Fisiologia: Pesquisadores realizam trabalho sobre vida sedentária do brasileiro

Estudo foi realizado pela Universidade Federal de São Carlos

qua, 16/04/2003 - 10h43 | Do Portal do Governo

Do Portal da Fapesp


Quem pára com falta de ar e o coração acelerado como se estivesse a ponto de saltar pela boca após vencer a passos rápidos cinco quarteirões, pode apresentar algo mais que o simples despreparo físico, típico de alguém que leva uma vida sedentária, como 90 milhões de brasileiros.

A dificuldade de respirar e o cansaço ao fazer exercício, mais comuns a partir dos 50 anos, podem indicar que algo não anda bem com o coração ou com os pulmões, principalmente, se a pessoa pratica com regularidade alguma atividade física e, nos últimos tempos, notou que não tem mais o mesmo fôlego de antes. Em qualquer desses casos, esses sintomas transmitem um único recado do corpo: os músculos não estão recebendo a quantidade adequada de oxigênio para realizar exercícios.

Agora se tornou mais fácil identificar a causa do problema. Os pneumologistas Luiz Eduardo Nery e José Alberto Neder, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em colaboração com Brian Whipp, da Universidade de Glasgow, na Escócia, estabeleceram os parâmetros que permitem calcular a capacidade de o adulto brasileiro sedentário realizar exercício físico, como resultado de uma série de projetos financiados pela FAPESP desde 1996. Desse modo, conseguem estimar o desempenho esperado do coração, dos pulmões e dos músculos – em outras palavras, o nível de atividade física considerada normal para uma pessoa sem problemas de saúde.

Andando a passo acelerado, algo como 2 metros por segundo, um jovem saudável – com 30 anos, 70 quilos e 1,70 metro – consome cerca de 1 litro de oxigênio por minuto. Para fornecer a suas células esse volume de oxigênio, gás essencial para a transformação das reservas de açúcar em energia, esse homem respira aproximadamente 35 litros de ar nesse mesmo intervalo de tempo – o equivalente a 40% da capacidade máxima de seus pulmões. Andando a essa velocidade, o coração trabalha a uma taxa de até 135 batimentos por minuto, quase 70% de sua capacidade máxima de esforço. Se essa pessoa estiver com a saúde boa e não for sedentária, é capaz de caminhar de 2 a 3 quilômetros nesse ritmo sem sentir fadiga nem dificuldade para respirar.

Quando algo não vai bem, nas mesmas condições do exemplo anterior, a parte muscular, a cardiovascular ou a pulmonar – que atuam de forma integrada – têm de trabalhar além do limite considerado normal, que varia em função da idade, da massa corporal, da altura, do sexo e do nível de atividade física. Se o esforço permanece por um período prolongado, de cinco a dez anos, pode colocar em risco a saúde e provocar, por exemplo, danos nas artérias do coração – ou no próprio músculo cardíaco – ou levar a uma falta de ar mais intensa que limita a capacidade de realizar atividades físicas.

Conhecer a capacidade normal de fazer exercícios é essencial para os médicos descobrirem de forma mais precisa qual parte do organismo não está funcionando como esperado por meio de um exame relativamente simples, o teste de exercício cardiorrespiratório (TECR). Esse teste dura cerca de meia hora e fornece informações sobre mais de 40 parâmetros diferentes relacionados aos sistemas cardiovascular, respiratório e muscular e permite descobrir a causa do distúrbio em 80% dos casos que escapam aos exames mais simples. Nas demais situações, se não aponta a causa específica, o TECR serve como bússola, indicando aos médicos qual dos três sistemas não está bem. Possibilita ainda avaliar a evolução do tratamento e orientar os exercícios físicos mais adequados para cada pessoa.

Mais informações podem ser obtidas no site:www.revistapesquisa.fapesp.br

V.C.