Febem: Ex-interno se forma em jornalismo

Após ser internado na Febem por assalto, jovem retoma estudos e apresenta pesquisa sobre influência da TV no processo de ressocialização

qua, 30/11/2005 - 13h51 | Do Portal do Governo

Ex-interno da Febem, Paulo (nome fictício) apresentou na segunda-feira, dia 28, na Faculdade Radial, Zona Sul de São Paulo, seu trabalho de conclusão de curso (TCC) para professores e alunos. O tema da pesquisa é: ‘A televisão dentro das unidades da Febem’.

Para fazer o trabalho, ele viajou à Argentina, onde entrevistou a professora e socióloga Tatiana Merlo Flores, para falar da influência desse veículo dentro de instituições de reabilitação.

Ciente de que já venceu vários obstáculos da vida, Paulo agora se prepara para publicar um livro autobiográfico, que conta como foram os dias de internação na Febem.

Vencer os preconceitos e más companhias: esses são os passos mais difíceis de serem alcançados por um jovem que deixa a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor. Os apelos para que volte ao mundo do crime são fortes. Mas, para Paulo tudo isso foi diferente.

Ao passar um tempo dentro de uma das unidades da Febem, a UIP 8, do Complexo Brás, ele percebeu que esse período foi suficiente para não querer mais voltar a cumprir uma medida socioeducativa. Não por ser maltratado pelos funcionários, mas por enxergar que aquele não era o ambiente para quem, até então, sonhava em se tornar um jornalista.

A internação serviu para que refletisse sobre a infração que cometeu e, também, para pensar seriamente sobre o que ele queria para o futuro.

Paulo foi internado na Febem após fazer um sequestro relâmpago. Foi num domingo à noite, no dia 17 de dezembro de 2000, no cruzamento da Av. Chucre Zaidan com a Av. Morumbi. Quando viu um carro de luxo parar no farol, ele se aproximou do veículo e, com um revolver calibre 38 em punho, abordou um casal distraído.

Após render as vítimas, sentou-se no banco traseiro do carro e pediu para que seguissem adiante. Quando chegaram próximo a um hipermercado, na Marginal Pinheiros, Paulo liberou as vitimas e seguiu com o carro pelas ruas da capital. Assim que entrou na Estrada de Itapecerica da Serra, zona sul da cidade, percebeu que a polícia já estava na captura.

A certeza veio quando avistou uma viatura da Rota (Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar) vindo na direção oposta da pista, bem devagar, observando, em baixa velocidade, cada veículo que circulava no local. Um pouco adiante, ele notou a existência de uma grande barreira, onde vários policiais se preparavam para agir.

Foi quando ele saiu do carro e começou a correr. Os policiais o seguiram e começaram a atirar. Ele foi atingindo nas costas e caiu, por sorte estava próximo ao Hospital do Campo Limpo e foi socorrido imediatamente.

Passou o Natal no hospital. Ficou internado por dez dias. Depois, foi transferido para a UAI (Unidade de Atendimento Inicial da Febem), onde permaneceu durante três dias. Quando chegou o Ano Novo, ele já estava na UIP 8, onde cumpriu a maior parte do período de internação na Febem.

Após cumprir a medida, Paulo, em vez de retornar aos antigos hábitos e às velhas amizades, preferiu traçar um objetivo que lhe desse a garantia de um futuro mais digno: fazer uma faculdade.

Ao contrário de muitos, que mesmo tendo a oportunidade de melhorar a vida por meio dos estudos, optam pela vida do crime, o ex-interno foi em busca de outros ideais.

No próximo mês de dezembro, se forma no curso de jornalismo. “Para mudar a nossa própria vida, é necessário querer lutar por isso. A partir daí, é só saber aproveitar as oportunidades e seguir em frente”, aconselha.

Assessoria de Imprensa da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania