Meio Ambiente: Instituto de Botânica vai recuperar biodiversidade de áreas degradadas

Viveiros são fundamentais para gerar variedades de mudas

qui, 18/03/2004 - 9h14 | Do Portal do Governo

Conservar e recuperar a biodiversidade e proteger os sistemas hídricos constituem-se no maior desafio do Instituto de Botânica (IBt). Para isso, o IBt elabora estudos de reflorestamento, produção de sementes e mudas de espécies nativas e fixa parâmetros técnicos e científicos de licenciamento ambiental. Estimula ainda projetos de repovoamento florestal para reduzir os danos provocados pelos consecutivos desbravamentos de fronteiras agrícolas instituídos, por exemplo, nos programas Pró-Várzea e Pró-Álcool.

“Dos quase 80% da vegetação que cobria São Paulo, restaram entre 7% e 8%. Precisamos conservar as espécies vegetais para garantir equilíbrio ambiental e recompor a vegetação e a biodiversidade. O IBt estabelece diretrizes para reflorestar áreas degradadas e orienta formas de manejo adequadas à manutenção dos remanescentes florestais existentes no Estado”, afirma o diretor-geral do IBt, Luiz Mauro Barbosa.

Em setembro, o IBt lançará a lista das espécies ameaçadas de extinção. Das 260 mil espécies de plantas existentes no planeta, 60 mil correm riscos de desaparecer nos próximos 30 anos em razão da destruição de seu hábitat. Em breve, começa a ser posto em prática o novo projeto do instituto que altera a avaliação e o monitoramento de reflorestamentos e o licenciamento ambiental.

Copiar a natureza

Uma das receitas para obter garantia de sucesso nos reflorestamentos está no projeto Modelos de Repovoamento Vegetal para a Proteção de Sistemas Hídricos em Áreas Degradadas dos Diversos Biomas do Estado de São Paulo. O estudo estabelece número mínimo de espécies nativas a se plantar, seleciona e indica por região. No site www.ibot.sp.gov.br há informações detalhadas sobre o assunto e a lista dos viveiros de mudas, os nomes científicos e populares das árvores e onde encontrá-las.

Os pesquisadores do IBt comprovaram que plantando de forma semelhante ao que acontece na natureza (com diversidade de espécies) a chance de dar certo é maior. Os cientistas constataram que grande parte das árvores replantadas estavam morrendo pela escassez de diversidade das espécies e por ser a maioria de ciclo de vida curto, chamadas de pioneiras.

O cedro, por exemplo, está espalhado pela mata e se for replantado próximo um do outro e uma praga (como a broca) atacá-lo vai dizimar toda a plantação, explica Barbosa. Por isso, salienta a necessidade de se reflorestar com variedade florística, dando suporte alimentar para a fauna local.

Desenvolvimento sustentável

O plano de recuperação segue as regras definidas pela Resolução 47/2003 da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA), à qual o instituto é vinculado, que incorpora resultados de pesquisa do IBt e aperfeiçoa a SMA 021/2001. O objetivo da lei é conservar as espécies locais e dar sustentabilidade à floresta.

De acordo com Barbosa, a resolução age de forma efetiva na recuperação e conservação da biodiversidade paulista e dos recursos naturais. Evita que todo o trabalho de replantio seja perdido ou que a futura floresta fique condenada à morte.

As medidas servem para evitar a perda de diversidade biológica e a redução de recursos genéticos disponíveis ao desenvolvimento sustentável como a madeira, frutos, forragem, plantas ornamentais e produtos de interesse alimentar, industrial e farmacológico”, exemplifica.

Pioneiras e climácicas

Pela resolução, o repovoamento vegetal de áreas com mais de um hectare requer o plantio de, no mínimo, 80 mudas de espécies arbóreas encontradas na região. Para terrenos de até um hectare (espaço um pouco maior do que um campo de futebol), mantém-se a utilização de 30 indivíduos.

Por pesquisas realizadas, sabe-se que num único hectare de formação natural, quando destruído, perde-se pelo menos 100 espécies arbóreas nativas diferentes e com elas vão-se ainda as espécies arbustivas, herbáceas, epífitas e a fauna associada.
Outra exigência é que as espécies selecionadas devem contemplar os dois grupos ecológicos: as climácicas e as pioneiras.

As primeiras se caracterizam por apresentar ciclo de vida longo e dar sustentabilidade à floresta; as outras, vivem entre 15 e 20 anos e são úteis para os estágios iniciais do reflorestamento. Além disso, nenhuma espécie poderá ultrapassar o limite máximo de 20% do total do plantio e deverá ter, no mínimo, 40% de cada um dos dois grupos.

O certo é mais econômico a médio prazo

A International Paper do Brasil Ltda adotou, em 2002, as novas diretrizes no plantio do Parque Florestal São Marcelo. Mantido pela empresa, foram plantadas 732 mil mudas em 439 hectares. Dessa área, 240 hectares foram reflorestados utilizando 101 espécies nativas árboreas das regiões de Mogi-Guaçu, Aguaçaí e Espírito Santo do Pinhal.

As diferenças entre esse tipo de reflorestamento e aqueles nos quais se usam poucas espécies, mudas mais baratas e que se limitam a reconstituir a paisagem são visíveis a olho nu. Na primeira, não há clareiras – espaços abertos -, a mata é mais fechada e o solo mais úmido. Na outra, as clareiras abundam e há prevalência de árvore de ciclo de vida curta – como o manacá da serra – que floresce e cresce rápido, fornece muitas sementes, mas não assegura vitalidade à floresta.

Os cientistas comprometidos com o projeto do parque observaram, ainda, que fazer o certo é mais barato a médio prazo. O custo é maior na fase inicial quando se compra grande variedade de mudas, de pioneiras e não pioneiras (mais caras). Em compensação, depois não há necessidade de enriquecimento e a manutenção é bem menor.

Da Agência Imprensa Oficial/Claudeci Martins/L.S.