Meio Ambiente: Especialistas vêem reflorestamento como atividade econômica e meio para reduzir desma

Conclusões foram apresentadas no encerramento do Simpósio Internacional Reflorestamento e Desenvolvimento

qui, 15/08/2002 - 19h52 | Do Portal do Governo

‘Plantar árvores pode ser uma atividade lucrativa, o problema é o fluxo do dinheiro, pois trata-se de um investimento cujo retorno não é imediato, motivo pelo qual durante muitos anos este tipo de negócio foi descartado no País’.

Quem diz isto é o secretário do Meio Ambiente, em palestra, realizada nesta quarta-feira, dia 14, no encerramento do Simpósio Internacional Reflorestamento e Desenvolvimento, que se realizou na Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo.

Vários palestrantes alertaram que os investimentos existentes, atualmente não são suficientes para garantir a produção e suprir a demanda das indústrias de papel e celulose,produção de resinas e outras finalidades. Mesmo para o simples uso de madeira bruta na instalação de cercas em fazendas, conforme se constata em
algumas regiões, já é necessário comprar os produtos em outros Estados.

O simpósio foi promovido pelo Instituto Florestal e Coordenadoria de Informações Técnicas Documentação e Pesquisa Ambiental – CINP, e pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo, por intermédio da Japan International Cooperation Agency – JICA.

O grande número de interessados confirmou o interesse e a relevância dos temas abordados no evento por especialistas brasileiros e japoneses, que atuam em projetos de recuperação ambiental, tanto no Brasil como em outros países.

Fomento

Há a necessidade de plantar cerca de 4 milhões de hectares nos próximos 25 anos, segundo dados apresentados pelo pesquisador científico do Instituto de Economia Agrícola, Eduardo Pires Castanho Filho. ‘Essa meta representa o plantio efetivo de 160 mil ha/ano, correspondentes a cinco vezes os plantios anuais realizados pelas empresas do setor florestal paulista.’

Mesmo assim, Castanho mostrou que a avaliação mais recente do programa de fomento florestal no Estado apresenta vários aspectos positivos, divulgando tanto a atividade de plantio de florestas como a concepção de produção sustentada e propagando o melhor aproveitamento do uso do solo com a utilização de áreas impróprias à agricultura e pecuária. Estas ações, demonstrou Castanho, contribuíram para a diminuição da pressão sobre as florestas nativas e proporcionaram maior oferta de matéria-prima florestal.

Classificado como base de planejamento de qualquer empresa que atue no setor, o ‘Mapeamento e Quantificação do Reflorestamento no Estado de São Paulo’, apresentado pelo pesquisador científico do Instituto Florestal, Francisco José do Nascimento Kronka, constitui um instrumento fundamental para se alcançar os níveis propostos pelo técnico.

O trabalho, em formato digital utilizando o Sistema de Informações Geográficas, reúne informações sobre reflorestamento, a partir de imagens de satélites registradas entre 1999 e 2000, e identifica o reflorestamento por
gênero das espécies cultivadas. Foram usadas também informações dos proprietários das áreas de reflorestamento, destacando as espécies, tempo de plantio e condições de manejo.

O mapeamento inclui uma análise evolutiva do reflorestamento no Estado de São Paulo e é parte integrante do Programa BIOTA-FAPESP, desenvolvido em cooperação com a Sociedade Brasileira de Silvicultura e SEBRAE. Os
levantamentos apresentados durante o simpósio indicam que existem cerca de 85 milhões de árvores plantadas no Estado e que, desse total, 80% são compostos por pinus e o restante é formado por diferentes espécies.

Projetos

Entre os trabalhos apresentados no simpósio, o projeto desenvolvido pelo Instituto Florestal na Estação Ecológica de Mogi-Guaçu mereceu grande destaque e interesse, sendo considerado um exemplo viável de integração de floresta plantada com a preservação e recuperação de espécies nativas.
Nesse caso, como mostrou o pesquisador científico José Luiz Timoni, que já dirigiu o Instituto Florestal e atuou como diretor-adjunto na Fundação Florestal, a formação da floresta teve início há 25 anos e só agora começa a produzir.

A Estação Ecológica de Mogi-Guaçu localiza-se na Fazenda Campininha, pertencendo ao Estado desde 1910, quando foi desapropriada para fins de reforma agrária. Só no final da década de 40, no entanto, decidiu-se pela sua destinação a projetos de reflorestamento nos seus 4.510,16 hectares, que se apresentavam bastante degradados. Atualmente a área está dividida em três unidades: a Reserva Biológica, com 479,04 ha de cerrado; a Estação Ecológica, com 980,72 ha formados basicamente pela mata ciliar que margeia o Rio Mogi-Guaçu, com vários tipos de vegetação em regeneração; e a Estação
Experimental, que ocupa 3050,41 ha, cultivados com pinus e eucaliptos, além de matas ciliares altamente alteradas acompanhando alguns corpos d’água tributários do Rio Mogi-Guaçu. Esta unidade é utilizada também para inúmeras
pesquisas de fauna e flora, além de compor um importante corredor ecológico.

O Projeto Jacarandá foi outro exemplo de atuação que vem obtendo resultados positivos, conforme demonstrou o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, João Ferraz. Realizado por meio de um programa de
cooperação técnica entre a JICA e a Agência Brasileira de Cooperação – ABC, com a participação do Ministério da Ciência e Tecnologia, o Projeto Jacarandá se propõe a gerar conhecimentos científicos necessários para
promover atividades de reflorestamento em áreas degradadas nos trópicos úmidos, como é o caso da Amazônia.

A proposta do projeto é de recuperar as áreas degradadas na Amazônia Central, tranformando-as em áreas para o plantio de florestas, além de recuperar ecossistemas degradados e reduzir a pressão de desmatamento sobre
as florestas primárias.

Mudanças climáticas

O simpósio não deixou de lado o tema que vem preocupando pesquisadores, ambientalistas e autoridades em todo mundo: as mudanças climáticas, que foram abordadas pela secretária-adjunta de Políticas e Programas de Ciência
e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia, Thelma Krug. Ao falar da Situação do Desflorestamento da Amazônia e da Mata Atlântica, a técnica, que é uma das representantes brasileiras nas Conferências das Partes da
Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, abordou alguns aspectos científicos sobre o tema, principalmente os relacionados ao uso e mudanças do uso da terra e florestas.

Thelma apresentou dados relacionados ao desflorestamento da Amazônia, a partir de uma série histórica de 13 anos, e informações sobre a situação recente dos remanescentes da Mata Atlântica. A pesquisadora abordou também
as oportunidades do setor florestal dentro do Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo.

Mais informações sobre as palestras apresentadas podem ser obtidas no site: www.sp.br.emb-japan.go.jp.