Governo do Estado intensifica o combate à exclusão digital

Programa Acessa São Paulo oferece oportunidade para as comunidades de baixa renda entrarem no mundo virtual

seg, 10/09/2001 - 12h33 | Do Portal do Governo


Programa Acessa São Paulo oferece oportunidade para as comunidades de baixa renda entrarem no mundo virtual

Você já ouviu falar em exclusão digital? Quem imagina que esta expressão seja deixar o computador esquecido no armário da garagem dentro de uma caixa lacrada, ignora um problema que vem crescendo nos últimos três anos em todo o mundo.

Os avanços tecnológicos obtidos a partir de 1999, especialmente com o aumento significativo de acessos à internet, estão gerando um novo foco de exclusão social. No Estado de São Paulo, por exemplo, apenas 2% da população das classes D e E têm possibilidade de ter contato com computadores, segundo informações divulgadas pelo instituto de pesquisas Ibope, em maio de 2000.

Falar em exclusão digital em um país como o Brasil, onde existem grandes dificuldades sociais, como o analfabetismo, moradia e mortalidade infantil, pode até parecer algo fútil. Entretanto, cada vez mais o mundo entende a tecnologia de informação como uma importante ferramenta de desenvolvimento social. Por isso, governos e entidades comunitárias estão somando esforços para aumentar o número de pessoas com acesso às novas tecnologias.

O Governo do Estado de São Paulo vem investindo na informatização desde 1995. O chamado ‘governo eletrônico’ permitiu inicialmente controlar melhor os gastos e investimentos, possibilitando uma economia significativa no orçamento público.

Em um segundo momento, iniciou-se um processo de criação de serviços estaduais on line e sites contendo informações sobre as secretarias de Estado. Agora, o objetivo é estender para toda a população paulista o acesso à esta estrutura.

Programa Acessa São Paulo

Em julho do ano passado, o governador Mário Covas assinou decreto criando o Programa Acessa São Paulo, com o objetivo de instalar centros comunitários de acesso à internet em bairros periféricos da Capital e municípios do Interior.

De acordo com o coordenador deste Programa, Fernando Guarnieri, todo o esforço não teria sentido se a disponibilidade desse novo mecanismo ficasse restrita a 5% da população brasileira.

‘Tínhamos que dar um jeito de levar esses benefícios do Governo para todas as classes sociais. Daí surgiu a idéia de criar centros gratuitos de acesso à internet próximos às comunidades’, explicou.

Infocentros

Atualmente o Programa conta com cinco unidades inauguradas na Capital, chamadas de Infocentros. A meta é implantar até o fim deste ano 60 Infocentros na Capital e outros 64 no Interior.

“Queremos que até o fim de 2002, 3,5 milhões de pessoas tenham acesso à internet. Isso representa um salto de 2% para 50% entre as pessoas das classes D e E”, adiantou Guarnieri.

Ele destacou que existem 22 Infocentros totalmente equipados, aguardando apenas a configuração do acesso à internet. “Algumas destas unidades já estão realizando outras atividades de informática com a comunidade, pois os computadores já estão à disposição.”

A unidade do Jardim São Luiz, região carente da zona Sul da Capital, foi a primeira inaugurada pelo Governo do Estado, em novembro de 2000. Hoje, este Infocentro atende em média 85 pessoas por dia, oferecendo desde um primeiro contato com o computador até auxílio para a criação de home pages.

Instalado em uma sala, equipada com dez microcomputadores multimídia, uma impressora e um servidor, o Infocentro São Luiz apresenta condições excelentes para a execução do Programa.

“É um ambiente em que todos são tratados igualmente e onde eu aprendo e também ensino algumas coisas”, disse a estudante Priscila de Almeida, 16 anos. “Como já fiz curso de informática, tenho conhecimento um pouco maior e procuro ajudar no que posso”, enfatizou.

A interatividade entre os usuários é uma das propostas do programa. Cada Infocentro conta com dois monitores treinados para orientar o uso dos micros e incentivar o contato entre as pessoas. O treinamento é dado pela Escola do Futuro da Universidade de São Paulo(USP), uma das parceiras do Programa Acessa São Paulo.

De acordo com o coordenador da Escola do Futuro, Carlos Seabra, os monitores são escolhidos pela própria comunidade. “São pessoas que têm perfil para trabalhar com a população. Aqui, nós oferecemos um treinamento em informática e destacamos a importância do trabalho em conjunto”, informou.

Alguns usuários acabam se envolvendo com o projeto e realizando trabalhos voluntários nas unidades do Infocentro. É o caso da estudante Jaqueline de Lima, de 16 anos, que destina parte do seu tempo para ajudar na unidade São Luiz.

Segundo ela, os novos usuários demoram um tempo para descobrir a infinidade de coisas que a internet possibilita. “No começo, eles só querem entrar nas salas de bate-papo. Como eu ainda sou bastante jovem e fico navegando em sites de serviços ou em outros do meu interesse, eles se sentem encorajados a fazer o mesmo. Aos poucos vão vendo que a internet vai muito além do bate-papo”, analisou.

