Governo do Estado cria curso especial de formação para índios no Magistério

Aulas começam em maio para o primeiro grupo de 60 alunos

sex, 19/04/2002 - 12h41 | Do Portal do Governo

Um grupo de 60 índios, que ensinam sua própria cultura em escolas criadas nas aldeias indígenas do Estado de São Paulo, vão para a sala de aula se qualificar oficialmente no Magistério. Eles fazem parte da primeira turma do Curso de Formação de Professores Índios para Educação Infantil e Ciclo I (1ª a 4ª série) do Ensino Fundamental. As aulas começam em maio e serão dadas pela Faculdade de Educação da USP, em Bauru, Guarujá e Tucuruvi (Capital).

A iniciativa, sugerida pelo Núcleo de Educação Indígena, vinculado à Secretaria Estadual da Educação, visa melhorar a qualidade de atendimento aos alunos índios nas escolas criadas em reservas indígenas de São Paulo. A finalidade é possibilitar a valorização plena da cultura desses povos, além da afirmação e manutenção de suas diversidades étnicas.

Outro objetivo do projeto é assegurar aos professores índios a formação mínima exigida por lei para o exercício da docência no Ciclo I do Ensino Fundamental. Com a conclusão do curso, eles poderão integrar o quadro do magistério estadual como Professor de Educação Indígena.

Atualmente, 14 índios atuam como professores leigos em escolas de aldeias ensinando, na língua materna, tudo sobre a cultura e tradição da sua comunidade. O conhecimento universal nessas escolas é dado, em português, por professores não índios, vinculados ao quadro do magistério da rede oficial de ensino.

“Além de formar os atuais índios que atuam como professores nas aldeias, com o curso vamos conseguir ampliar esse quadro para atender em futuras escolas indígenas”, explica a coordenadora do Núcleo de Educação Indígena, Deusdith Bueno Velloso. A intenção, segundo ela, é posteriormente qualificá-los também para o Ciclo II do Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

Os resultados do Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) de 2001, informa Deusdith, apontaram que os alunos índios assimilam bem o conhecimento na escola da aldeia. A explicação pode estar na elaboração de uma proposta pedagógica que vem atendendo as necessidades da comunidade.

Curso terá duas etapas

O curso de formação de professores índios será desenvolvido com metodologia própria, preservando o caráter intercultural dos alunos, que nesta primeira turma representam as etnias Guarani, Kaingang, Krenak e Terena.

Os estudos serão realizados em duas etapas: básica e específica. Na primeira delas haverá atividades de aprendizagem e projetos de intervenção e aplicação em sala de aula. Já na fase de estudos específicos, serão desenvolvidas atividades de estudo dos conteúdos conceituais e trabalhada prática profissional supervisionada, que deverá ser realizar por meio de projetos interdisciplinares. O objetivo é adotá-los nas classes em que o aluno estiver atuando como orientador de ensino indígena.

Os primeiros 60 alunos índios do curso serão distribuídos em três turmas de 20 cada. Uma com os membros de aldeias dos municípios de Arco-Íris, Braúna e Avaí, na região oeste do Estado. A segunda turma, contará com índios das cidades de Cananéia, Pariquera-Açu, Sete Barras, Miracatu, Iguape, Peruíbe, Itanhaém e Mongaguá, na região de Registro e Litoral Sul. A turma que terá aulas na Capital está formada por membros de reservas de Bertioga e Ubatuba, além de aldeias dos bairros do Jaraguá e Parelheiros.

Gislene Lima

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