HC oferece atendimento diferenciado em ortopedia para pessoas idosas

Equipes interdisciplinares acompanham os pacientes no período de internação e também em casa, durante o período de reabilitação

sex, 20/05/2005 - 11h44 | Do Portal do Governo


A constatação de que pacientes da terceira idade submetidos a cirurgias ortopédicas não voltavam para dar continuidade ao tratamento ou retornavam com o quadro clínico agravado levou à criação do Programa de Assistência Domiciliar ao Idoso (Padi), do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (HC). Foram formadas equipes interdisciplinares (médicos geriatras e ortopedistas, enfermeiras, assistentes sociais, psicólogas, fisioterapeutas e nutricionistas) para oferecer assistência diferenciada durante a internação e na fase de reabilitação.

O responsável pelo setor de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP, Luiz Eugênio Garcez Leme, é enfático: “Aqui, nós fazemos um atendimento público diferenciado. Observamos que, após a implantação da nova proposta, houve redução do tempo de internação desses pacientes”.

O pai da idéia, o professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia e presidente do Conselho Diretor do instituto, Marco Martin Amatuzzi, enfatiza: “Existem três grupos de ortopedia geriátrica no mundo: nos Estados Unidos, na Itália e no Brasil. Seria muito bom se tivéssemos mais grupos interdisciplinares desse tipo”.

Para o chefe da Ortopedia, Itiro Suzuki, a iniciativa trouxe resultados positivos não só para pacientes, mas também para os profissionais: “O fato de termos diferentes especialistas reunidos permite agilidade na troca de informações e melhor qualidade do atendimento”. Reuniões são realizadas pelo grupo duas vezes por semana. “A equipe é como uma família, mas todos aprendem muito. Existe a ‘contaminação’ positiva de conhecimentos”, brinca Garcez Leme.

A diretora técnica da Divisão de Enfermagem do instituto, Ivani Aparecida Nunes, explica: “Na implementação do programa, foi necessário rever o conceito de assistência. Além de atender o paciente, passamos a orientar também a família. E, muitas vezes, um idoso acompanha outro. Nesse caso, passamos a cuidar dos dois”. Os profissionais que realizam o tratamento domiciliar têm a incumbência de verificar a evolução do paciente e orientar sobre como deve se locomover, ter os cuidados de higiene etc. “Temos a preocupação de preservar o ambiente da família, respeitando as pessoas que passam por esse momento delicado”.

Do hospital para casa – Os pacientes atestam a eficiência do programa. Jorge Fernandes de Oliveira, de 65 anos, é comandante aposentado da Marinha Mercante e mora no Rio de Janeiro. Em São Paulo, ao visitar a filha, sofreu um acidente vascular cerebral, caiu e fraturou o fêmur. No hospital, o amplo sorriso marca a enfática declaração: “O atendimento é excelente. Se 50% do que funciona aqui, funcionasse também nos demais hospitais públicos do País, seria maravilhoso”.

Dona Benedita, de 64 anos, sofreu esmagamento do pé e passou por cirurgia. Mesmo com saudade de casa, disse estar satisfeita com a atenção recebida. Sua filha, Andrea Marciano, concorda: “Não temos do que reclamar”.

Izolete Samadello Sperto, de 84 anos, quebrou o fêmur e o pulso em uma queda, em agosto do ano passado. Fez duas cirurgias. “Nunca vi nada igual. Todos pareciam da minha família, eram atenciosos e alegres. Fiquei muito contente. Só posso dizer uma coisa: esse pessoal é espetacular”, afirma.

Sua filha, Marta Regina, conta que médico, duas assistentes sociais e fisioterapeuta acompanharam a recuperação da idosa: “Minha casa é grande, temos escada. Se eu não tivesse recebido orientação, seria muito mais difícil, não saberia como ajudar a minha mãe a locomover-se”. E complementa: “Tivemos atendimento completo. Até remédio ganhamos. Todos são maravilhosos”.

Tecnologia de ponta e precisão nas cirurgias

A preocupação em oferecer tratamento humanizado, com tecnologia de ponta, é constante no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC. Um dos bons exemplos é a utilização do aparelho Ortophilot, sistema de navegação que permite a colocação de próteses com precisão. Existem poucos no mundo, também nesse ponto o HC está na vanguarda.
O aparelho foi desenvolvido especificamente para prótese de joelho e osteotomias (secção cirúrgica de um osso). É constituído por duas câmeras de TV que ‘olham’ para três sensores ligados ao membro inferior que está sendo operado. Esses sensores transmitem as informações para um computador central, que vai programando os passos cirúrgicos.

Se o médico faz um corte ou posiciona um parafuso no lugar errado, o Orthopilot imediatamente assinala com luz vermelha. Quando o erro é corrigido, a luz se torna verde. O ortopedista Roberto Freire da Mota e Albuquerque conta que, há cinco anos, o grupo de ortopedistas do HC com especialidade em joelho foi convidado a conhecer o aparelho na fábrica, com sede na Alemanha. “Foi nessa viagem que conhecemos o Ortophilot. O equipamento foi doado pela empresa alemã em troca de participarmos de seus estudos internacionais, enviando informações sobre o acompanhamento em nossos pacientes”.

A grande vantagem desse tipo de tecnologia é que, além de aumentar a precisão da cirurgia, possibilita que o cirurgião menos experiente possa fazer o procedimento com a segurança de um veterano. Além disso, o aparelho também é útil no ensino da Ortopedia, explica o médico.

Pesquisa sobre qualidade de vida na terceira idade

O geriatra Guilherme Turolla Sguizzatto realiza desde 2001 um trabalho diferenciado, com 22 senhoras, no instituto. “Acompanho essas mulheres, acima de 60 anos, que praticam esporte com regularidade. A maioria iniciou a prática esportiva depois dos 40 anos, pelos mais variados motivos. Gostaram e hoje participam de competições”, explica o médico.

O objetivo do estudo é traçar um comparativo entre a qualidade de vida desse grupo e a de outro, com o mesmo número de integrantes, mas com hábitos sedentários: “Os resultados mostraram que as mulheres que fazem atividade física, mesmo considerando o estresse das competições, têm melhor qualidade de vida. São mulheres mais ativas, que apresentam menor incidência de depressão”.

Segundo Sguizzatto, foi possível observar que as esportistas têm interesses diferentes e que não falam apenas de doenças. “Essas mulheres também têm pressão alta, diabetes, mas mantêm uma relação diferente com a doença”, diz . E são mais animadas: “Estão sempre bem arrumadas, com seus agasalhos, mochilas, tênis e preparadas para a prática do esporte”, afirma o geriatra.

Joice Henrique
Da Agência Imprensa Oficial