Justiça: Assentados produzem 28% da mandioca do Pontal

Com 32.678 toneladas colhidas na safra 2002/2003, produção também equivale a 5% do total do Estado

seg, 06/12/2004 - 14h02 | Do Portal do Governo

Os assentamentos rurais do Pontal do Paranapanema já respondem por 28,7% da produção total de mandioca na região, chegando a 5% da produção do Estado. Foram 32.678 toneladas produzidas na safra 2002/2003, segundo dados da Fundação Instituto de Terras (Itesp), entidade vinculada à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, e Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão da Secretaria da Agricultura.

Atualmente, a produção é vendida para 18 indústrias processadoras nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, além de 13 farinheiras artesanais mantidas pelos próprios assentados, com uma capacidade de processamento de mais de 8 toneladas/ano de farinha torrada em forno a lenha.

Uma das vantagens dessa cultura é que a colheita pode ser realizada até dois anos após o plantio. Assim, o produtor pode esperar a época em que a cotação estiver mais alta para comercializar a produção. É o caso de Pedro Antônio dos Santos, 63 anos, do assentamento Bonanza, em Rosana.

Ele obteve, só no ano passado, um retorno de R$ 40 mil, já descontados os custos, vendendo para uma fecularia do Paraná. Pedro aponta a valorização do produto como uma das explicações para o retorno. ‘Há quatro anos, a tonelada da mandioca era comercializada por R$ 30. Hoje em dia, esse valor chega a R$ 200’, conta.

O assentado iniciou o plantio com recursos provenientes do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) no valor de R$ 9,5 mil. Dos 14 hectares do seu lote, ele utiliza oito para a produção de mandioca. A cada safra, o local de plantio é alterado para permitir que a terra descanse.

Para o diretor-executivo do Itesp, Jonas Villas Bôas, a mandioca se destaca entre os produtos dos assentamentos por ser uma cultura estratégica para a agricultura familiar. ‘Em primeiro lugar, ela garante a segurança alimentar, pois é de fácil cultivo e a colheita pode ser realizada num lapso de tempo bem maior do que o da maioria das outras culturas’, explica.

Farinha

Alguns assentados vão além do simples plantio e comercialização. Buscam também agregar valor ao produto, montando farinheiras artesanais. É o caso de Valdenício Aparecido da Silva, 34 anos, do assentamento Palu, em Presidente Bernardes. Ele já investiu cerca de R$ 8 mil na construção de um galpão e compra de equipamentos para produção de farinha.

Ele explica que, atualmente, a tonelada da mandioca está sendo vendida a R$ 200, em média. Com uma tonelada, ele produz 5 sacos e meio de farinha, vendidos a R$ 90 cada, o que daria quase R$ 500. ‘É bem mais vantajoso’, conclui.

No lote de Valdenício, o Itesp implantou um campo demonstrativo com dez variedades de mandioca. Segundo o técnico em desenvolvimento agrário José Luiz Vaitkevicius, o objetivo é mostrar aos agricultores as vantagens de algumas variedades, como resistência a doenças, produtividade e adaptabilidade ao tipo de solo.

Outro diferencial que o Itesp pretende fomentar na produção de mandioca é a adubação. Metade da área destinada ao campo demonstrativo foi adubada. Na outra metade, o plantio foi feito sem qualquer adubação. O assentado já notou a diferença. ‘Com adubo ficou muito melhor. E eu gostei das variedades C14, Olho Junto e Santa Catarina. São ideais para a minha atividade, que é a produção de farinha.’

Com a produção atual, somada a outras atividades do lote, como a pecuária leiteira, Valdenício já consegue uma renda mensal de aproximadamente R$ 1,5 mil. Empreendedor, ele já planeja produzir farinha temperada. ‘A melhor coisa que me aconteceu foi ganhar essa terra’, comemora.

Os assentados que se dedicam à produção de farinha de mandioca ainda geram emprego e renda no próprio assentamento. Reginaldo Francisco de Souza, 50 anos, também morador do assentamento Palu, emprega a vizinha Euremita Oliveira de Paula, 65 anos, na fabricação do produto e também compra mandioca produzida por outros assentados.

Ele conta que mal consegue atender à demanda por farinha. ‘Faz três anos que eu só paro de trabalhar no domingo. Começo às 6h30 e vou até as 18h30. Às vezes até enjôo de tanto comprador que me procura.’

Produtividade

Outro levantamento recente do Itesp e IEA já havia mostrado que os assentamentos respondem por 48% do leite produzido no Pontal do Paranapanema. Também vem se destacando a cultura do algodão, que já chega a 27% do total produzido na região.

Para o incremento da produção leiteira, tem sido fundamental o associativismo e o cooperativismo. Em todo o Estado, já existem 131 tanques de resfriamento nos assentamentos, o que representa uma capacidade de armazenamento de 216.828 litros. Os equipamentos são adquiridos graças a parcerias com cooperativas e laticínios.

No caso da cadeia do algodão, há a necessidade de uma reorganização do setor produtivo, na avaliação do diretor adjunto de Políticas de Desenvolvimento do Itesp, Afonso Curitiba Amaral.

Ele conta que a produção já foi bem mais representativa na região, até que os Estados de Mato Grosso e Goiás passaram a cultivar a variedade delta painer, que oferece um algodão mais alto. ‘Com isso, as colheitadeiras trabalharam melhor, o que aumentou a produção naqueles Estados e derrubou o valor do algodão no mercado. Assim, as pequenas propriedades da região do Pontal ficaram desestimuladas em cultivá-lo”, explica Amaral.

Da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Justiça

M.J.