Melhores cafés da safra paulista de 2004 são apresentados na sede do Instituto Biológico

Produtos foram escolhidos em concurso estadual realizado em outubro deste ano

ter, 23/11/2004 - 15h47 | Do Portal do Governo


A exemplo do que fazem os produtores de vinhos franceses, que lançam os melhores de sua safra em parreiral da cidade de Paris, os melhores cafés produzidos este ano no Estado foram apresentados nesta terça-feira, dia 23, na sede Instituto Biológico, no único cafezal da Capital paulista, cidade que, no século passado, foi reduto dos barões de café. O lançamento da 2ª Edição Especial dos Melhores Cafés de São Paulo – Safra 2004 está colocando no mercado dez lotes de café premiados, que serão comercializados por oito diferentes marcas que adquiriram o produto em leilão. São elas: Café Moka, Café Toledo, Café Canecão, Café Floresta, Senhor Café, Gran Reserva e Café Tiradentes.

“O café foi a origem do desenvolvimento paulista, no começo do século passado. O Brasil é o maior produtor de café do mundo e São Paulo, nessa nova fase, trabalha com o café de qualidade”, destacou o governador, que degustou as oito marcas e plantou uma muda do produto no cafezal do Instituto Biológico.

Os cafés que compõem a Edição Especial deste ano foram escolhidos no mês de outubro, no Concurso Estadual de Qualidade de Café – Prêmio Aldir Alves Teixeira, promovido pela Câmara Setorial do Café, órgão ligado à Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento; Sindicato da Indústria de Café (Sindicafé-SP) e Associação Paulista de Supermercados (APAS).

Ao todo, 800 produtores participaram dos concursos regionais, sendo que 71 participaram da etapa final. Os vencedores foram os blocos adquiridos pelas oito empresas que hoje fizeram a exposição dos cafés. O concurso é resultado de diversos cursos de qualidade e normas para a produção, secagem e comercialização do café, que ocorrem durante todo o período da safra e atingem a cadeia produtiva na totalidade.

O vencedor do prêmio foi um produtor do município de Caconde, região de São José do Rio Pardo, que será comercializado pelo Café Moka. Ele teve o lance mais alto no leilão, vendendo a saca de café, com 60 quilos, por R$ 1.610,00. Foi o maior valor alcançado por uma saca de café até hoje. Corresponde a mais de cinco vezes o valor de mercado do produto, que, na média, é vendido por R$ 260,00. “É sinal de que a indústria está disposta a adquirir café, desde que apresente, confirmadamente, o padrão de qualidade que o mercado irá aceitar”, destacou o secretário estadual da Agricultura e Abastecimento, Duarte Nogueira.

Alckmin destacou que o reconhecimento da qualidade pelo mercado é importante, já que agrega valor ao produto, melhora a renda de toda a cadeia produtiva e abre muitos postos de trabalho.

Café de alta qualidade é opção de presente de natal

A primeira edição do concurso foi realizada em novembro do ano passado e os cafés premiados foram lançados em janeiro de 2004. “Nesta edição, fizemos diferente. O concurso se encerrou em outubro e lançamos em novembro para que esses produtos de alta qualidade possam ser colocados nas gôndolas de supermercados e sirvam como presente nas festas de natal”, explicou Nogueira.

Para isso, os cafés premiados serão vendidos em embalagens especiais. Ao todo, vão ser comercializados 120 mil pacotes de 250 gramas em supermercados e lojas que tradicionalmente oferecem café gourmet no Estado. A tiragem é limitada e controlada por selos numerados emitidos pelo Sindicafé-SP.

Os preços ao consumidor variam de uma marca para outra. O Café Canecão, que colocará no mercado cerca de 3 mil unidades de 250 gramas do café produzido em São Sebastião da Grama, região de São João da Boa Vista, terá preço em torno de R$ 7,00 o pacote. Já a Bravo Café, que venderá o produto de Cristas Paulista, região de Franca, cobrará cerca de R$ 30,00 pela embalagem para presente, com 250 gramas do produto e duas xícaras de café. O Café Moka, que comprou o vencedor do concurso, vai vender por aproximadamente R$ 15,00 a embalagem.

