Fapesp: Genes explicam mistério de abelhas rainhas que não conseguem se reproduzir

O caso típico é o da Apis mellifera , da classe das abelhas com ferrão

qua, 23/11/2005 - 17h23 | Do Portal do Governo

A vida social das abelhas, como se sabe, depende da formação de duas castas do sexo feminino, as rainhas e as operárias. Esta distinção geralmente ocorre devido ao tipo de alimentação oferecido às larvas. O caso típico é o da Apis mellifera , da classe das abelhas com ferrão, a grande fornecedora de mel, cera e própolis. Algumas poucas eleitas são brindadas durante toda a fase larval com geléia real, superalimento composto por vitaminas, ácidos orgânicos essenciais e compostos protéicos. Dessa forma, tornam-se rainhas.

Vivem até cinco anos e chegam a pôr até 2 mil ovos por dia. As demais recebem a geléia real só nos primeiros três dias de existência. Tornam-se operárias, vivem bem menos – algo como 45 dias – e passam a curta existência assoberbadas por tarefas compartilhadas na colméia. As abelhas sem ferrão, nativas do Brasil, têm características sociais similares, mas apresentam diferenças na forma como a cria é alimentada. As operárias preparam as células de cria de modo peculiar. As futuras rainhas são brindadas com 2,5 a 4 vezes mais alimentos do que as futuras operárias.

A grande exceção à regra são as abelhas sem ferrão do gênero Melipona , encontradas em todos os biomas neotropicais. Nelas, todas as células de cria têm tamanho idêntico, assim como a quantidade de alimento é semelhante. Há quase um século a ciência brasileira tenta desvendar essa particularidade. Em 1903, o brasileiro Helmut von Ihering observou que havia um excesso de rainhas na cria das melíponas – na razão de uma rainha para cada três operárias.

No final dos anos 1940, o geneticista Warwick E. Kerr teorizou um modelo de genética mendeliana sugerindo que a razão observada nas castas poderia ter uma base genética. Mas isso nunca pôde ser devidamente comprovado, porque a oferta de alimentos também parecia ter um papel no desenvolvimento dessas abelhas. Quando faltava comida na colméia, o número de rainhas na cria diminuía.

E,conforme observou na década de 1970 o pesquisador Lúcio Antônio de Oliveira Campos, da Universidade Federal de Viçosa, era possível produzir uma quantidade ainda maior de rainhas quando as larvas eram tratadas com hormônio juvenil sintético. Esse hormônio típico de insetos é produzido por glândulas associadas ao cérebro. Ainda assim, embora tivessem aparência de rainhas, a maioria delas não conseguia reproduzir-se – o que só fez aumentar o enigma.

Pois esse mistério de um século começa a se desfazer com a ajuda da biologia molecular. A pesquisadora Carla Cristina Judice Maria debruçou-se sobre a Melipona quadrifasciata em sua tese de doutoramento no Departamento de Genética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), orientada por Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, coordenador do Laboratório de Genômica e Expressão da Unicamp.

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Fabrício Marques – Agência Fapesp