Meio Ambiente: Parque Estadual Intervales ganha revitalização no aniversário de dez anos

Parte do contínuo ecológico de Paranapiacaba, local abriga um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica

qua, 05/01/2005 - 9h20 | Do Portal do Governo

No ano em que comemora o seu décimo aniversário, o Parque Estadual Intervales (PEI) – vinculado à Fundação Florestal, da Secretaria do Meio Ambiente – prepara-se para a revitalização de algumas de suas instalações. Localizado a 270 quilômetros da capital, próximo ao município de Ribeirão Grande, sudeste de São Paulo, Intervales recebe por ano cerca de 12 mil visitantes. Compõe, com o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), o Parque Estadual Carlos Botelho, a Estação Ecológica de Xitué e a área de Proteção Ambiental da Serra do Mar, o contínuo ecológico de Paranapiacaba. Trata-se de uma área de mais de 150 mil hectares e abriga um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica no mundo.

Situado entre os vales dos rios Paranapanema e Ribeira de Iguape, Intervales concentra, em seu território de 41,7 mil hectares, cerca de 60 cavernas (15 abertas à visitação), 25 roteiros de visitação, 13 cachoeiras e dois mirantes. Na área encontram-se desde atrativos de fácil acesso – Cachoeira da Água Comprida e a Gruta do Cipó – até locais difíceis de se chegar, como a Cachoeira do Arcão e a Gruta do Zé Maneco. A sede, distante 25 quilômetros de Ribeirão Grande, tem recepção, cinco pousadas, restaurante, centro de lazer e alojamento para pesquisadores.

Mono-carvoeiro, onça-pintada, jacutinga, todos ameaçados de extinção, são apenas algumas das espécies encontradas na região. A relação de pássaros, que passa de 300 espécies, contém raridades como o curiango-tesourão e o pica-pau-de-cara-canela. A essa diversidade soma-se a vegetação de Mata Atlântica, com árvores canjerana, copaíba e jequitibá.

Diferencial

No seu entorno ou no contínuo de Paranapiacaba, estão pérolas turísticas praticamente inexploradas, ou seja, o trecho de mais de 15 quilômetros do Rio das Almas, com ruínas da canalização para o garimpo de ouro da época dos jesuítas. O próprio Rio das Almas, que pode ser transformado em roteiro para canoagem e bóia-cross, é outro exemplo. Tem, ainda, uma estrada antiga e recuperada ligando a sede do parque a Sete Barras, no Vale do Ribeira, que pode ser utilizada para caminhadas e observação de pássaros.

“Intervales é uma região consagrada em termos de ecoturismo e um dos lugares do País em que ele começou a funcionar de forma organizada”, lembra seu diretor, Maurício de Alcântara Marinho. A visitação ordenada e controlada é justamente um dos diferenciais, em relação a outras unidades de conservação, segundo Jeannette Vieira Geenen, responsável pelos dois programas do parque, o de Uso Público e o de Interação Socioambiental.

A beleza de todo esse território, aliada ao solo rico em calcário e outros minerais e à abundância de palmiteiros, sujeita a área, porém, a uma forte pressão do entorno, especialmente por parte de grupos mineradores e extrativistas. A região é alvo, ainda, de invasões de terras e da predação de caçadores e pescadores. O quadro se agrava com a escassez de empregos e a pobreza, com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Inclusão social

Para promover a inclusão social, desde que adquiriu a Fazenda Intervales da Banespa Mineração, em 1987, a Fundação Florestal vem organizando ações que buscam inserir a população vizinha em atividades e programas de capacitação e geração de renda. “Temos de trabalhar no sentido de fazer com que essas comunidades não vejam a unidade de conservação como fator limitante de desenvolvimento, mas sim como parceira na busca de alternativas de geração de renda. Que entendam, também, a importância biológica da área”, explica Jeannette.

A própria atuação no local da Cooperativa de Serviços Múltiplos de Ribeirão Grande e Intervales (Coopervales), que tem a concessão do restaurante e fornece mão-de-obra para outros serviços locais, é um exemplo da preocupação da administração de Intervales com os moradores da região. Criada em 1995, reúne muitos ex-funcionários da Fundepag, empresa que contratava parte da mão-de-obra do parque.

