A comunidade de quilombolas de Mandira, em Cananéia, no litoral sul do Estado, encontrou na coleta de ostras uma forma de conseguir o sustento das 18 famílias que vivem no local. Hoje, a Cooperativa de Catadores de Ostras de Cananéia (Cooperostra) vende o produto embalado em caixas, para ser consumido em restaurantes ou vendido em
supermercados e peixarias do Vale do Ribeira e Baixada Santista, e planeja expandir mercado rumo à Capital.
Os mandiranos pescam os moluscos ainda pequenos, com cercad de 5 cm, e os transportam para tabuleiros de telas plásticas, próximos aos manguezais, onde foram coletados. Protegidas de predadores, as ostras engordam e crescem, atingindo quase 10 cm, e adquirem formato adequado para a venda. O processo leva meses, quase um ano. Depois, são coletadas e passadas para um local com água do mar limpa, para eliminar impurezas e torná-las comestíveis.
Respeito à natureza
O processo de criação chama-se manejo sustentável. É uma forma ecologicamente correta de explorar comercialmente as ostras sem praticar pesca predatória, o que poderia causar desaparecimento do produto no manguezal de Mandira. A iniciativa dos quilombolas teve até reconhecimento internacional. No ano passado, recebeu prêmio da organização norte-americana The Nature Conservancy, por ocasião do evento Rio+10, em Johannesburgo, África do Sul.
A Cooperostra foi criada em 1997. No início, recebeu apoio da Fundação Florestal, vinculada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, de organizações não-governamentais e também de fundações mantidas pela iniciativa privada.
Sabedoria da Lua
Os quilombolas de Mandira ainda seguem alguns costumes ancestrais para coleta das ostras. A Lua, por exemplo, controla as marés e indica o melhor horário para o trabalho nos mangues e também a armazenagem nos tabuleiros.
A criação e comercialização do produto é, sobretudo, uma maneira de a comunidade contornar as restrições impostas pela legislação ambiental que proíbe práticas antigas como extrativismo e caça. Em Mandira, a agricultura (arroz, feijão, milho, mandioca) é somente para subsistência das famílias.
A comunidade foi reconhecida como remanescentes de quilombos no ano passado. A assistência às famílias é feita pelo Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), órgão da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania. Por meio de parcerias com outras secretaria estaduais e instituições da iniciativa privada, hoje, Mandira tem escola e visita médica uma vez por mês pelo Programa de Saúde Familiar. Atualmente, o Itesp está estudando a instalação de cursos para alfabetização de adultos.
Com a iniciativa privada, o instituto mantém parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Estudantes visitaram a comunidade de Mandira quatro vezes este ano. Nos contatos, eles ensinam aos quilombolas como explorar o potencial comercial da região, como ecoturismo, venda de comidas típicas e outras estratégias para melhorar o sustento das famílias.
O fundador da comunidade, Francisco Vicente Mandira, nasceu da relação entre um senhor e sua escrava, no século XIX. Anos depois, ele recebeu a área como doação de sua meia-irmã. Eram mais de mil alqueires. Com o passar dos anos, restaram à comunidade cerca de 55 alqueires.
Da Assessoria de Imprensa do Itesp e Agência Imprensa Oficial
(LRK)