Medicina: Faculdade de Ribeirão Preto inaugura laboratório móvel para estudar a hantavirose

Doença é provocada por roedores

sex, 15/08/2003 - 15h22 | Do Portal do Governo

A Unidade de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP adquiriu um laboratório móvel que facilitará o estudo sobre a hantavirose. Desde 1993, já foram registrados no Brasil quase 300 casos da doença, que é transmitida pelo contato com roedores.

O laboratório, composto por um trailer e uma caminhonete, possui uma série de equipamentos que facilitarão a manipulação, com segurança, do sangue e das vísceras dos roedores ‘supeitos’ ainda no local da captura. A equipe é contatada por médicos da região quando há confirmação de novos casos de hantavirose e refaz os trajetos feitos pelas vítimas na busca de animais infectados para posterior investigação.

Segundo um dos pesquisadores do projeto, o pós-graduando Ricardo Luiz Moro Sousa, o laboratório móvel é um avanço importante porque assegura a total integridade do material coletado. ‘Material biológico, mesmo bem acondicionado, sempre é passível de perda. Com esta nova estrutura a integridade é plenamente preservada’, afirma. Futuramente, a equipe pretende iniciar o processamento do material ainda durante as viagens.

De acordo com o professor da FMRP responsável pelas pesquisas com hantavirose, Luiz Tadeu Moraes Figueiredo ‘O laboratório móvel possui o nível de segurança necessário para manipular animais suspeitos de contaminação com o vírus letal.’ Ele acredita que a nova estrutura possibilita viagens mais longas para pesquisa no campo, tornando a equipe mais ágil.

No Laboratório de Virologia da FMRP a confirmação da presença do vírus nos animais capturados é feito por rastreamento baseado em seu RNA. Eles também analisam o desenvolvimento clínico da doença e investigam pessoas nas mesmas localidades com sintomas semelhantes da doença, com o intuito de rastrear casos da infecção produzindo doença com menor gravidade. Um estudo das vísceras dos animais capturados é feito para confirmar neles a presença do vírus.

A equipe também vislumbra outros usos para o laboratório. ‘Podemos nos deslocar e analisar in loco amostras de sangue para suspeitas de dengue hemorrágica ou febre amarela e obter o resultados rápidos. O laboratório pode ser muito útil em outras pesquisas’, prevê o professor Figueiredo.

Hantavirose

A hantavirose atinge principalmente a zona rural. Na região de Ribeirão Preto, já foram confirmados 28 casos da doença, em que mais da metade das pessoas contaminadas morreram. ‘O aparecimento da doença tem relação com a mudança do meio ambiente pelo homem. O roedor perdeu seu habitat natural com os desmatamentos, a expansão das cidades para o campo, a monocultura da cana e suas queimadas. Ele, provavelmente, foi se aproximando mais do homem, trazendo a doença’, relata Figueiredo O roedor mais comumente infectado com Hantavirus é o ‘rato do rabo peludo’ (Bolomys laziurus), para quem o vírus parece ser inofensivo.

O hantavírus é contraído pelo contato com estes roedores silvestres. Para reduzir o risco de contaminação, que ocorre principalmente no meio rural, recomenda-se que paiol e o local de armazenamento de rações devem ser sempre bem vedados. ‘O que contamina é o pó da urina e das fezes do roedor. Assim, ao limpar locais fechados, deve-se usar máscara, além de um pano úmido, ao invés da vassoura’, orienta.

Os sintomas se apresentam mais comumente três a sete dias após a contaminação. Nos primeiros dias, se confundem com sintomas de gripe: dor de cabeça, febre e dor no corpo. A partir do terceiro dia, o doente tem tosse seca e falta de ar. Aproximadamente 24 horas após esse quadro, a falta de ar se agrava e a pessoa pode morrer sufocada.

‘A doença age rapidamente. É uma pneumonia que se espalha por todo o pulmão e impede o doente de respirar’, relata o professor. Segundo ele, é preciso conscientizar os médicos da possibilidade da hantavirose, para que o encaminhamento a locais com recurso de terapia intensiva possa ser feito na fase inicial do quadro. Suspeita-se que, pela semelhança com outras doenças, haja subnotificação, o que dificulta o trabalho de pesquisa dos casos.

Da Redação Agência USP/Assessoria de Imprensa da FMRP/L.S.