Meio Ambiente: Pesquisa traça perfil da pesca artesanal no litoral paulista

Trabalho deu origem a ONG que acompanha pesca artesanal em Praia Grande e Mongaguá

seg, 05/05/2003 - 10h12 | Do Portal do Governo

Da Agência USP de Notícias


Por Júlio Bernardes

Um estudo sobre a pesca artesanal numa comunidade em Praia Grande (litoral central de São Paulo), realizado pela bióloga Carolina Pacheco Bertozzi deu origem à ONG Projeto Biopesca, que atua em três comunidades da região, em Praia Grande e Mongaguá. A dissertação, defendida no Instituto Oceanográfico da USP, aborda o trabalho dos pescadores e a captura acidental de animais marinhos não visados pela pesca.

Segundo a bióloga, a pesca artesanal é pouco estudada no Brasil e não há estatísticas precisas sobre a atividade. Na região Sudeste, por exemplo, inexistem dados da produção artesanal. ‘Acredita-se que a produção do país seja pequena em relação a extensão da costa, mas os dados incluem apenas a pesca industrial’, explica. ‘Para que o governo possa criar uma política correta de desenvolvimento da pesca é necessário organizar a coleta de dados sobre a produção artesanal’.

Carolina acompanhou a saída para o mar dos pescadores entre 1999 e 2001. Também foram pesquisadas as características sociais do grupo, e o estudo aponta a desestruturação da comunidade pesqueira. ‘Antes, famílias inteiras estavam envolvidas, transmitindo o conhecimento da pesca e uma tradição de respeito ao mar’, relata a bióloga. ‘Hoje, a atividade tem sido feita por pessoas alheias a essa tradição, que pescam sem conhecer o mar.’

Os barcos são de pequeno porte, feitos de madeira ou alumínio, e movidos a motor, sem nenhum instrumento de orientação e detecção de cardumes. As redes são lançadas e puxadas manualmente e os peixes mais pescados são corvina, pescada-foguete, guaivira, cação e robalo. A pesca é feita na área costeira, até a profundidade de 20 metros. Embora os pescadores trabalhem o ano todo, o maior esforço de pesca acontece no verão, devido à presença dos turistas, que aumenta a procura pelo pescado. ‘Em geral, o pescador desembarca os peixes e vai vendê-los na praia, sem intermediários’, relata Carolina.

Captura Acidental

O estudo abordou o problema da captura de espécies que não são o objetivo da pesca. Em Praia Grande, os animais mais atingidos são as toninhas (espécie de golfinho) e as tartarugas marinhas. ‘As toninhas são mais vulneráveis às redes de pesca’, relata a pesquisadora. ‘Será necessário estudar seu habitat para determinar o tipo de rede e a época do ano mais indicados para evitar a captura, sem ignorar o sustento econômico dos pescadores.’

O impacto da pesca artesanal na população de peixes da região é pequeno. O maior problema, de acordo com a bióloga, é a pesca de camarões em escala industrial, com o uso de redes de arrasto. ‘A malha retém os peixes mais jovens, reduzindo a reprodução das espécies’, explica.

Para continuar o trabalho iniciado por Carolina Bertozzi durante o mestrado, foi criada em abril de 2002 a ONG Projeto BioPesca, que conta com duas biólogas, um oceanógrafo e duas veternárias. O Projeto atua em três comunidades pesqueiras do litoral de São Paulo, em Praia Grande e Mongaguá, somando cerca de 20 embarcações de pequeno porte monitoradas. Os locais são visitados uma ou duas vezes por semana para a coleta de dados sobre a pesca e capturas acidentais de animais marinhos. Os aspectos econômicos da pesca nas comunidades também serão pesquisados pela ONG.

V.C.