Justiça: Instituto de Terras de São Paulo reconhece mais um quilombo no Estado

O quilombo Cangume, no município de Itaoca, abriga atualmente 36 famílias remanescentes de escravos negros

qua, 19/01/2005 - 11h48 | Do Portal do Governo

Mais uma comunidade de remanescentes de escravos negros foi reconhecida pela Fundação Instituto de Terras (Itesp), entidade vinculada à Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania. O quilombo Cangume, localizado no município de Itaoca, abriga atualmente 36 famílias (cerca de 150 pessoas) numa área de 724 hectares.

A história de Cangume vem de muito tempo, por volta de 1870, quando terminou a Guerra do Paraguai. Entre os mais velhos da comunidade há várias histórias que explicam o nome do quilombo: uma delas fala de um negro escravo que levava esse nome e que teria morrido na guerra; a outra história conta que um escravo convocado para a batalha teria sobrevivido e trazido algum dinheiro, do soldo que recebia como soldado, e com ele adquiriu as terras onde viveu a comunidade durante todos esses anos. Seu nome seria Cangume.

Desde a sua origem até os dias atuais, Cangume conseguiu manter preservados os seus costumes e tradições e é considerada uma das comunidades mais fechadas, com casamentos consangüíneos, atividades religiosas e agricultura de subsistência. Uma das poucas influências que a comunidade recebeu foi de um estudioso francês, no início do século XX, que trouxe o espiritismo da linha kardecista para a comunidade, que então deixou de seguir a umbanda e o candomblé.

A distância de Cangume com os municípios mais próximos não desanimou as autoridades estadual e municipal, que levaram até a comunidade blocos de concreto para a construção de casas de alvenaria, de uma escola, um posto de saúde, um centro comunitário, e cursos de capacitação em piscicultura e confecção de pães, com a utilização de um kit padaria doado pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (Fussesp).

O relatório técnico-científico elaborado pelo Itesp foi publicado no Diário Oficial no dia 23 de dezembro do ano passado, e significa a demarcação e o reconhecimento da comunidade quilombola. Mas ainda é necessário que o Governo Federal faça a desapropriação das terras, que são particulares, para que haja a titulação, garantindo a propriedade das terras à comunidade, como prevê dispositivo constitucional.

Cangume é a 19ª comunidade quilombola reconhecida no Estado. Outras 18 comunidades estão com trabalhos de reconhecimento em andamento ou aguardam o início dos trabalhos. A maioria das comunidades quilombolas de São Paulo está concentrada na região do Vale do Ribeira.

Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania

(LRK)