fácil fazer estes pães”, observou.

No curso, os alunos aprendem diversos tipos de receitas. De acordo com Oliveira, muita gente quando recebe a cesta básica não sabe o que fazer com o pacote de farinha. “Eles acabam fazendo apenas bolo, que muitas vezes não vai sustentar a família toda. Aqui, todos aprendem que com esse pacote de farinha é possível fazer muitos pães”, comparou.

Padaria Artesanal em São Paulo

Na Capital paulista, as padarias são instaladas nas sedes das entidades cadastradas no Fussesp. Já no Interior, o convênio é firmado com os Fundos Sociais Municipais. Atualmente, também estão sendo instaladas padarias nas escolas estaduais. Além do curso, o Fussesp repassa às entidades e aos municípios o “kit padaria”. O contato no Fussesp pode ser feito pelo telefone: 0xx11 3874-6896 ou 3874-6814.

Rogério Vaquero