Fapesp: Pesquisa recupera a crítica epopéia satírica de Manuel de Araújo Porto-Alegre

Revista A Lanterna Mágica foi editada no Rio de Janeiro entre 1844 e 1845

sex, 19/09/2003 - 15h06 | Do Portal do Governo

Rir é o melhor remédio, em especial para aquelas coisas que não parecem ter remédio. Esse misto de esperança idealista e cinismo pessimista alimentou uma experiência tão pioneira quanto pouco conhecida da imprensa alternativa no Brasil do século 19, a revista A Lanterna Mágica , editada no Rio de Janeiro entre 1844 e 1845, redigida solitária e anonimamente pelo escritor, pintor arquiteto, cenógrafo, poeta, dramaturgo, ensaísta e, ufa, caricaturista Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879). Em 23 números (a idéia era que durasse 366 ‘atos’), a revista, nos moldes dos trabalhos de ácida crítica social do desenhista e caricaturista francés Honoré Daumier (1808-79), apresentava as aventuras de um par de pilantras sem escrúpulos cujo propósito na vida era enriquecer da forma mais rápida possível.

‘O propósito crítico do periódico era denunciar a sociedade de seu tempo, ironizando os vícios de caráter que observava e que podemos considerar, lamentavelmente, como intemporais: especulação, corrupção, malandragem’, diz Heliana Angotti Salgueiro, curadora da mostra (e do recém-lançado catálogo da exposição) A Comédia Urbana: de Daumier a Porto-Alegre , apresentada de abril a junho no Museu de Arte Brasileira da FAAP. O interesse por Porto-Alegre foi assunto de seu pós-doutorado, em 1995, História da Arte, História da Cidade: Atores e Leituras no Brasil do Século 19 , que teve apoio da FAPESP. Para a exibição, foram reunidas mais de 240 obras, procedentes de 13 museus e bibliotecas de Paris, São Paulo, Rio e Porto Alegre.

Em A Lanterna Mágica , Porto-Alegre foi pioneiro ao incluir caricaturas para ilustrar seus textos, diálogos entre os dois personagens centrais, Laverno e Belchior dos Passos. A dupla, antepassados do heroísmo sem nenhum caráter de Macunaíma, faz de tudo para ‘se dar bem’ na capital carioca: de romancistas a médicos, passando pela política e até pela ópera, os dois fingem entender de tudo para arrancar trocados dos ‘papalvos’ da cidade. ‘Porto-Alegre queria mostrar, sob a luz de sua lanterna mágica, os personagens-tipo do seu tempo, os ‘Lavernos’ que gravitavam na sociedade do Rio de Janeiro.

Nesse sentido, ele é ‘moderno’ na clarividência dos problemas do seu país e se engajou numa série de combates, nem sempre compreendidos por seus contemporâneos’, fala a pesquisadora. ‘Afinal, após ter vivido sete anos na Paris de Balzac, Hugo, Sue, Daumier, entre outros, num universo em que a imprensa ilustrada, o romance de costumes, a industrialização e a dessacralização da imagem, pela litografia e pela caricatura, e, em especial, pelo teatro, produziam retratos de um novo tempo de comunicação que se afirmava no espaço urbano. Assim, ao voltar ao Brasil, ele estava à frente de seus compatriotas’, observa.

Carlos Haag – Pesquisa Fapesp

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