História: Museu do Café em Santos preserva memória do principal produto paulista

Espaço mantém exposições permanentes e temporárias

seg, 31/01/2005 - 7h56 | Do Portal do Governo

Quando o assunto é café, o Brasil tem muito a dizer e a mostrar. Além da maioria dos brasileiros apreciar um bom cafezinho, o País é o maior produtor e exportador do mundo. Para mostrar a importância que essa planta teve, e que continua a ter, para economia brasileira, o Museu dos Cafés do Brasil, em Santos, faz exposições permanentes e temporárias, abertas ao público. O ponto mais procurado é a Cafeteria do Museu, onde se saboreia o café brasileiro tipo exportação.

Situada na lateral direita do hall de entrada principal, a cafeteria tem uma antiga máquina de torrefação, amostras de café e produtos a venda, provenientes de regiões onde se produz o tipo arábica (de alta qualidade) como sul de Minas, cerrado de Minas, Mogiana e Paraná. Além desses especiais, o Brasil também produz grãos do tipo robusta. As misturas entre os tipos arábica e robusta é que formam os inúmeros blends. Outro atrativo é o centro de preparação de café, onde são ministradas aulas aos baristas, profissionais entendidos na arte de preparar a bebida.

Exposições, objetos e fotos

Aberto em setembro de 1998, o museu tem o objetivo de retratar a importância do café para o desenvolvimento da cidade de Santos, do Estado de São Paulo e do País. Instalado no andar térreo do antigo prédio da Bolsa Oficial do Café, vai oferecer ao visitante livraria, biblioteca, arquivo de referência nacional com documentos e publicações referentes à temática.

É mantido pela Associação dos Amigos do Museu dos Cafés do Brasil, e está com seu projeto museológico em andamento, para ser efetivado gradativamente. Por enquanto, o acesso dos visitantes se restringe ao térreo, piso onde estão, além da cafeteria, a sala do antigo pregão, três grandes painéis pintados por Benedito Calixto e uma exposição permanente, onde funcionavam os escritórios da Bolsa Oficial de Café.

Na exposição permanente são exibidas imagens da inauguração da Bolsa Oficial de Café, em 1922, fotos de coleta de arrasto (puxa-se o galho para recolher os frutos), de armazéns e docas do início do século, do transporte de sacas de café e vistas da cidade santista. Há até uma fotografia de um carregador, que aparenta não pesar mais do que 80 quilos, levantando 302 quilos de café.

Único palácio do café

A previsão é que até o final deste semestre seja inaugurado o piso superior com o acervo de objetos ligados ao produto, por enquanto mantidos na reserva técnica. Entre os objetos a serem expostos estão balanças, telefones antigos e as famosas latinhas usadas para fazer a classificação do café. A idéia é fazer uma exposição em três módulos para explicar detalhadamente toda a história do produto.

Um dos exemplares mais significativos da arquitetura eclética remanescente do período áureo da cafeicultura no Brasil, o prédio da Bolsa Oficial foi tombado em 1981 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e em 1990 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa).

O próximo passo será transformá-lo em patrimônio nacional, informa a historiadora do museu, Roberta Costa. “Já enviamos projeto pedindo o tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para que o edifício, único palácio do mundo dedicado ao café, seja patrimônio nacional e não apenas local e estadual.”

Imagens e lembranças de um período de ouro

Tudo no prédio na Bolsa Oficial de Café sugere riqueza, a começar pelas mais de 200 portas e janelas. O edifício mais emblemático da cidade e ponto turístico foi inaugurado em 1922, ano do centenário da Independência do Brasil. Em estilo eclético e com forte inspiração no renascimento italiano, começou a ser construído em abril de 1920 pela Companhia Construtora de Santos de propriedade do engenheiro Roberto Cochrane Simonsen. Foi erguido para centralizar, organizar e controlar as operações comerciais de café.

Considerado um dos mais belos projetos arquitetônicos da cidade, a Bolsa revela a importância da atividade do comércio cafeeiro no desenvolvimento brasileiro. Em seus quatros andares foram usadas as melhores matérias-primas. A torre de 40 metros, dotada de relógio, já foi um dos pontos mais altos de Santos e as quatro estátuas externas representam a indústria, o comércio, a lavoura e a navegação.

