Fapesp: Genética se ensina na praça

Assunto foi discutido durante o 49º Congresso em Águas de Lindóia

seg, 22/09/2003 - 13h41 | Do Portal do Governo

Da Agência da Fapesp
Por Eduardo Geraque

Ele consta da Convenção sobre Diversidade Biológica e do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança. O princípio da precaução foi a grande vedete do último dia do 49º Congresso Nacional em Genética, que terminou na sexta, 19, em Águas de Lindóia (SP).

“A ciência ainda não tem resposta para tudo”, disse à Agência FAPESP Rubens Onofre Nodari, representante do Ministério do Meio Ambiente e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, um dos participantes do simpósio Liberação dos Transgênicos. “Somos totalmente favoráveis à pesquisa. O governo não é contra novas tecnologias, mas temos que avaliar os riscos ambientais que esses organismos podem causar.”

“Se acontecer algum problema futuro, é o poder público que será cobrado por ter feito isto ou aquilo”, disse. Durante sua apresentação, Nodari fez questão de mostrar que, do ponto de vista técnico, os organismos geneticamente modificados podem ser perigosos, tanto para a saúde humana como para o meio ambiente.

“Temos dados que mostram a existência de resíduos de herbicidas em grãos de soja transgênica”, disse. Em seguida, comentou que, por causa das variedades crioulas de soja que são encontradas no Brasil, a contaminação por exemplares da mesma espécie, que tenham sido modificados do ponto de vista genético, não pode ser totalmente descartada.

Os demais participantes da mesa de debatedores do simpósio foram bem menos cautelosos. Usando exemplos de outros países, e de como a soja transgênica pode ser cultivada com um uso bem menor de herbicidas, defenderam abertamente a liberação, mesmo considerando apenas o ponto de vista científico.

“Estamos com projetos parados. Estudos relativos ao feijão, à batata e ao mamão, inclusive para agricultura familiar”, disse Francisco Aragão, da Embrapa/Cenargen. Segundo ele, para obter o desenvolvimento de organismos mais resistentes a determinadas pragas, os pesquisadores recorrem à engenharia genética.

Ao encerrar sua participação no simpósio sobre transgênicos, ou organismos geneticamente modificados, Aragão preferiu usar uma frase do explorador Cristóvão Colombo, que teria sido dita em 1504. “Nada que vem do processo humano é aceito com facilidade.”

O agrônomo e professor Magno Ramalho, da Universidade Federal de Lavras, que também é representante da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), usou números do mercado externo para ilustrar a sua posição, que ressaltou ser pessoal, não das instituições que representa. “Nos Estados Unidos, onde a soja transgênica é liberada, ocorreu uma redução de custo da ordem de US$ 49,93 por hectare plantado de soja em 2001”, disse.

“Existem dois caminhos possíveis. O primeiro é simplesmente aproveitar a tecnologia. O segundo é não aproveitar e ficar pensando apenas nos riscos. O Brasil optou pela segunda opção. Estamos atrasados no campo da pesquisa genética, em relação a países como a China”, disse Ernesto Paterniani, professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”, da Universidade de São Paulo. Paterniani, que coordenou o simpósio em Águas de Lindóia, comentou ainda que “os transgênicos são apenas mais uma nova ferramenta à disposição dos geneticistas, que trabalham com melhoramento”.

Rubens Nodari fez questão de frisar que, do ponto de vista político, os esforços de desburocratização dos pedidos de licença e registros para trabalhos científicos já deram alguns resultados. “Quem quiser começar uma pesquisa hoje está liberado. Não precisa nem de licença. Só existem ressalvas em trabalhos que envolvam o uso de agrotóxicos”, disse.

Mais informações podem ser obtidas no sitewww.agencia.fapesp.br
V.C.