Meio Ambiente: Jornalista Washington Novaes vê situação ambiental se agravar no mundo

Protocolo de Kyoto deve entrar em vigor em 90 dias

sex, 29/08/2003 - 16h13 | Do Portal do Governo

Se os estudos realizados pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp estiverem certos, muito em breve só será possível plantar café nas porções mais altas da região serrana de São Paulo, pois a elevação da temperatura no Estado tem provocado a floração precoce e a conseqüente perda dos grãos do produto que, até as primeiras décadas do século passado, era o símbolo da riqueza paulista, o nosso “ouro verde”.

Esta foi uma das previsões pessimistas feitas pelo jornalista Washington Novaes na palestra realizada na Secretaria do Meio Ambiente para expor os resultados da reunião de Johannesburgo. Uma boa notícia apresentada por Novaes foi a iminência da entrada da Rússia no grupo dos países signatários do Protocolo de Kyoto, completando o quadro das 55 partes responsáveis pela maioria das emissões totais de dióxido de carbono, um dos principais gases causadores do aquecimento global.

De acordo com o documento lançado em 1990, o protocolo deverá entrar em vigor 90 dias após a ratificação por este número de países, obrigando os signatários à redução gradativa das emissões causadoras do efeito estufa.

A palestra faz parte do ciclo de eventos programados pela Secretaria do Meio Ambiente. Segundo o secretário José Goldemberg, o objetivo é promover o debate sobre os temas que fizeram parte da Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em 2002 na África do Sul, onde se constatou que pouca coisa mudou desde a realização da Rio 92.

Entre as maiores frustrações registradas pelos ambientalistas que participaram da Conferência estão a continuidade do modelo energético, que privilegia o consumo de combustíveis fósseis e o rápido avanço da deterioração e do esgotamento dos recursos naturais em todo o mundo.

Para Washington Novaes, o mundo já convive com grandes catástrofes, como o comprometimento dos recursos hídricos, a desertificação crescente de países inteiros, o desemprego e a desestruturação social em várias partes do planeta, sem que os governos se mostrem dispostos a realizar mudanças políticas que resultem na transformação do modelo de desenvolvimento em curso. O jornalista, especializado em meio ambiente, apresentou os dados do relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que fazem um prognóstico sombrio para os próximos 30 anos.

Segundo os números apresentados, cerca de 160 mil pessoas se somam diariamente às populações urbanas em todo o mundo, com as conseqüentes demandas por energia, saneamento, habitação, transporte, saúde e segurança, entre outros, amplificando um modelo de consumo que já é responsável pelo esgotamento dos recursos naturais disponíveis. Isso equivale a uma nova cidade do porte de Rio Claro, por exemplo.

A população terrestre quintuplicou nos últimos dois séculos e os recursos fundamentais para a sobrevivência humana vêm se reduzindo em proporções igualmente alarmantes. É o caso da água, por exemplo, e segundo os dados dos relatórios utilizados por Novaes 40% da população já sofre o chamado “stress hídrico” que deverá atingir 60% dos habitantes do planeta nos próximos anos.

Novaes lembrou também que cerca de seis mil crianças morrem por dia no mundo por doenças de veículação hídrica, enquanto o sistema de abastecimento vigente na maioria das cidades brasileiras apresenta uma perda média de 40% de toda a água tratada.

Apesar disso, segundo Novaes, são repassados mais de
U$ 22 bilhões de dólares ao ano em todo o mundo para subsidiar a irrigação na agricultura que, na maioria dos casos, recorre a modelos altamente desperdiçadores, deixando de lado técnicas mais racionais, como o gotejamento.

Na pecuária, os dados relativos ao consumo de água também assustam: para cada quilo de carne produzido, são utilizados 12 mil litros de água. O mesmo recurso utilizado na produção de igual quantidade de vegetais implica consumo de 1.300 litros de água.

Mas, apesar do consumo menor, a agricultura praticada atualmente é responsável pela contaminação dos recursos hídricos por pesticidas, pela destruição de florestas (100 mil quilômetros quadrados por ano), pela erosão do solo (26 bilhões de toneladas de solo fértil por ano) e pelo processo de desertificação, que atinge cerca de 60 mil quilômetros quadrados por ano. Um exemplo brasileiro é o bioma do cerrado, responsável pela maior parte da biodiversidade existente no país e que hoje se resume a 5% da área original.

Apesar dos números catastróficos, Washington Novaes não deixou de lembrar que o Brasil detém a maior parte da água doce disponível do mundo, assim como a maior diversidade biológica do planeta, e recorreu a uma citação otimista da diretora do Jardim Botânico de Brasília, Anajúlia Salles, para quem “em matéria de biodiversidade, o primeiro mundo é aqui”.

Da Assessoria de Imprensa da Secretaria do Meio Ambiente/Eli Serenza/ L.S.