Sua tesoureira, Lúcia R.M. Paiva, a Lucy, exemplifica bem a simbiose entre a Coopervales e a Fundação Floresta. “A hospedagem, por exemplo, pertence à Fundação, e o restaurante à Cooperativa. Ninguém se hospeda em Intervales sem comer no restaurante.”

Programas desenvolvidos no parque e em seu entorno imediato ou que abrangem uma área mais ampla, como o próprio contínuo ecológico de Paranapiacaba, também têm essa preocupação com a inserção de comunidades locais. Um exemplo é o Programa Integrado de Conservação e Uso Sustentável (Picus), financiado parcialmente pelo Fundo Brasileiro de Biodiversidade (Funbio) e que engloba todo o contínuo. Nas proximidades de Intervales, o Picus abrange, por exemplo, o plantio e o manejo de palmito em comunidade quilombola e de Guapiruvu. Dos programas específicos, o de Uso Público tem entre suas propostas a capacitação de monitoria local e o fomento de pequenas pousadas. Despontam ainda perspectivas em empreendimentos de alto padrão, como a Estância Multivales, o Hotel Baguaçu e a Fazenda Paraíso, que reforçam a vocação da região para pólo ecoturístico.

Monitores são um dos diferenciais

Uma junção de conhecimento local com algumas noções acadêmicas obtidas por meio de cursos de capacitação e do próprio contato com pesquisadores. Esse é o diferencial dos monitores ambientais de Intervales, e o que “faz com que, cada vez mais, sejam atraídos turistas para cá”, entre os quais os observadores de aves internacionais, conforme explica Jeannette. O receio, porém, é que todo esse conhecimento se perca, pois muitos monitores estão em fase de aposentadoria. “Teríamos de contratar funcionários antes do pessoal se aposentar, para passar essa sabedoria local, mas isso depende de concurso público”, afirma.

Luiz Avelino Ribeiro, 48 anos, é um dos monitores ambientais ou guias com conhecimento singular. A familiaridade com a geografia e as espécies locais, aliada à curiosidade e ao contato com pesquisadores brasileiros e observadores de espécies internacionais, permitiram-lhe a memorização de aproximadamente 300 nomes científicos de plantas e animais, especialmente de aves. “Achava os nomes bonitos, comecei a me interessar, ganhei alguns livros e fui aprendendo”, explica o monitor, que estudou até a quarta série do ensino fundamental e concluiu o segundo grau por meio do Telecurso 2000.

Basta apontar-lhe uma ave ou pássaro, e ele dispara o complicado nome científico ou abre um de seus livros para encontrá-lo. “Essa é a avoante (ou pomba-de-bando). O nome científico é Zenaida auriculata. Esse é o ….” Para tal informação, alguns dos visitantes que ele acompanhou por Intervales contribuíram de forma fundamental. Um deles é o ornitólogo americano Jeremy Minns, que o presenteou com livro e binóculo, e o incentivou bastante em seu aprendizado. O que ele chama de livro é, na verdade, um apanhado de xerocópias de publicações sobre aves, e causa encanto mesmo em observadores de espécies estrangeiros.

17 anos de experiência

Nascido nas imediações, Luiz era funcionário da Fazenda Intervales, pertencente à Banespa Mineração, quando a área foi adquirida pela Fundação Florestal, em 1987. Trabalhava como mateiro na abertura de estradas para a retirada de palmitos, tendo atuado como vigilante e cozinheiro. Na transição de atividades, conta que recebeu apoio da administração da Fundação, “pois achavam que a gente era nascido aqui e ia se dar muito bem nesse trabalho, porque conhecíamos os moradores, animais, plantas do lugar”.

Coordenador dos monitores, o gaúcho Eliseu Cordeiro de Paula, 58 anos, vive na região há 21. Chegou ao local para trabalhar na Banespa Mineração e foi coordenador da fábrica de conservas de palmito da empresa. “A maioria do pessoal daqui foi aproveitada daquela época do Banespa.” Foram escolhidos para trabalhar porque conheciam bem o local. “Fiz vários tipos de curso, fui realizando bastante treinamento e aprendendo mais coisas com a prática”, conta.

“Acho que foi uma boa troca de profissão, porque a gente, que antes destruía, passou a preservar. Trabalhamos bastante, também, com pesquisadores e aprendemos com eles.” Ao contrário do colega Luiz, Eliseu prefere guiar os visitantes até as cavernas e aos pontos de Mata Atlântica primária e secundária, mostrando as diferenças entre ambos.