O Café Tiradentes vai colocar no mercado dois tipos diferentes de café, produzidos em Altinópolis e Espírito Santo do Pinhal, regiões de Ribeirão Preto e São João da Boa Vista, respectivamente. De acordo com o diretor do Café Tiradentes, Carlos Alberto Rodrigues, a idéia é levar o consumidor interno a valorizar o café brasileiro, que é o melhor do mundo. Esta é a segunda vez que a empresa adquire cafés premiados no Concurso Estadual. O lote adquirido no leilão do concurso passado se esgotou em dois meses.

Qualidade é exigência mundial

De acordo com o engenheiro agrônomo especializado em qualidade de café, que empresta o nome ao concurso e foi o responsável pelo único cafezal da Capital, Aldir Alves Teixeira, a certificação do café é uma prova para o consumidor de que o produto tem qualidade. “Cada vez mais, o mundo quer qualidade. Hoje, essa é uma exigência não só mercado externo, mas também do interno”, enfatizou.

Ele apontou que há cerca de dois anos, o preço do café era tão baixo que o consumo caiu, provando que não é pelo preço que se avalia o produto, mas sim pela qualidade. “Esse selo de qualidade certifica que dentro do pacote existe um produto que ele pode consumir com tranqüilidade”, afirmou.

Brasil está ampliando exportação de café com valor agregado

São Paulo é o terceiro maior produtor do Brasil, atrás de Minas Gerais e Espírito Santo. Embora não seja o maior produtor de café do País, responsável por 12% da produção nacional, São Paulo é o maior exportador. Mais de 60% do café exportado sai pelo Porto de Santos. No ano passado, o País exportou US$ 1,53 bilhão de café em grão. “São Paulo faturou R$ 440 milhões em termos de produção agrícola”, afirmou Duarte Nogueira.

Porém, de acordo com o presidente da Câmara Setorial do Café, Nathan Herszkowicz, no que se refere a café torrado e moído, ou seja, com valor agregado, o País está apenas começando. “O Brasil já exporta grãos de alta qualidade há muitos anos e é hoje o grande fornecedor de mercados muito exigentes em qualidade. Mas, agora, o País começa a exportar também café torrado e moído de alta qualidade. A exportação de café industrializado é uma coisa nova no Brasil. Nós exportamos café em grão há 277 anos, mas, torrado e moído há apenas três anos”, enfatizou.

Em 2001, o Brasil faturou US$ 4 milhões com a exportação de café torrado e moído. No ano passado, esse valor chegou a US$ 12,8 milhões. A previsão para este ano, de acordo com o secretário da Agricultura, é chegar a cerca de US$ 20 milhões.

Nogueira destacou que os três principais países que compram o café brasileiro em grão e revendem torrado, Estados Unidos, Itália e Alemanha, faturaram US$ 660 milhões no ano passado. “A nossa fatia no mercado de valor agregado do café é muito pequena. É para isso que estamos fazendo esses concursos de qualidade e que o Governo do Estado tem empenhado esforços para que possamos trabalhar em conjunto com o setor privado. O objetivo é que isso gere divisas e traga emprego, renda e mais resultado positivo em nossa balança comercial”, enfatizou.

Ele lembrou que de cada 100 empresas que trabalham o café de qualidade superior, 60 estão em São Paulo. O Estado também é responsável por 40% do mercado consumidor nacional e 40% da indústria de café torrado e moído.

Único cafezal da Capital

O único cafezal da Capital paulista, com mais de 1,3 mil pés, existe há mais de 20 anos. Ele foi planejado por Aldir Alves Teixeira, que era pesquisador científico do Instituto Biológico.

Certo dia, ao visitar o Detran para resolver alguma questão relativa ao próprio carro, ele percebeu que havia uma grande área desocupada no Instituto e teve a idéia de cultivar café. As mudas, ele conseguiu da Cooperativa de Garça, que fez a doação. “Com uns colegas agrônomos, fizemos a locação da área e plantamos dois tipos de pés de café arábica, que podem produzir café de excelente qualidade”, contou.

A iniciativa foi um sucesso. “Além de termos o produto de pesquisa aqui, sem que o pesquisador precisasse viajar mais de 200 quilômetros para coletar material, também foi positivo do ponto de vista turístico”, disse. Ele lembrou que muitos estrangeiros, quando vêm ao Brasil, querem conhecer uma planta de café. Com o cafezal, eles passaram a ter uma opção dentro da cidade de São Paulo.

Aldir também ressaltou a importância de manter uma área verde em meio a uma cidade urbanizada, como a Capital paulista.

Cíntia Cury