O destaque, pela beleza da construção, é a Sala de Pregões, onde em duas sessões diárias os corretores de café faziam as negociações. O teto abobadado, em rosa e branco, exibe no centro uma clarabóia com vitral de Benedito Calixto, autor dos três afrescos em exposição que retratam fases da história de Santos, de sua fundação até o início do século 20.

Classificação de café

Mármores coloridos formam desenhos geométricos (mosaicos) no piso, mostrando em metal, no centro, as iniciais de Bolsa Oficial de Café. Foram importados da Itália, Espanha e Grécia. Cimento e ferro vieram da Inglaterra; tijolos, telhas e pisos cerâmicos, da França; e ladrilhos; da Alemanha.

As 70 cadeiras numeradas, assim como as escadarias, são de jacarandá. Em destaque no mobiliário antigo, ficava o presidente com seus dez secretários. Os demais lugares eram ocupados pelos interessados em comprar café. Em frente a elas, várias mesas onde eram colocadas as amostras de café. As amostras (com 300 g de grãos de café), eram o ponto de partida dos negócios.

Os corretores pegavam cada latinha, conferiam a qualidade do grão (quanto menos defeitos tivesse, melhor a qualidade e maior o preço), classificavam o produto e faziam a oferta. Por isso, a Sala de Pregões ficou conhecida também como sala de classificação do café; e as mesinhas, de mesa de prova. As amostras eram retiradas, de forma aleatória, de uma saca de 60 quilos escolhida, também ao acaso, em meio a toda a produção. Esse processo é o mesmo usado até hoje. Por ele, classifica-se o café em tipo B, de excelente qualidade, tipo C, de média; e tipo D, de baixa.

História preservada – Nesse local era negociado o café proveniente do interior do Estado para ser transportado pelo Porto de Santos, onde permanecia até o embarque. Foi a viagem do café saindo do centro produtor e chegando aos consumidores – Alemanha, Itália e Japão e Estados Unidos – que fez de Santos o foco de desenvolvimento regional. Santos não passava de uma pequena vila, em 1862, quando foi criada a ferrovia Santos-Jundiaí pelos ingleses, para fazer o café chegar ao litoral.

Restauração com preservação – Após a crise internacional de 1929, a Bolsa Oficial de Café foi desativada em 1937. Voltou a operar, em 1942, como Bolsa de Café e Mercadorias e os pregões terminaram em 1957. Durante todo o período em que houve pregões, era comum o público assistir às sessões no piso superior, de onde se tem uma visão ampla de todo o salão.

Com o final das negociações de café, o edifício passa a abrigar atividades burocráticas. Em 1996, tem início o processo de reforma e restauração feito pelo governo paulista e concluído em 1998. Com a restauração, o edifício da Bolsa Oficial de Café passa a abrigar nos dois primeiros andares o Museu dos Cafés do Brasil e nos dois últimos, escritórios da Secretaria Estadual da Fazenda, proprietária do imóvel.

A restauração foi motivada pelo descolamento de partes da fachada e porque o forro do terceiro pavimento cedeu vários centímetros. Mas as obras de recuperação preservaram a arquitetura original. O edifício não teve perda nem acréscimo de elementos capazes de desfigurar sua integridade espacial. As torres, cujas cúpulas são revestidas de cobre e constituem elementos marcantes na volumetria da edificação, também foram recuperadas, com a troca de todo o madeiramento estrutural. O relógio, depois de muito tempo parado, voltou a funcionar.

Serviço:

O Museu do Café fica na Rua XV de Novembro, 95, centro de Santos.
Horário: de terça a sexta-feira, das 9h30 às 16h30
No período de férias abre de terça a sábado, das 9 às 18 horas e aos domingos, das 10 às 18 horas. Aos domingos, a partir das 15 horas, a entrada é gratuita para que os visitantes possam apreciar a apresentação musical que ocorre às 15h30.
Agendamento: (13) 3219 5585
Ingresso: R$ 1,00; estudantes de escolas públicas não pagam
Site: www.museudocafe.com.br
e-mail.: museudocafe@museudocafe.br

Por Claudeci Martins, da Agência Imprensa Oficial

C.C.