Esta também é a opinião da monitora Francinete Quintão, que ganhou um apelido carinhoso dos usuários do Infocentro São Luiz. “Eles me chamam de Net. Também, Francinete ensinando internet só poderia dar nisso”, brincou.

A monitora explicou que todos os que entram no Infocentro são orientados inicialmente a criar uma conta de e-mail pessoal. “Já as pesquisas na rede são direcionadas de acordo com os interesses de cada um. A comunidade dita as regras”, confirmou.

A função dos monitores é dar instruções e tirar dúvidas, mas não fazer as tarefas dos outros. Carlos Seabra ressaltou que respeitar a autonomia do usuário é fundamental.

“Só assim as pessoas poderão descobrir o que elas querem e precisam. Isso faz parte do processo de construção de cidadania. Elas aprendem a aprender”, disse, acrescentando que esse é um conceito usado pelas escolas mais modernas.

Objetivo é dar acesso à internet

Outra preocupação do Programa Acessa São Paulo é não ser taxado como curso. Seabra explicou que isso é importante, pois o intuito do projeto não é ensinar um determinado assunto e sim dar oportunidade de acesso à internet.

“Oitenta por cento do que é apresentado nos cursos são desperdiçados, porque a pessoa esquece. Só aproveita um curso quem já sabe mexer no equipamento. Além disso, a palavra curso gera uma falsa expectativa de emprego”, argumentou.

Fazer o próprio curriculum vitae e conhecer sites relacionados à busca de emprego e qualificações profissionais são prioridades para grande parte dos usuários. “As páginas do Poupatempo e do Detran também são bastante acessadas”, disse Francinete.

Recentemente, a monitora desenvolveu uma apostila que explica detalhadamente o universo virtual. São informações sobre o uso dos teclados, do mouse, o acesso à internet, os termos mais comuns, sites importantes, serviços virtuais e muitas outras explicações ao usuário.

Francinete distribui gratuitamente a apostila. “O índice de analfabetismo digital me deixa preocupada. O Brasil já tem um grande número de analfabetos e agora está surgindo um outro tipo de analfabetismo ainda maior”, comparou.

Parcerias

O coordenador do Acessa São Paulo informou que o Governo do Estado investe cerca de R$ 40 mil em cada Infocentro, na aquisição dos computadores, móveis e nas reformas dos locais. Cada unidade da Capital conta com dez equipamentos.

“Temos parcerias com algumas empresas. A Microsoft e a Lotus entram com os softwares, a Telefônica doa o speed e a Nexans os cabos. Também temos apoio da Imprensa Oficial do Estado, que executa o Programa; ONGs; Sebrae-SP; Banespa; Prodesp e da Escola do Futuro”, disse.

Segundo ele, os Infocentros do Interior serão implantados em parceria com as prefeituras. Os municípios de Avaré, Araçatuba, Sorocaba, Taubaté, Registro, São José dos Campos e Dracena já estão autorizados a receber os equipamentos.

“Algumas cidades precisam de apenas um ou dois micros. Já municípios com grande número populacional podem receber até 40 computadores”, disse Guarnieri. Ele destacou que cada usuário tem direito a acessar a internet por 30 minutos. “É só chegar no local portando qualquer documento e se cadastrar.”

O Governo do Estado também inaugurou recentemente um ponto de acesso à internet no Poupatempo Santo Amaro. “Este é outro projeto que faz parte do Acessa São Paulo. Vamos instalar microcomputador em todos os Poupatempos do Estado”, disse Guarnieri. Nos Poupatempos, cada usuário pode acessar à internet por quinze minutos. O próximo posto a receber os equipamentos será o de Itaquera.

Além das parcerias com a iniciativa privada, o sucesso do programa depende da participação de associações e entidades comunitárias, que cedem o local e também realizam a divulgação do trabalho.

No Infocentro São Luiz, o líder comunitário Nestor Quintos de Oliveira foi o responsável pela implantação. Para ele, num futuro bem próximo a principal fonte de informação será a internet e não mais a televisão, o rádio ou o jornal. “O Infocentro está oferecendo oportunidade para as comunidades de baixa renda evoluírem junto com a tecnologia, para não ficarem para trás”, comemorou.

De acordo com o coordenador da Escola do Futuro, Carlos Seabra, a exclusão digital só aprofunda a exclusão social e este é um aspecto perigoso na evolução tecnológica.

‘Vamos impedir que o fosso social aumente ainda mais. Evitar que haja uma alienação total de um novo mundo, que muitas pessoas ainda não enxergam. Esse é o lado da segregação tecnológica, que é terrível e perversa. O real não enxerga o virtual, mas o virtual enxerga o real e o domina”, alertou.

Rogério Vaquero

* Foto a – Infocentro São Luiz, Zona Sul da Capital

* Foto b – Usuários do Infocentro São Luiz

* Foto c – Priscila de Almeida, usuária do Infocentro São Luiz

* Foto d – Usuários do Infocentro São Luiz