IPT: Tecnologia indiana permite gerar energia elétrica para comunidades distantes

Desenvolvida a partir de biomassa, pode reduzir em até 80% consumo do diesel em sistemas de geração de pequeno porte

sex, 28/05/2004 - 12h39 | Do Portal do Governo

Com a aguardada alta dos preços do petróleo, uma tecnologia indiana desenvolvida para produção de energia elétrica a partir da gaseificação de resíduos da madeira ou resíduos agrícolas, testada no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), pode reduzir em até 80% o consumo do diesel em sistemas de geração distribuída de energia elétrica de pequeno porte, utilizado por comunidades rurais localizadas em regiões remotas, especialmente na região amazônica brasileira, onde as distâncias tornam o custo do transporte do combustível até duas vezes mais caro que o próprio custo do produto.

Para resolver problemas muito semelhantes aos do Brasil, a Índia vem desenvolvendo unidades de pequeno porte de geração de energia elétrica a partir da biomassa, economicamente viáveis para regiões pobres, há cerca de duas décadas. Algumas operam comercialmente já há 5 anos. Os pesquisadores indianos desenvolveram gaseificadores para o acionamento de motores movidos a diesel a partir de resíduos agrícolas, galhos de árvores ou serragem.

Com o objetivo de verificar o desempenho dos gaseificadores e a viabilidade de adaptá-los à realidade brasileira, duas instituições, o BUN (Biomass Users Network do Brasil) e o CENBIO (Centro Nacional de Referência em Biomassa) importaram uma unidade de gaseificação e geração de energia elétrica desenvolvida pelo Indian Institute of Science (IISc), de Bangalore, para testá-la com biomassas regionais.

Os testes foram realizados nos Laboratórios de Combustão e Gaseificação e de Motores do IPT, com mais de 400 horas de operação do equipamento. As biomassas utilizadas foram cavaco de eucalipto, casca de cupuaçu, casca de coco de babaçu e peletes de resíduos de eucalipto.

Segundo Ademar Hakuo Ushima, pesquisador do Laboratório de Combustão e Gaseificação do Agrupamento de Engenharia Térmica, que coordena os estudos com o equipamento no âmbito do IPT, a técnica pode reduzir em até 80% o consumo de diesel utilizado na geração de energia elétrica em comunidades sem acesso à rede elétrica, empregando matéria-prima farta na região, como casca de coco, resíduos agrícolas, casca de cupuaçu e galhos finos de florestas plantadas, como as de eucaliptos, que geralmente são descartados.

O consumo de biomassa seca necessária para a produção de energia elétrica é da ordem de 1 kg/h para cada kW elétrico gerado e, neste processo, o uso do diesel não pode ser dispensado, porém seu consumo é reduzido ao mínimo, suficiente apenas para fazer o motor funcionar.

Os testes serviram também para que o IPT descobrisse a resolução de algumas falhas no processo, como por exemplo, o que fazer com a água contaminada produzida pelo equipamento na operação de lavagem dos gases. Segundo Ushima, o próprio carvão retirado do sistema pode ser usado para a limpeza da água, permitindo sua reutilização no processo de produção de energia.

Após o término da etapa de testes nos Laboratórios do IPT, terá início a etapa de testes de desempenho dos gaseificadores em campo, na comunidade de Aquidabam, a 90 km de Manaus. com os equipamentos já adaptados pelo IPT à realidade nacional. Este trabalho está sendo financiado pela FINEP, com recursos financeiro do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – FNDCT, no âmbito do Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor Elétrico. O projeto pode dar impulso ao programa de eletrificação rural que o Ministério das Minas e Energia vem procurando implantar há vários anos.

Outra aplicação desta tecnologia que pode gerar grande economia, reduzindo o consumo de derivados de petróleo, é a sua utilização para substituir o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) em indústrias de pequeno e médio porte , para fins de aquecimento, agora sem a necessidade de motores e neste caso, dispensando totalmente o diesel.

Para se ter uma idéia da economia, cada kg de GLP gasto para produzir calor, pode ser substituído por aproximadamente 3,5 kg de biomassa seca. Esta utilização se mostra particularmente interessante nos centros industriais próximos a florestas plantadas, como as que abastecem as indústrias de celulose e papel.

Da Assessoria de Imprensa do IPT

(AM)