Febem: Internos utilizam a terra como instrumento de trabalho e sustento

Projeto começou em julho do ano passado, quando 16 jovens transformaram uma área degradada e improdutiva em terra fértil para colheita

qui, 29/04/2004 - 16h31 | Do Portal do Governo

Coordenado pelo professor Francisco Batelochio, o projeto começou em julho do ano passado, quando 16 jovens transformaram uma área degradada e improdutiva em terra fértil para colheita. “Tivemos de retirar 150 toneladas de entulho, principalmente pedra, de um espaço de 1,5 mil metros quadrados para começar a trabalhar”, explica Francisco.

Hoje, o grupo é formado por oito garotos e o professor consegue dar melhor atenção a todos. Um deles participa desde o princípio. “Só vou parar de ajudar o professor quando ele mandar”, assegura o adolescente de 16 anos.

Eles utilizam uma área de 180 metros quadrados para cultivar moranga, abóbora, alface, batata, batata-doce, beterraba, cenoura, chicória, escarola, chuchu, couve-manteiga, espinafre, melancia, melão, camomila, erva-doce, manjericão e outras hortaliças. Já passaram pelo curso do professor Francisco mais de 12 adolescentes. Alguns saíram porque receberam alta da instituição e outros já haviam aprendido o suficiente, entrando novos interessados.

Imagem pública

O objetivo do projeto é proporcionar aos adolescentes internados na unidade capacitação profissional em agricultura, possibilitando reeducação moral e oportunidade de trabalho para quando deixarem a Febem.

Outra preocupação é ajudar a diminuir a fome dos familiares dos adolescentes internados, por meio da entrega semanal de uma cesta de verduras e de legumes. O projeto distribui 32 cestas para as famílias mais carentes que visitam os jovens nos finais de semana. “Nosso objetivo é chegarmos a 160. O fundamental no Plante Vida é o combate à fome de maneira prática e efetiva”, resume Francisco.

Para ele, cada pedaço de terra improdutiva em áreas públicas ou privadas do Estado de São Paulo poderá tornar-se aproveitável se houver a participação da iniciativa privada. “Isso permitirá, além da geração de empregos, a colheita de alimentos saudáveis destinados a creches, hospitais, escolas, penitenciárias e abrigos e o atendimento de famílias carentes.

No caso da Febem, este projeto é ambicioso. Aumenta o número de famílias assistidas com as cestas de produtos e ainda pretende oferecer ao adolescente a oportunidade de trabalhar e explorar todas as possibilidades da terra, melhorando a imagem pública interna e externa da unidade.

Parcerias promovem trabalho social

Para a assessora de parcerias da Febem, Neuza Francisco de Jesus, o projeto tem duas propostas significativas. A primeira é a questão de lidar com a terra. “Desde os primórdios, a terra sempre foi um instrumento que agrega e reúne pessoas em torno de sua vitalidade”. E a segunda proposta é a parceria das universidades Uninove, que financia o programa, e Cantareira, responsável pela parte técnica. Ambas proporcionam credibilidade aos jovens.

“O projeto é muito bom, pois além de ser uma ação de cidadania é, também, uma ação de formação. Temos orgulho de participar de um programa que traz a possibilidade de reconstruir a cidadania e o campo profissional daqueles que participam”, considera o pró-reitor da Uninove, José Rubens Jardilino. Outro aspecto importante para o pró-reitor é a quebra do mito de que as universidades apenas concorrem entre si. “Isso não é necessário, estamos mostrando que podemos trabalhar juntos, colaborando efetivamente no trabalho social.”

A Uninove oferece bolsa-auxílio de R$ 50 para cada adolescente. Com esse incentivo, valoriza sua atividade, conseguindo recuperar a auto-estima desses internos e auxiliando significativamente suas famílias. Paulo Wahler, representante da Faculdade Cantareira, explica que a universidade foi procurada para dar apoio técnico, mas não imaginava a extensão final. “Não estamos apenas qualificando esses garotos, é importante destacar o destino social do produto, que são os alimentos, às famílias carentes.”

Pão-de-abóbora

A psicóloga da Febem que coordena a parte didática do projeto, Maria Lucia Romanauskas, diz que o Plante Vida caiu como uma luva para os adolescentes. “O plantar algo na terra e colher seus frutos está relacionado com o plantar algo bom dentro de si para colher um bom futuro.”

O próximo passo, segundo Francisco, é desenvolver o trabalho com os alunos de Nutrição dos parceiros com o intuito de instituir novos hábitos alimentares, com maior aproveitamento dos alimentos, explorando o consumo do próprio fruto, talos e folhas.

A instrutora de panificação da unidade, Maria Inês da Silva, está feliz com a nova proposta. Ela diz que quando precisam de algum produto da horta os garotos colhem na hora. “Fazemos pão-de-abóbora, doces e muitas outras delícias. Depois vendemos para os próprios funcionários. Tudo que é arrecadado com a venda é retornado para o projeto para aquisição de material e sementes. Um ajuda o outro”, finaliza Maria Inês.