Meio Ambiente: Exposição da criança à contaminação ambiental é discutida em seminário

Evento foi realizado na sede da Secretaria de Estado do Meio Ambiente

sáb, 27/09/2003 - 13h53 | Do Portal do Governo

A utilização de substâncias químicas com efeitos toxicológicos pouco conhecidos torna a criança alvo de exposições prolongadas a diversos agentes prejudiciais à sua saúde. Estudos realizados com diferentes substâncias químicas, desde o álcool até contaminantes ambientais como chumbo e mercúrio, indicam que o que é seguro para o adulto mas não é, necessariamente, para a criança.

Assim, os níveis de exposição que não causariam efeito em um adulto, ou lhe produziriam um efeito nocivo de curta duração, poderiam ter conseqüências negativas ao longo da vida para a criança e o adolescente. E esta condição especial dos primeiros anos de vida, derivada principalmente das características biológicas que retratam os diversos estágios de desenvolvimento da criança, deveria ser devidamente avaliada no estabelecimento de padrões ambientais.

Com este enfoque básico, a CETESB e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente realizaram, em sua sede, em Pinheiros, o seminário “Saúde da Criança e Qualidade Ambiental”, com a presença de diversos especialistas das áreas ambientais e de saúde pública, como a Dra. Jenny Pronczuk, médica toxicologista da Organização Mundial de Saúde, em Genebra, e o Dr. Paulo Saldiva, diretor da Faculdade de Medicina da USP, entre outros.

Ambos salientaram a importância e a necessidade urgente que os ensaios com animais e os estudos epidemiológicos avaliem a exposição da criança, da concepção até a adolescência, considerando sua susceptibilidade específica, e que isso seja obrigatoriamente levado em consideração no estabelecimento dos padrões contemplados na legislação ambiental, que no caso do Brasil, tem como referência o indivíduo adulto, que é menos susceptível. De acordo com a Dra. Jenny Pronczuk, as legislações ambientais dos Estados Unidos e da Europa já contemplam este aspecto na avaliação de riscos.

Aumento da susceptibilidade

Segundo os especialistas, entre os múltiplos fatores que aumentam as oportunidades para a exposição da criança aos contaminantes ambientais, estão a maior inalação de ar, ingestão de água e alimentos, por quilo de peso, que o adulto; os primeiros seis meses de vida, quando a criança bebe sete vezes mais água, também proporcionalmente, que o adulto; a taxa respiratória, que é duas vezes maior que a do adulto; o ingresso pela via cutânea, especialmente no recém-nascido, quando a pele é mais permeável, que é maior para substâncias como lindano e hexaclorofeno, com possíveis efeitos neurotóxicos.

O Dr. Saldiva destacou os “alvos principais” da contaminação das crianças: os sistemas respiratório, cardiovascular, nervoso e de comportamento, endócrino, reprodutivo e de controle e proteção ao DNA. Ele disse que, na fase intra-útero e pós-natal, as fontes de contaminação podem ser muitas e chamou a atenção para os alimentos, a água, o leite materno, as radiações diversas e a atmosfera, entre outras.

Para a Dra. Jenney Proczuk, os três principais problemas de saúde provocados pela exposição maior das crianças à poluição são as infecções respiratórias agudas, enfermidades diarreicas e intoxicações crônicas e agudas, pela grande disponibilidade de substâncias químicas. Mas o que mais a preocupa mesmo são os possíveis efeitos neuro-comportamentais, que afetariam a capacidade intelectual das crianças: “As crianças são o futuro de um país e, principalmente em países pobres elas podem representar o patrimônio mais promissor para o desenvolvimento desses países.

E por elas se constituírem em organismos mais frágeis, todo o esforço deve ser feito para protegê-las”.

De acordo com dados da OMS, 80 mil substâncias químicas sintéticas foram desenvolvidas no mundo desde 1950, sendo que 15 mil são utilizadas anualmente numa quantidade próxima das 5 toneladas e 2.800, numa quantidade de 500 toneladas. Apenas metade tem realizados testes de toxicidade.