Fapesp: Raios gama ajudam a tratar transtornos obsessivo-compulsivos

Efeitos da radiação só se tornam mais marcantes a partir do terceiro mês após a operação

qua, 05/05/2004 - 20h00 | Do Portal do Governo

A cirurgia durou cerca de 12 horas. Os preparativos para a cirurgia começaram logo pela manhã, quando os últimos exames de ressonância magnética determinaram a área exata do cérebro a ser atingida. Com o mapa em mãos, os médicos levaram o paciente à sala de operações: era um portador de um sério problema psiquiátrico, o transtorno obsessivo-compulsivo, mais conhecido como TOC, que não era controlado de nenhuma outra forma.

O paciente deitou-se na maca de uma câmara de cobalto radioativo, parecida com um aparelho de ressonância magnética, e foi sedado. Já estava dormindo quando lhe colocaram uma redoma de metal que lembra um capacete, com 201 furos milimétricos. Por esses orifícios é que passaram os raios gama vindos do aparelho, em direção a um único ponto do cérebro. A radiação, em intensidades variáveis, eliminou um grupo específico de neurônios envolvidos no problema. O paciente voltou para casa no dia seguinte, sem ter sofrido nenhum corte.

Desde dezembro, quando cinco cirurgias desse tipo foram feitas pela primeira vez no Brasil em pessoas cujos nomes são mantidos em sigilo, uma mistura de sentimentos – cautela, ansiedade e satisfação – acompanha a equipe de Eurípedes Constantino Miguel no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Embora as cinco operações tenham sido seguidas por especialistas da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, onde pelo menos 50 pessoas já passaram por esse mesmo procedimento, persiste a dúvida: será que vai dar certo? Até agora, de acordo com os primeiros exames, todos os pacientes operados passam bem.

Mas os resultados definitivos só serão conhecidos no final do ano, uma vez que os efeitos da radiação só se tornam mais marcantes a partir do terceiro mês após a operação. Se tudo correr bem nesses estudos experimentais, o grupo da USP poderá anunciar uma alternativa de tratamento para os portadores das manifestações mais graves do transtorno obsessivo-compulsivo, que afeta cerca de 2% da população mundial – no Brasil, são pouco mais de 3 milhões de pessoas com esse problema. Os pacientes operados pertencem ao grupo de cerca de 10% dos casos diagnosticados que, por alguma razão desconhecida, haviam passado por pelo menos cinco anos de tratamento sem nenhum resultado positivo.

Francisco Bicudo – Agencia Fapesp

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