Fapesp: Método usa um pequeno fragmento de DNA para identificar espécies animais

Na natureza não há animal sem o gene citrocromo C Oxidase I

qui, 07/04/2005 - 20h03 | Do Portal do Governo

No supermercado não há produto sem um código de barras, forma de identificação composta na verdade por uma combinação de 11 dígitos. Mas cada variedade de mercadoria apresenta uma seqüência numérica específica, única e distinta da encontrada em todas as demais. Dois tipos de artigos ainda que muito parecidos, ostentam séries diferentes de algarismos. O sistema reconhece, com precisão e de forma rápida, qualquer gênero de item presente na loja. Na natureza não há animal sem o gene citrocromo C Oxidase I (COI), um dos mais estudados pela genética e localizado no genoma da mitocôndria, a usina de energia das células.

Mas, segundo alguns biólogos, cada espécie tem um pequeno fragmento do COI característico, particular e diverso do achado em todas as outras. Duas variedades de organismo, ainda que extremamente semelhantes, exibem, nesse gene, distintas seqüências de nucleotídeos, a unidade química que compõe o DNA. Tal pedaço do COI, de cerca de 650 nucleotídeos, dizem esses pesquisadores, contém a assinatura molecular de cada espécie e pode ser a base para a criação de um código de barras da vida: um sistema rápido, acurado e (relativamente) barato de identificar espécies em larga escala, sobretudo as de animais.

A idéia de implementar a taxonomia genética foi proposta há cerca de dois anos pelo biólogo Paul Hebert, da Universidade de Guelph, no Canadá. Desde então a nova forma de caracterizar e catalogar organismos ganha adeptos na comunidade científica. Em fevereiro, o Museu de História Natural de Londres sediou a primeira conferência internacional promovida pelo Consórcio para o Código de Barras da Vida, criado no ano passado para difundir a metodologia. Cerca de 200 pesquisadores de museus, zoológicos, herbários, universidades e instituições de pesquisa dos cinco continentes, inclusive do Brasil, participaram do evento.

O encontro serviu para alavancar dois projetos internacionais de peso para os próximos cinco anos: a iniciativa que vai determinar a assinatura genética das 10 mil espécies conhecidas de aves do planeta e o esforço que visa determinar o código de barras da vida de 23 mil espécies de peixes, 15 mil do mar e 8 mil de água doce. Há também iniciativas locais, como o projeto de caracterização genética das espécies de árvores da Costa Rica. ‘Estimamos que custaria cerca de US$ 1 bilhão para implementar uma biblioteca digital com o código de barras dos 10 milhões de espécies animais que devem existir, das quais conhecemos hoje apenas 10%’, afirma Hebert. ‘Seria prematuro calcular os custos da montagem de um sistema semelhante com dados de organismos de outros reinos.’

Embora faça parte do Consórcio para o Código de Barras da Vida, o Brasil ainda não está formalmente engajado em nenhum projeto de larga escala que utilize a taxonomia molecular. ‘Temos apenas iniciativas pontuais, como os estudos que fazemos em nosso laboratório com morcegos e pássaros brasileiros’, comenta o geneticista Fabrício Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que integra o consórcio e esteve na conferência de Londres. ‘Mas precisamos de uma rede nacional, como ocorreu nos projetos Genoma, que estimule a participação de várias instituições em trabalhos mais abrangentes sobre certos grupos de animais, plantas e microorganismos.’

Marcos Pivetta – Agência Fapesp

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