Justiça: Projeto ‘Diálogos da Cidadania’ discute violência doméstica

Evento reuniu educadores, lideranças comuntárias e pesquisadores

qui, 29/04/2004 - 18h51 | Do Portal do Governo

Educação é a melhor prevenção

A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo realizou nesta quarta-feira, 28 de abril, a segunda edição dos Diálogos da Cidadania, um projeto cujo objetivo é estimular a discussão de temas relevantes sobre a defesa dos direitos humanos.

Realizado no Espaço da Cidadania André Franco Montoro, o evento reuniu educadores, líderes não-governamentais, pesquisadores e lideranças comunitárias para discutir a Violência Doméstica, suas principais causas e efeitos. Polêmico, o tema divide opiniões e gera dúvidas entre a população, principalmente pela forma como é abordado.

Para muitos, o conceito de violência doméstica restringe-se apenas aos ataques físicos entre familiares. No entanto, a socióloga e professora do Núcleo de Violência da Universidade de São Paulo (USP), Wânia Pasinato, explica que o descaso e o desprezo também são formas de violentar pessoas. ‘A agressão física não é a única forma de violência doméstica’, afirma

Durante sua apresentação, a professora traçou um panorama da violência doméstica no Brasil. Segundo ela, os principais casos envolvem as mulheres porque o país carrega uma herança cultural muito forte, na qual a figura feminina é minimizada e submissa às vontades masculinas.

‘Os indivíduos são socializados numa estrutura rígida e patriarcal que propicia a formação de modelos pré-estabelecidos. Temos de combater estes estereótipos já nas escolas e mostrar que meninos e meninas têm direitos e deveres iguais’, adverte Wânia.

A professora apontou ainda casos de violência doméstica relacionados ao alcoolismo, ao consumo de drogas e também à dependência financeira. Também convidada para compor a mesa de debates, a diretora da Casa Eliane de Grammont e integrante do Núcleo de Estudos da Violência da PUC-SP, Graziela Acquaviva, explica que muitas dessas vítimas trazem consigo uma carga emocional muito grande e na grande maioria dos casos não conseguem se desligar deste ambiente hostil.

Segundo ela, é preciso elaborar um diagnóstico destas vítimas para que possa ser traçado um plano de ação para a recuperação das mesmas. “Não basta o assistencialismo. Deve-se discutir com estas mulheres as feridas que permaneceram abertas por conta da violência sofrida.”

O combate à violência doméstica, porém, não está vinculado ao atendimento exclusivo às vítimas. Para o filósofo e integrante do Centro de Educação para Saúde, Sérgio Barbosa, é necessário também desenvolver atividades junto aos agressores.

Barbosa ressaltou a iniciativa do Centro de Educação para Saúde em atender os homens, principais atores da violência doméstica. “A violência está enraizada na sociedade em que vivemos. Por isso, trabalhamos com estas pessoas para estabelecer a criação de uma nova identidade masculina sem o uso da violência”, afirma.

Partidária desta política de atuação, a presidente da ONG Pró-Mulher e Cidadania, Célia Regina Zapparoli, explica que as iniciativas envolvendo os agentes agressores têm apresentado grandes resultados. “Atualmente, muitos homens procuram a Pró-Mulher para obter informações e orientação”, diz.

Para Célia, uma das melhores saídas para a solução de conflitos desta natureza ainda é o diálogo. A presidente da Pró-Mulher explica que a entidade realiza um trabalho de mediação entre as partes envolvidas e, na grande maioria dos casos, obtém sucesso, reduzindo até mesmo o número de casos que chegam à Justiça. “A mediação visa a construção de novas posturas sociais e isto permite que as pessoas envolvidas encontrem soluções para seus conflitos.”

A presidente da ONG Pró-Mulher, contudo, ressalta que o mediador não tem o poder de decidir por ninguém, “ele orienta e permite o diálogo”, diz. Para ela, o mais importante é saber que existem pessoas interessadas em combater a violência doméstica em todas suas frentes. “Precisamos ter um espírito crítico, mas também é necessário ter esperança de que as coisas possam melhorar”, finaliza.

A próxima edição do projeto Diálogos da Cidadania será realizada no dia 26 de maio, das 19 às 21h, no Espaço da Cidadania André Franco Montoro, e terá como tema o Trabalho Escravo nos dias de hoje. Mais informações pelo telefone (11) 3291-2622.

Da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania