Metrô: Serviço de Achados e Perdidos devolve um terço dos objetos

Aproximadamente 1,5 mil objetos são perdidos ou abandonados todo mês nas linhas do Metrô

ter, 20/01/2004 - 17h18 | Do Portal do Governo

O casal Waldimar Litieri Vilaron de Brito e Eunice Felix Vilaron tinham passagens de ônibus compradas para Maceió (Alagoas), dia 26 de dezembro de 2003, às 20 horas. Para chegarem ao Terminal Rodoviário Tietê, pegaram o Metrô na estação Paraíso sentido Tucuruvi. Ao entrarem no trem, Eunice foi surpreendida por uma cena inesperada: uma de suas bagagens ficou presa na porta. O saco plástico, que continha lembranças para os parentes, travesseiros, lençóis e outros objetos, bateu na coluna do sistema e caiu nos trilhos. Buscaram ajuda com os funcionários, mas, como era horário de “pico”, não foi possível parar os carros para a retirada dos produtos. O casal partiu sem os presentes. Na volta, uma surpresa: graças ao serviço de Achados e Perdidos do Metrô, recuperaram todos os pertences quase intactos.

“No dia do meu aniversário recebi esse castigo. É muito para uma pessoa só”, lamentava-se Eunice. Mas, em compensação, o casal relembrava a atenção do pessoal do Metrô: “Os funcionários se comunicaram por rádio e pediram aos condutores dos trens que reduzissem a velocidade para não danificarar os objetos”.
“Eles nos atenderam muito bem. O saco deve ter rasgado e o pessoal catou tudo, um por um”, frisa Brito.

Os objetos estavam no quiosque de Achados e Perdidos, na estação Sé, ao lado da catraca principal. Para conferir, os dois iam tirando o conteúdo do saco, peça por peça. A cada retirada, uma mescla de alívio, surpresa e alegria. “Meu chinelo de couro, que só vende no Nordeste! O carrinho está intacto! Minha nécessaire com os produtos de praia e o bloqueador solar de quase R$ 50,00! Estava tão preocupada! A agenda nova que ganhei de meu marido também está aqui”, relatava Eunice, sorridente e satisfeita.

De dentadura a fogão

Bicicleta, porta-prato, muleta, bengala, fotos, rádio, relógio, colchão e até dentadura já foram deixados no Metrô. Pode parecer impossível, mas também ferro de passar, televisão e até um fogão de quatro bocas. “Às vezes, o usuário não consegue carregar ou passar pela catraca com determinado objeto e se vê obrigado a abandoná-lo”, explica a encarregada de atendimento da Central de Achados e Perdidos, Mônica Braga, lembrando que existe limite de circulação de mercadorias no sistema.

Em 2002, o serviço atendeu 108.942 usuários pessoalmente e a 35.384 chamadas telefônicas. No ano seguinte, foram atendidas 94.953 pessoas e 32.008 por telefone. O índice de devoluções de documentos e objetos corresponde a 35% por mês. Todos os meses chegam 1,5 mil novos itens na central. Após 60 dias, se não houver procura, os produtos em bom estado são doados ao Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo e os documentos, aos órgãos emissores.

Quatro funcionárias são as atendentes da central. “No processo seletivo, a equipe foi escolhida a dedo. Analisamos o currículo e desempenho delas na companhia porque aqui lidamos com objetos de valor. Confiança e honestidade são fundamentais”, salienta a encarregada.

Qualquer funcionário, ou mesmo usuário, pode contribuir ao encontrar objetos sem dono. O pessoal das 55 estações do Metrô é orientado a identificar o material de forma padrão e encaminhá-lo à central.

“Quando recebemos o objeto com identificação pessoal e meio de contato, ligamos, enviamos e-mail ou carta, dependendo do que for encontrado”, explica Mônica. Nesses mais de 28 anos de existência do programa, nunca ocorreu devolução errada a qualquer usuário.

De quem é o dinheiro?

Foram encontrados US$ 700 na estação Santa Cruz. O dinheiro estava bem dobrado e envolto num plástico de maneira diferente. A central divulgou o fato pela imprensa para facilitar a localização do proprietário. De imediato, 19 pessoas compareceram, alegando serem proprietárias dos dólares. “Pedimos que todos escrevessem como perderam o dinheiro, o trecho do Metrô utilizado, a data e horário da ocorrência, além da descrição do embrulho e composição das notas”, recorda Mônica. Dez pessoas foram embora sem redigir, oito “chutaram” e uma fez a descrição correta. Era uma nissei. Ela relatou que colocou o dinheiro dentro da calça, e não percebeu que ele caiu. “A moça deu sorte de uma pessoa honesta ter nos devolvido. Infelizmente, nem tudo chega aqui”, observou.

Sem dor-de-cabeça

Lindalra Rocha da Silva, de 73 anos, voltava de Poços de Caldas (MG) e usou o metrô para ir à Vila Maluf, zona leste da capital. Ela recebeu ligação de uma funcionária informando que haviam sido achados sua carteira, com RG, passe de Metrô e moedas: “Pensei que fosse conversa da mulher. Fui olhar na mala e descobri que a carteira não estava lá: havia caído pelo fundo falso da mala. Como eu não sabia ainda que tinha perdido, não deu nem tempo de ficar nervosa”, relata dona Lindalra, sorrindo. “Fiquei muito agradecida. Se soubesse do extravio, nem iria conseguir dormir à noite. Agradeço a Deus e a todas as pessoas boas desse mundo, dignas de respeito”, resume.

Como surgiu o serviço

Objetos achados e perdidos fazem parte do Metrô desde a inauguração do primeiro trecho (estação Vila Mariana-Jabaquara), em 1974. Daí surgiu a Central de Achados e Perdidos, que começou a funcionar no ano seguinte, numa sala da estação São Judas. Em 1981, transferiu-se para a Sé. Em 2002, começou a funcionar também o posto do Largo 13.

Documentos pessoais (RG, CIC, carteira de motorista) representam 70% dos achados. Mas se encontra de tudo: em dezembro, por exemplo, foram encontrados dezenas de presentes.

SERVIÇO

Pelo telefone (11) 3286-0111 e site www.metro.sp.gov.br, o usuário pode fazer consultas sobre documentos e objetos perdidos (identificados). O quiosque da Sé atende de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas (exceto feriados). O posto do Largo 13 funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.

Viviane Gomes
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)