Meio Ambiente: Iluminado por tochas, Zoológico recebe visitantes para passeios noturnos

Os raros vôo de Hera, a coruja de orelha, fazem o público delirar

ter, 22/07/2003 - 17h28 | Do Portal do Governo

Quem participar dos passeios noturnos que a Fundação Parque Zoológico vai organizar a partir do dia 25 poderá observar, em condições especiais, mais de vinte espécies dos animais de hábito crepuscular e noturno, assim chamados porque são menos ativos durante o dia. As alamedas do parque ficam iluminadas por tochas e o visitante passa por áreas que são restritas no horário normal de funcionamento.

É possível, então, observar porcos-espinho passeando livremente em seu espaço, tamanduás-bandeira, onças, lobos-guará, jaguatiricas, tigres e leões se alimentando, fato raro à luz do sol. Nos recintos são colocadas luzes vermelhas, para permitir que o público possa admirar os animais sem que eles fiquem cansados e irritados.
‘É uma experiência diferente e emocionante. Gostei muito de observar como vivem e se alimentam esses animais notívagos. O zoológico está de parabéns pela iniciativa’, diz a visitante Marilena Reale Vieira, uma das pessoas convidadas a participar do primeiro passeio noturno realizado na sexta-feira, dia 18, especialmente para jornalistas.

Olhos e ouvidos atentos

Antes de iniciar o passeio, às 18h30, é feita uma apresentação em vídeo, no anfiteatro do Zoológico, sobre as características e hábitos dos animais, os habitats típicos de cada um deles e os cuidados e procedimentos a serem seguidos durante a visita. O mais importante é não tocar nas grades dos felinos e respeitar as normais gerais de segurança e preservação do bem-estar dos animais. Outra recomendação é aguçar os sentidos para não perder nenhum detalhe e aproveitar ao máximo a experiência.

Mal começa a caminhada – que dura aproximadamente 90 minutos – já dá para sentir a mudança de ambiente. A luz artificial cede lugar às tochas, e a luminosidade fraca é um convite a recorrer a outros sentidos, sem se concentrar apenas na visão. O primeiro recinto é ocupado pela cobra papagaio, proveniente da Amazônia, que se alimenta de pequenos roedores e não é venenosa. Nesse espaço há também um tatu peba e ovos de avestruz.

Durante o trajeto, monitores portando lanternas acompanham o grupo, de no máximo 50 pessoas, e explicam as características, o tipo de alimentação e a distribuição geográfica dos animais hábitos noturnos. Também é possível conhecer espécimes da fauna brasileira, como gambás e morcegos, que correm e voam livremente pelo parque. Enquanto o passeio prossegue, eles vão esclarecendo dúvidas e atendendo à curiosidade dos visitantes.

Na alameda dos felinos, as emoções aumentam com a movimentação silenciosa da suçuarana, da onça parda, da jaguatirica e da onça-pintada, o maior felídeo da América. Conhecida na América do Norte como jaguar, é muito caçada, principalmente na região central do Brasil, por ter fama de devoradora de gado e pelo valor comercial de sua pele. Antes, o maior carnívoro brasileiro vivia em quase todo o território do País, mas hoje, se encontra à beira da extinção.

Também despertam grande atenção o exótico serval africano, o leopardo das neves, originário da América Central, e o lince caracal, proveniente da África e do Oriente. No momento da visita, os predadores brincam com objetos que imitam os animais de que se alimentam, exploram o espaço onde vivem e devoram grandes pedaços de carne.

O canto do Irerê

Antes de chegar ao grande lago formado pelo riacho do Ipiranga, ouve-se o som dos pássaros. O lago abriga várias espécies de aves, como cisnes negros e marrecos, inclusive migratórias. O canto que ecoa na escuridão e quebra o silêncio da noite é do irerê, ave migratória que, no inverno, foge do frio do Sul em busca de terras mais quentes. No caminho, os bandos fazem uma pausa no Zoológico, antes de seguirem viagem até o Nordeste. A gente do interior acredita que o canto do irerê é um aviso de que vai chover.

Dormindo nas árvores em frente ao lago, macacos-aranha, gibões e macacos-prego – espécies de hábitos diurnos – saem de suas moradias atraídos pelo burburinho dos visitantes e observam, inquietos, saem de suas casas para observar o que está acontecendo. Próximo dali, Tetéia, uma fêmea de hipopótamo com 39 anos de idade, e seu filhote Sininho também olham as pessoas com curiosidade. Trazida do zoológico de Córdoba, na Argentina, é a moradora mais antiga do parque e adora fazer pose para os fotógrafos.

