Fapesp: Temperatura nos ouvidos sugere a existência de um cérebro complexo em sagüi

Registro de uma temperatura menor no tímpano direito indica que houve uma ativação maior de estruturas nervosas situadas nesse lado do cérebro

ter, 30/09/2003 - 20h14 | Do Portal do Governo

Um termômetro parecido com o usado pelas mães para medir a febre dos filhos forneceu um indício de que o cérebro de uma pequena espécie de primata encontrada no Brasil, o Callithrix penicillata , popularmente conhecida como sagüi do Cerrado, ou sagüi-dos-tufos-pretos, pode ser mais desenvolvido do que se pensava. Quando submetidos a uma situação de intensa pressão psicológica, como a captura efetuada por um ser humano com o auxílio de uma rede, alguns desses animais apresentam uma temperatura significativamente mais baixa – poucos décimos de grau Celsius a menos – no ouvido direito do que no esquerdo. ‘Esse dado sugere que o estresse provoca uma grande ativação de estruturas neurais no hemisfério direito do cérebro dos sagüis’, diz Carlos Tomaz, do Centro de Primatologia da Universidade de Brasília (UnB), principal autor do trabalho com os bichinhos, que pesam entre 250 gramas e 450 gramas e não passam de 25 centímetros de comprimento.

O registro de uma temperatura menor no tímpano direito indica que houve uma ativação maior de estruturas nervosas situadas nesse lado do cérebro. Como se deduz isso? É que as áreas ativas do cérebro são ligeiramente mais frias do que as não-ativas. Isso ocorre porque a atividade neuronal atrai um maior fluxo de sangue, o qual tem um efeito refrescante sobre as áreas ativadas. Portanto, se um evento estressante fez a temperatura do ouvido direito dos sagüis do Cerrado ser um pouco mais baixa do que a verificada no ouvido esquerdo, os pesquisadores podem deduzir que esse hemisfério cerebral, o direito, é o mais usado nesse tipo de situação. Essa conclusão leva a uma outra, ainda mais interessante.

‘Nosso trabalho é uma evidência fisiológica de que existe especialização ou assimetria cerebral nos sagüis’, afirma Tomaz. Os resultados das medições feitas pela equipe da UnB, que registrou a temperatura de 24 sagüis do Cerrado (14 machos e 10 fêmeas) mantidos em cativeiro no centro de primatas da UnB, foram publicados na edição de julho do Brazilian Journal of Medical and Biological Research .O estudo também fornece indícios de que há uma relação inversamente proporcional entre a temperatura no ouvido direito dos sagüis e o número de vezes que os animais tinham sido capturados pelo homem ao longo de sua vida.

Os macacos que haviam sido pegos entre 5 e 9 vezes tinham uma temperatura média no ouvido direito em torno dos 38o Celsius – um grau a menos do que a média dos sagüis que tinham sido capturados no máximo 4 vezes. É como se a experiência de repetidas capturas tivesse ensinado os sagüis a ativar de forma mais intensa a porção de seu cérebro envolvida na resposta ao estresse, no caso o hemisfério direito. Como se eles tivessem aprendido a acionar esse lado do cérebro em eventos ameaçadores.

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