Itesp: Assentados aprendem a recuperar áreas degradadas no Pontal do Paranapanema

Trabalho vem sendo desenvolvido por meio do Sistema Agro Florestal do Instituto de Terras do Estado

seg, 21/06/2004 - 9h26 | Do Portal do Governo

Agricultores paulistas assentados na região do Pontal do Paranapanema, mais especificamente na bacia do rio, no oeste do Estado, estão aprendendo técnicas de preservação em áreas degradadas. Eles plantam mudas de árvores nativas intercaladas com espécies comerciais ou alimentícias, em regiões consideradas de conservação para fins de reflorestamento.

Esse trabalho vem sendo desenvolvido por meio do Sistema Agro Florestal (SAF) do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), informa o engenheiro florestal Marcelo Brandão José, que esteve recentemente na cidade de Campos, Estado do Rio, para mostrar aos técnicos e produtores rurais as vantagens do procedimento.

Ele relatou a experiência que técnicos do instituto e de empresas parceiras adquiriram no projeto realizado na Bacia do Rio Paranapanema. No local, há cerca de 22 mil hectares com aproximadamente 5,2 mil famílias assentadas. Dessas, 3 mil estão na área da bacia do grande rio.

O SAF faz parte de um projeto maior denominado Pontal Verde, criado em 1998 e iniciado no ano seguinte. Esse trabalho tem por objetivo levar aos assentados a importância da preservação ambiental para as futuras gerações.

Males do progresso

A região do Pontal tem grandes áreas degradadas, sem floresta nativa, apenas capim, situação causada ao longo do tempo. O local começou a ser ocupado na virada do século 19 para o 20. Depois vieram ferrovias, desmatamentos, enormes lavouras de algodão e pecuária extensiva. Esses aspectos econômico-sociais, sem medidas conservacionistas, provocaram fragilidade do solo e o fim de muitas florestas.

Pela Lei Federal nº 4.771/65, em toda a terra do sudeste brasileiro, passível de assentamento, as autoridades fundiárias têm de reservar 20% da área para conservação ou recuperação da mata nativa, o restante é dividido em lotes aos assentados. Pelo Pontal Verde, os agricultores recebem instruções, visitas, técnicas de manejo e mudas de árvores que existiam antes do desmatamento.
Ao distribuir uma área para assentamento, o Itesp reserva os 20% legais para uso comunitário, onde os agricultores fazem o plantio de espécies nativas e o cultivo de plantas comestíveis ou de fins comerciais como milho, algodão, feijão, mandioca e urucum.

Renascer da floresta

Com o passar dos anos, as espécies florestais crescem e fecham o espaço entre as fileiras. Quando a mata estiver recomposta, o agricultor ainda terá espaços para cultivar algumas plantas comestíveis que se adaptem à sombra. Existe até a possibilidade de usá-la para pastagem de bovinos. “Nesse momento, as nativas já estarão altas e não correrão perigo de serem esmagadas. Ao mesmo tempo, o boi é importante para manter o capim baixo e evitar o aparecimento de fungos”, explica Brandão.

O engenheiro observa que essas áreas de conservação são importantes numa região, como a do Pontal, onde existem usinas hidrelétricas. Ele conta que a parte degradada ou com monocultura provoca, com o passar do tempo, erosão na terra e assoreamento nos rios, prejudicando o fluxo das águas que irão gerar energia elétrica nas usinas.

A cultura de uma única espécie, como o milho, por exemplo, faz com que a água da chuva caia com força na terra, provocando enxurrada, buracos, erosões e outros malefícios ao solo e às margens do rio. Por isso, na área legal de conservação, a presença de plantas nativas, altas e baixas, reduz a força da chuva, fazendo com que o solo filtre melhor a água, haja menos enxurrada e a terra se mantenha mais sadia e fértil.

Parceiro e energia – Por ser o Pontal uma região de grande potencial hídrico, um dos maiores parceiros do Itesp é a Duke Energy Brasil, conglomerado norte-americano que participou da privatização da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e hoje administra usinas hidrelétricas no Paranapanema. Uma das preocupações da empresa é preservar o entorno do reservatório Taquaruçu.

A Duke mantém na região três viveiros, nos quais produz mudas de árvores nativas para distribuí-las aos assentados do programa SAF. Técnicos da companhia e do Itesp realizam o trabalho de conscientização entre os agricultores.

Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)