Felinos, uma grande emoção

O momento de maior emoção do passeio, diz o monitor Guilherme, é quando os visitantes cruzam um pesado portão e entram na zona de cambiamento, área restrita durante o dia. Como não há barras de segurança nesse local, as pessoas ficam muito próximas dos leões e tigres.

É possível ficar a um passo das feras, que raspam suas garras na grade e rugem com vontade. Ao menor sinal de ameaça, elas se abaixam e preparam o ataque. Por estar na hora da refeição, a ferocidade é maior.

Mesmo sabendo do perigo, é grande a tentação de tocar os filhotes de tigre, duas fêmeas de apenas cinco meses, que parecem gatinhas de pelúcia. Parecendo entender o que diz o coro de vozes encantandas – ‘Que lindo! Que gracinha!’ – as tigresinhas enfiam as cabecinhas e as patas fofinhas por entre as grades, como se quisessem carinho.

Do outro lado da grade, Trigo, o tigre siberiano, passeia majestoso, como se soubesse que são da sua espécie os maiores felinos de todo o mundo. Mas, diante das pessoas que o admiram, temerosas, o tigre tem, surpreendentemente, um comportamento dócil. “Talvez seja porque ele nasceu aqui no zôo e foi criado pelos veterinários com mamadeiras, pois sua mãe não quis amamentá-lo”, comenta o guia com ar brincalhão.

‘Já estive no zoológico várias vezes, mas à noite, esta é a primeira. Me senti tocada pelo canto do irerê e ao ver a imponência e o nado gracioso do cisne negro. Adorei observar os felinos de perto. É diferente passear no parque a esta hora, quando dá para a gente sentir a força da vida e da natureza’, diz a visitante Ângela Penha L. Costa. Não muito longe dali, como se concordassem com ela, ecoam na noite os uivos tristes dos lobos europeus.

Vivos e empalhados

Na área que reproduz características naturais da planície africana encontram-se várias espécies de aves, como o grou coroado – denominação que se deve ao arranjo de penas no alto da cabeça, semelhante a uma coroa – e o avestruz, convivendo com a zebra damara, mamífero que tem um círculo branco no traseiro e serve como guia nas migrações das manadas. Próximas dali ficam as girafas. Apesar de serem animais de hábitos diurnos, elas esticam os pescoços ao ouvirem os ruídos diferentes, e saem de suas moradias de pé direito triplo para ver o movimento.

O último local visitado é a Casa de Educação Ambiental. Lá, os visitantes podem tocar em alguns animais empalhados, para sentir a textura do pêlo ou a dureza das garras. E também observar a enganosa imobilidade – pois estão vivas – de algumas cobras e d duas corujas, que ficam de olhos bem abertos durante a madrugada.
Para delírio do público, Hera, uma coruja de orelha, às vezes faz exibições de vôo livre. Já a corujnha Toti, que está em fase de recuperação, pouco se mexe durante a maior parte da visita. Quando foi resgatada de um cativeiro, ela estava bastante debilitada porque só comia mingau de fubá. Por isso, chegou a perder quase todas as penas e, para se recuperar, vai ter aulas de saltos em distância quando estiver mais forte. Mas os biólogos do zoológico dizem que o trauma sofrido é irreversível.

Toda sexta-feira

Finalizado o roteiro, os visitantes seguem para o Espaço Dom Pedro, onde lhes é oferecido um lanche. As instalações do amplo salão estão cercadas pela Mata Atlântica, a floresta que se estendia ao longo de quase toda a costa brasileira, mas que foi devastada pelo homem. As áreas que hoje restam correspondem a apenas a vigésima parte de sua extensão original.

A Fundação Parque Zoológico de São Paulo vai promover dois passeios noturnos por mês, sempre às sextas-feiras. O próximo, que será realizado no dia 25 de julho, já está com todas as vagas preenchidas. Mas já estão abertas inscrições para os passeios dos dias 15 e 29 de agosto. O ingresso custa R$ 50,00 ou, para crianças de até 10 anos, R$ 40,00.

Serviço

O Zoológico de São Paulo fica na avenida Miguel Stefano, 4.241, na Água Funda. Para participar do passeio crepuscular, o interessado precisa ligar para o telefone (0xx11) 5073-0811, ramais 2127 ou 2071, pelo fax: 5058.0564

Da Agência Imprensa Oficial/Claudeci Martins

L.S.