O diferencial de Renato Laurindo Paiva, 30 anos, seis trabalhando no parque, é o conhecimento sobre morcegos. O aprendizado, conforme explica, se deu por meio do pesquisador Marco Aurélio Mello, da Unicamp, que realiza estudo sobre esses animais e as plantas solanáceas, das quais eles se alimentam. Ao contrário dos colegas Luiz e Eliseu, funcionários da Fundação Florestal, Renato é contratado da Coopervales.

Como esclarece a tesoureira da instituição, do que é arrecadado pela cooperativa (com as refeições e serviços de monitoria, por exemplo), existe um valor fixo para cada membro que esteja trabalhando, e o restante vai para o pagamento das contas. O problema, apontado por Jeannette, é que o turismo tem momentos de baixa temporada. Em razão disso, muitas vezes esses funcionários (monitores ambientais) migram para outros empregos e não retornam. Quem se prejudica é o parque, que perde profissionais capacitados.

Na rota internacional dos observadores de aves

A diversidade da fauna de carrapatos do Parque Intervales é tema de estudo dos professores Marcelo Labruna, da USP, e Matias J.P. Szabo, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Eles fazem parte da categoria de público que busca o local para desenvolver suas pesquisas de mestrado, doutorado ou trabalhos acadêmicos. “Existem espécies de carrapato que só encontramos aqui, típicas da Mata Atlântica primária (original)”, explica Marcelo.

É justamente por causa desse patrimônio natural – especialmente em termos de Mata Atlântica primária e secundária (recomposta) – que seu colega Matias considera o parque extremamente importante. “O local também propicia boa condição de pesquisa em razão de dispor de alojamento, restaurante, laboratório, monitores ambientais treinados”, afirma Marcelo.

O veterinário João Marcelo da Costa, de Americana, visitou Intervales em quatro ocasiões, e resolveu apresentá-lo, da última vez, à parceira Adriana Mello. “Não tem um lugar de Mata Atlântica nativa em que você consiga ficar. Geralmente é muito tumulto: carro, comércio. Aqui tem monitores especializados, cavernas, diversas trilhas. Dos parques estaduais que conheço, não há um com essa qualidade de atendimento.”

João Marcelo e Adriana compõem a categoria de público que visita o local nos fins de semana e feriados. Esse grupo é composto por famílias e turmas procedentes de Sorocaba, Piracicaba, Campinas e, até mesmo, de Curitiba e do Rio de Janeiro. Há aqueles visitantes, geralmente da região, que vão para passar o dia, fazer churrasco, mas não se hospedam no local. “O número deles é bastante grande, tanto em termos de geração de renda como de sensibilização ambiental”, explica Jeannette.

É uma preocupação da administração do Intervales não elitizar a visitação. Por isso, isenta das taxas de ingresso e monitoria as escolas públicas que não dispõem de recursos. Segundo Jeannette, o objetivo da unidade é, de um lado, obter aumento de receita, mas, de outro, atender à comunidade que não dispõe de recursos.

Roteiro internacional

Categoria de público que tem crescido muito é a dos observadores. A inclusão de Intervales no roteiro internacional de observação de aves tem contribuído para a presença de ingleses, suecos, escoceses, alemães, entre outros. “Recebemos, pelo menos, três grupos por mês”, afirma o diretor do parque. Isso se deve à biodiversidade da área. “Algumas das espécies são únicas ou raramente encontradas”. Outro grupo que começa a despontar é o ligado ao turismo de aventura. “Fizemos fora do parque, no começo do ano, uma corrida de aventura por 45 quilômetros. Teve trekking (caminhada), mountain bike e esportes afins.”

O parque recebe, ainda, estudantes de escolas particulares de grandes cidades; universitários da área de biológicas, que vão ao local para ter aulas práticas; pessoal da própria Secretaria do Meio Ambiente e outras instituições, para cursos, seminários e congressos; e empresas que deslocam seus funcionários com a finalidade de promover reciclagens e treinamentos.

SERVIÇO
Parque Estadual Intervales
Informações e reservas:
Tels. (15) 3542-1511 / 1245

Por Paulo Henrique Andrade, da Agência Imprensa Oficial

C.C.