Fapesp: Pesquisadores paulistas finalizam mapa genético da cana-de-açúcar

Genoma vai aperfeiçoar variedades da cana

ter, 25/11/2003 - 13h18 | Do Portal do Governo

A revista norte-americana Genome Research publicou em seu site, artigo assinado pelo professor Paulo Arruda, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Unicamp, sobre o trabalho executado por 56 pesquisadores paulistas e um grupo da Universidade Federal de Pernambuco, revelando que o projeto Genoma Cana já conseguiu identificar 32.620 genes, mais de 90% de todos os que a planta possui.

O Genoma Cana, coordenado por Arruda, contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que liberou cerca de US$ 4 milhões. Outros US$ 400 mil vieram da Cooperativa dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar). Participaram 22 grupos de pesquisa para chegar ao genoma de uma das plantas de maior valor para a economia brasileira, cultivada desde a época colonial.

Produção e resistência

Os cientistas trabalharam com fragmentos de genes conhecidos como Etiquetas de Seqüências Expressas (ESTs). “Após o processamento das seqüências, 237.954 ESTs foram identificados a partir de diferentes órgãos e tecidos da cana-de-açúcar, em vários estágios de desenvolvimento”, diz o artigo de Arruda. Dessa forma, a cana passa a ser a quinta planta com maior número de seqüências descritas, após o trigo, milho, cevada e soja.

Os dados obtidos pelo projeto, também conhecido como Sucest (de sugar cane EST), já estão sendo utilizados por diversos grupos de pesquisa, que buscam informações sobre o metabolismo da planta. Eles querem obter, por exemplo, variedades mais produtivas e resistentes à seca ou a solos com poucos nutrientes.

O professor da Unicamp, Marcelo Menossi, recorda que durante os anos de estudo os pesquisadores tiveram de contornar vários obstáculos para chegar ao resultado final. Ele conta que a grande dificuldade foi estabelecer contato entre os vários grupos de pesquisa espalhados pelo Estado, e fora também.

Outro fato interessante, foi o treino de alguns profissionais que não estavam acostumados ao estudo da genética e ainda aqueles que, embora profundos conhecedores dos genes, não tinham vivência com a informática, ferramenta indispensável aos estudos.

Menossi integrou um grupo de oito pessoas na Unicamp. Sua equipe foi encarregada do genoma funcional. Nessa atividade, eles identificavam a função que cada gene desenvolve na planta. “Foi um trabalho intenso. É o maior mapeamento genético de uma planta já feito no mundo. Isto prova que a pesquisa brasileira é de alto nível, quando financiada de maneira contínua e confiante, como fomos pela Fapesp”, ressalta Menossi.

Ele diz que a maior contribuição do genoma é fornecer informações para o aprimoramento genético da planta no Estado de São Paulo e no Brasil. “Se nosso trabalho possibilitar um aumento na produção, mesmo que seja 5%, será uma ganho enorme, pois estamos falando de milhares de toneladas e milhares de reais a mais.”

Doze variedades

Conhecendo o genoma, diz Menossi, é possível criar vários tipos de cana, adaptando-os ao clima, controle de praga, época mais propícia ao plantio e outras variações. “Existem espécies que têm alto teor de açúcar e outras com menos. Com o mapeamento genético, poderemos desenvolver plantas de acordo com o que deseja o produtor.”

Durante os anos de estudos, os grupos de pesquisadores utilizaram 12 variedades de cana-de-açúcar cultivadas em São Paulo e algumas em Alagoas (único Estado brasileiro onde a planta floresce, em razão do clima local). Na agricultura paulista, a espécie mais cultivada é a SP 80-3280, uma das pesquisadas.

Empresas criadas

O projeto Genoma Cana já deu alguns resultados. Das pesquisas, surgiram três empresas da iniciativa privada, com apoio financeiro do Grupo Votorantim: Allelyx, Scylla e CanaVialis. Na primeira, a missão é identificar os genes para produzir canas com melhores qualidades agronômicas (teor de açúcar e resistência a pragas, por exemplo). A segunda desenvolve programas de computador que tornam mais rápida a análise de dados de um projeto de genoma. Já a CanaVialis atua num mercado parecido com a Allelyx, mas num estágio mais avançado da engenharia genética.

Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)