Mais 3,2 mil professores passarão por capacitação sobre a cultura africana

Na 1ª fase do programa 'São Paulo: Educando pela Diferença para a Igualdade', no ano passado, foram atendidos 160 educadores

sex, 19/11/2004 - 13h10 | Do Portal do Governo


Com o objetivo de introduzir a história da cultura afro-brasileira e história da África no currículo escolar, o governador Geraldo Alckmin autorizou, nesta sexta-feira, dia 19, o início da segunda etapa do programa ‘São Paulo: Educando pela Diferença para a Igualdade’. Nesta fase, serão capacitados 3,2 mil professores da rede pública estadual do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries) e Ensino Médio (disciplinas de História, Língua Portuguesa e Artes). “Amanhã (20 de novembro) é dia da morte de Zumbi dos Palmares, um herói brasileiro. E a melhor homenagem que podemos prestar é levar o conhecimento, capacitar os professores para a educação para a igualdade”, destacou o governador. Para Alckmin, o programa vai permitir que os alunos conheçam as origens, as raízes e entendam a miscigenação do povo brasileiro.

De acordo com o secretário da Educação, Gabriel Chalita, nessa capacitação são trabalhados os diversos aspectos da cultura afro, como a música, dança e culinária, os tipos de dinâmica que podem ser usados em sala de aula para mostrar o envolvimento dessa comunidade, além de estratégias de não discriminação. “O professor pode, por exemplo, usar um filme ou um conto e, a partir disso, trabalhar conceitos do Apartheid, escravidão, mostrar o sofrimento, a discriminação e a falta de oportunidade”, explicou.

O secretário destacou que na capacitação são utilizados textos literários e de jornais, filmes, documentários, programas de televisão e acontecimentos do cotidiano para que os professores possam trabalhar os conceitos com os alunos. Os educadores que passam pelo programa são multiplicadores, portanto, têm a missão de capacitar os outros professores das escolas em que atuam.

Proposta pelo Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado, a capacitação teve início no ano passado, atendendo 160 professores. Após essa etapa, que funcionou como um ‘piloto’, a Secretaria da Educação convidou universidades do Estado e Federais a apresentar um projeto de capacitação dos professores e a vencedora do concurso foi a Universidade Federal de São Carlos, que será responsável pelo desenvolvimento da segunda fase do programa. Nesta etapa, serão capacitados os professores das Diretorias de Ensino de Barretos, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Leste 4, na Capital.

A presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado, Elisa Lucas Rodrigues, destacou que o objetivo é capacitar todos os 180 mil professores em dois anos.

Programa deve atingir também os pais

Chalita destacou ainda que o processo discriminatório está cada vez menos presente nas escolas. Na opinião do secretário, os professores devem trabalhar para que as diferenças não se transformem em desigualdade. “Se ninguém deformar a visão da criança, a tendência é que ela não seja preconceituosa. Então, o papel do professor é fazer com que alguns discursos que vêm da família, que vêm dos pais, não encontrem eco. E mais do que isso, que as pessoas tenham as mesmas oportunidades no mercado de trabalho, de atuação, sem nunca tirar a diferença. A diferença sempre vai existir. Há entre homens e mulheres. Mas é uma diferença que não pode levar à desigualdade”, afirmou.

Para o governador, as ações do ‘São Paulo: Educando pela Diferença para a Igualdade’ deveriam ser estendidas também aos pais. Para isso, ele sugeriu que a Secretaria aproveite as sessões de cinema apresentadas nas escolas aos domingos, dentro do Programa Escola da Família. O evento tem reunido cerca de 80 mil pessoas por semana.

“Temos de ensinar nossas crianças para que elas cresçam sem preconceito. E colocar isso no programa Escola da Família, principalmente para atingir os pais. Para que eles percebam que piadas ou críticas envolvendo aspectos raciais são comportamentos preconceituosos e são absorvidos pelos filhos”, concordou o secretário.

Elisa Lucas Rodrigues concorda com Chalita. “No Brasil, ninguém admite que há discriminação, mas o que revela essa discriminação são os índices”, disse, citando dados como a mortalidade materna, que é superior entre as negras, e os salários dos negros, que são inferiores aos das mulheres brancas com a mesma qualificação profissional. “O grande objetivo do programa é mostrar que somos um País de afro-descendentes, que o afro-descendente tem história e, principalmente, implementar ações afirmativas”, afirmou.

Cíntia Cury